« Impérios e Estados no Médio Oriente » : différence entre les versions
| Ligne 401 : | Ligne 401 : | ||
A Revolução Iraniana levou ao estabelecimento de uma teocracia xiita, em que os princípios da governação islâmica, baseados na lei xiita (Sharia), foram integrados nas estruturas políticas e jurídicas do Estado. Sob a liderança do Ayatollah Khomeini, o novo regime estabeleceu uma estrutura política única conhecida como "Velayat-e Faqih" (a tutela do jurista islâmico), na qual uma autoridade religiosa suprema, o Líder Supremo, detém um poder considerável. A transição do Irão para uma teocracia conduziu a mudanças profundas em todos os aspectos da sociedade iraniana. Embora a revolução tenha contado inicialmente com o apoio de vários grupos, incluindo nacionalistas, esquerdistas e liberais, bem como de clérigos, nos anos que se seguiram assistiu-se a uma consolidação do poder nas mãos dos clérigos xiitas e a uma repressão crescente de outros grupos políticos. A natureza da República Islâmica, com a sua mistura de teocracia e democracia, continuou a ser objeto de debate e análise, tanto no Irão como a nível internacional. A revolução transformou profundamente o Irão e teve um impacto duradouro na política regional e mundial, redefinindo a relação entre religião, política e poder. | A Revolução Iraniana levou ao estabelecimento de uma teocracia xiita, em que os princípios da governação islâmica, baseados na lei xiita (Sharia), foram integrados nas estruturas políticas e jurídicas do Estado. Sob a liderança do Ayatollah Khomeini, o novo regime estabeleceu uma estrutura política única conhecida como "Velayat-e Faqih" (a tutela do jurista islâmico), na qual uma autoridade religiosa suprema, o Líder Supremo, detém um poder considerável. A transição do Irão para uma teocracia conduziu a mudanças profundas em todos os aspectos da sociedade iraniana. Embora a revolução tenha contado inicialmente com o apoio de vários grupos, incluindo nacionalistas, esquerdistas e liberais, bem como de clérigos, nos anos que se seguiram assistiu-se a uma consolidação do poder nas mãos dos clérigos xiitas e a uma repressão crescente de outros grupos políticos. A natureza da República Islâmica, com a sua mistura de teocracia e democracia, continuou a ser objeto de debate e análise, tanto no Irão como a nível internacional. A revolução transformou profundamente o Irão e teve um impacto duradouro na política regional e mundial, redefinindo a relação entre religião, política e poder. | ||
=== | === A guerra Irão-Iraque e os seus efeitos na República Islâmica === | ||
A invasão do Irão pelo Iraque em 1980, sob o regime de Saddam Hussein, desempenhou um papel paradoxal na consolidação da República Islâmica do Irão. Este conflito, conhecido como a guerra Irão-Iraque, durou de setembro de 1980 a agosto de 1988 e foi um dos mais longos e sangrentos conflitos do século XX. Na altura do ataque ao Iraque, a República Islâmica do Irão estava ainda a dar os primeiros passos, após a revolução de 1979 que derrubou a monarquia Pahlavi. O regime iraniano, liderado pelo Ayatollah Khomeini, estava em vias de consolidar o seu poder, mas enfrentava tensões e desafios internos significativos. A invasão iraquiana teve um efeito unificador no Irão, reforçando o sentimento nacional e o apoio ao regime islâmico. Confrontado com uma ameaça externa, o povo iraniano, incluindo muitos grupos que anteriormente estavam em desacordo com o governo, uniu-se em torno da defesa nacional. A guerra também permitiu que o regime de Khomeini reforçasse o seu controlo sobre o país, mobilizando a população sob a bandeira da defesa da República Islâmica e do Islão xiita. A guerra Irão-Iraque também reforçou a importância do poder religioso no Irão. O regime utilizou a retórica religiosa para mobilizar a população e legitimar as suas acções, apoiando-se no conceito de "defesa do Islão" para unir iranianos de diferentes convicções políticas e sociais. | A invasão do Irão pelo Iraque em 1980, sob o regime de Saddam Hussein, desempenhou um papel paradoxal na consolidação da República Islâmica do Irão. Este conflito, conhecido como a guerra Irão-Iraque, durou de setembro de 1980 a agosto de 1988 e foi um dos mais longos e sangrentos conflitos do século XX. Na altura do ataque ao Iraque, a República Islâmica do Irão estava ainda a dar os primeiros passos, após a revolução de 1979 que derrubou a monarquia Pahlavi. O regime iraniano, liderado pelo Ayatollah Khomeini, estava em vias de consolidar o seu poder, mas enfrentava tensões e desafios internos significativos. A invasão iraquiana teve um efeito unificador no Irão, reforçando o sentimento nacional e o apoio ao regime islâmico. Confrontado com uma ameaça externa, o povo iraniano, incluindo muitos grupos que anteriormente estavam em desacordo com o governo, uniu-se em torno da defesa nacional. A guerra também permitiu que o regime de Khomeini reforçasse o seu controlo sobre o país, mobilizando a população sob a bandeira da defesa da República Islâmica e do Islão xiita. A guerra Irão-Iraque também reforçou a importância do poder religioso no Irão. O regime utilizou a retórica religiosa para mobilizar a população e legitimar as suas acções, apoiando-se no conceito de "defesa do Islão" para unir iranianos de diferentes convicções políticas e sociais. | ||
Version du 22 décembre 2023 à 09:51
Basado en un curso de Yilmaz Özcan.[1][2]
O Médio Oriente, berço de civilizações antigas e encruzilhada de intercâmbios culturais e comerciais, desempenhou um papel central na história mundial, especialmente durante a Idade Média. Este período dinâmico e diversificado assistiu à ascensão e queda de numerosos impérios e Estados, cada um deles deixando uma marca indelével na paisagem política, cultural e social da região. Desde a expansão dos califados islâmicos, com o seu apogeu cultural e científico, até à influência prolongada do Império Bizantino, passando pelas incursões dos Cruzados e pelas conquistas mongóis, o Médio Oriente medieval foi um mosaico de poderes em constante evolução. Este período não só moldou a identidade da região, como também teve um profundo impacto no desenvolvimento da história mundial, construindo pontes entre o Oriente e o Ocidente. O estudo dos impérios e Estados do Médio Oriente na Idade Média oferece, portanto, uma janela fascinante para um período crucial da história da humanidade, revelando histórias de conquista, resistência, inovação e interação cultural.
O Império Otomano
Fundação e expansão do Império Otomano
O Império Otomano, fundado no final do século XIII, é um exemplo fascinante de um poder imperial que teve um efeito profundo na história de três continentes: Ásia, África e Europa. A sua fundação é geralmente atribuída a Osman I, chefe de uma tribo turca da região da Anatólia. O êxito deste império residiu na sua capacidade de se expandir rapidamente e de estabelecer uma administração eficaz num imenso território. A partir de meados do século XIV, os otomanos começaram a expandir o seu território na Europa, conquistando gradualmente partes dos Balcãs. Esta expansão marcou um importante ponto de viragem no equilíbrio de poderes no Mediterrâneo e na Europa Oriental. No entanto, contrariamente à crença popular, o Império Otomano não destruiu Roma. De facto, os otomanos cercaram Constantinopla, a capital do Império Bizantino, e conquistaram-na em 1453, pondo fim a esse império. Esta conquista foi um acontecimento histórico de grande importância, marcando o fim da Idade Média e o início da era moderna na Europa.
O Império Otomano é conhecido pela sua complexa estrutura administrativa e pela tolerância religiosa, nomeadamente com o sistema de millets, que permitia uma certa autonomia às comunidades não muçulmanas. O seu apogeu estendeu-se do século XV ao século XVII, período durante o qual exerceu uma influência considerável no comércio, na cultura, na ciência, na arte e na arquitetura. Os otomanos introduziram muitas inovações e foram importantes mediadores entre o Oriente e o Ocidente. No entanto, a partir do século XVIII, o Império Otomano começou a entrar em declínio face à ascensão das potências europeias e aos problemas internos. Este declínio acelerou-se no século XIX, acabando por conduzir à dissolução do império após a Primeira Guerra Mundial. O legado do Império Otomano permanece profundamente enraizado nas regiões que governou, influenciando os aspectos culturais, políticos e sociais dessas sociedades até aos dias de hoje.
O Império Otomano, uma notável entidade política e militar fundada no final do século XIII por Osman I, teve um profundo impacto na história da Eurásia. Surgido num contexto de fragmentação política e de rivalidades entre os beylicats da Anatólia, este império rapidamente demonstrou uma capacidade excecional para alargar a sua influência, posicionando-se como uma potência dominante na região. Os meados do século XIV foram um ponto de viragem decisivo para o Império Otomano, nomeadamente com a conquista de Gallipoli em 1354. Esta vitória, longe de ser um mero feito de armas, marcou o primeiro assentamento otomano permanente na Europa e abriu caminho a uma série de conquistas nos Balcãs. Estes sucessos militares, aliados a uma diplomacia hábil, permitiram aos otomanos consolidar a sua posição em territórios estratégicos e interferir nos assuntos europeus.
Sob a liderança de governantes como Mehmed II, célebre pela conquista de Constantinopla em 1453, o Império Otomano não só reformulou a paisagem política do Mediterrâneo Oriental, como também iniciou um período de profunda transformação cultural e económica. A tomada de Constantinopla, que pôs fim ao Império Bizantino, foi um momento crucial na história mundial, marcando o fim da Idade Média e o início da era moderna. O império destacou-se na arte da guerra, muitas vezes graças ao seu exército disciplinado e inovador, mas também através da sua abordagem pragmática da governação, integrando diversos grupos étnicos e religiosos sob um sistema administrativo centralizado. Esta diversidade cultural, associada à estabilidade política, favoreceu o florescimento das artes, da ciência e do comércio.
Conflitos e desafios militares do Império Otomano
Ao longo da sua história, o Império Otomano conheceu uma série de conquistas espectaculares e reveses significativos que moldaram o seu destino e o das regiões que dominou. A sua expansão, marcada por grandes vitórias, foi também pontuada por fracassos estratégicos. A incursão otomana nos Balcãs foi um dos primeiros passos da sua expansão europeia. Esta conquista não só alargou o seu território, como também reforçou a sua posição de potência dominante na região. A tomada de Istambul em 1453 por Mehmed II, conhecido como Mehmed, o Conquistador, foi um acontecimento histórico de grande importância. Esta vitória não só marcou o fim do Império Bizantino, como também simbolizou a ascensão indiscutível do Império Otomano como uma superpotência. A sua expansão continuou com a tomada do Cairo em 1517, um acontecimento crucial que marcou a integração do Egipto no império e o fim do califado abássida. Sob o comando de Solimão, o Magnífico, os otomanos conquistaram também Bagdade em 1533, alargando a sua influência às terras ricas e estratégicas da Mesopotâmia.
No entanto, a expansão otomana não foi isenta de obstáculos. O cerco de Viena em 1529, uma tentativa ambiciosa de alargar ainda mais a sua influência na Europa, acabou por fracassar. Uma nova tentativa em 1623 também falhou, marcando os limites da expansão otomana na Europa Central. Estes fracassos constituíram momentos-chave, ilustrando os limites do poder militar e logístico do Império Otomano face às defesas europeias organizadas. Outro grande revés foi a derrota na Batalha de Lepanto, em 1571. Esta batalha naval, em que a frota otomana foi derrotada por uma coligação de forças cristãs europeias, marcou um ponto de viragem no controlo otomano do Mediterrâneo. Embora o Império Otomano tenha conseguido recuperar desta derrota e manter uma forte presença na região, Lepanto simbolizou o fim da sua expansão incontestada e marcou o início de um período de rivalidades marítimas mais equilibradas no Mediterrâneo. No seu conjunto, estes acontecimentos ilustram a dinâmica da expansão otomana: uma série de conquistas impressionantes, intercaladas com desafios e reveses significativos. Estes acontecimentos põem em evidência a complexidade da gestão de um império tão vasto e a dificuldade de manter uma expansão constante face a adversários cada vez mais organizados e resistentes.
Reformas e transformações internas do Império Otomano
A Guerra Russo-Otomana de 1768-1774 foi um episódio crucial na história do Império Otomano, marcando não só o início das suas significativas perdas territoriais, mas também uma mudança na sua estrutura de legitimidade política e religiosa. O fim desta guerra foi marcado pela assinatura do Tratado de Küçük Kaynarca (ou Kutchuk-Kaïnardji) em 1774. Este tratado teve consequências de grande alcance para o Império Otomano. Em primeiro lugar, resultou na cessão de territórios importantes ao Império Russo, nomeadamente partes do Mar Negro e dos Balcãs. Esta perda não só reduziu a dimensão do Império, como também enfraqueceu a sua posição estratégica na Europa Oriental e na região do Mar Negro. Em segundo lugar, o tratado marcou um ponto de viragem nas relações internacionais da época, ao enfraquecer a posição do Império Otomano na cena europeia. O Império, que tinha sido um ator importante e muitas vezes dominante nos assuntos regionais, começou a ser visto como um Estado em declínio, vulnerável à pressão e à intervenção das potências europeias.
Por último, e talvez o mais importante, o fim desta guerra e o Tratado de Küçük Kaynarca tiveram também um impacto significativo na estrutura interna do Império Otomano. Perante estas derrotas, o Império começou a dar maior ênfase à vertente religiosa do Califado como fonte de legitimidade. O sultão otomano, já reconhecido como o líder político do império, começou a ser mais valorizado como o califa, o líder religioso da comunidade muçulmana. Esta evolução foi uma resposta à necessidade de reforçar a autoridade e a legitimidade do Sultanato face aos desafios internos e externos, apoiando-se na religião como força unificadora e fonte de poder. Assim, a Guerra Russo-Otomana e o tratado que dela resultou marcaram um ponto de viragem na história otomana, simbolizando tanto um declínio territorial como uma mudança na natureza da legitimidade imperial.
Influências estrangeiras e relações internacionais
A intervenção no Egipto em 1801, em que as forças britânicas e otomanas se uniram para expulsar os franceses, marcou um importante ponto de viragem na história do Egipto e do Império Otomano. A nomeação de Mehmet Ali, um oficial albanês, como paxá do Egipto pelos otomanos deu início a uma era de profunda transformação e semi-independência do Egipto em relação ao Império Otomano. Mehmet Ali, frequentemente considerado como o fundador do Egipto moderno, iniciou uma série de reformas radicais destinadas a modernizar o Egipto. Estas reformas afectaram vários aspectos, incluindo o exército, a administração e a economia, e foram inspiradas em parte pelos modelos europeus. Sob a sua liderança, o Egipto conheceu um desenvolvimento significativo e Mehmet Ali procurou alargar a sua influência para além do Egipto. Neste contexto, a Nahda, ou Renascença Árabe, ganhou um impulso considerável. Este movimento cultural e intelectual, que procurava revitalizar a cultura árabe e adaptá-la aos desafios modernos, beneficiou do clima de reforma e abertura iniciado por Mehmet Ali.
O filho de Mehmet Ali, Ibrahim Pasha, desempenhou um papel fundamental nas ambições expansionistas do Egipto. Em 1836, lançou uma ofensiva contra o Império Otomano, que se encontrava enfraquecido e em declínio. Este confronto culminou em 1839, quando as forças de Ibrahim infligiram uma grande derrota aos otomanos. No entanto, a intervenção das potências europeias, nomeadamente da Grã-Bretanha, da Áustria e da Rússia, impediu uma vitória total do Egipto. Sob pressão internacional, foi assinado um tratado de paz que reconhecia a autonomia de facto do Egipto sob o domínio de Mehmet Ali e dos seus descendentes. Este reconhecimento marcou um passo importante na separação do Egipto do Império Otomano, embora o Egipto continuasse nominalmente sob a suserania otomana. A posição britânica era particularmente interessante. Inicialmente aliados aos otomanos para conter a influência francesa no Egipto, acabaram por optar por apoiar a autonomia egípcia sob Mehmet Ali, reconhecendo a evolução das realidades políticas e estratégicas da região. Esta decisão reflectia o desejo britânico de estabilizar a região e, ao mesmo tempo, controlar as rotas comerciais vitais, em especial as que conduziam à Índia. O episódio egípcio nas primeiras décadas do século XIX ilustra não só a complexa dinâmica de poder entre o Império Otomano, o Egipto e as potências europeias, mas também as profundas mudanças que estavam a ocorrer na ordem política e social do Médio Oriente na época.
Modernização e movimentos de reforma
A expedição de Napoleão Bonaparte ao Egipto, em 1798, foi um acontecimento revelador para o Império Otomano, que se apercebeu do seu atraso em relação às potências europeias em termos de modernização e de capacidade militar. Esta constatação foi uma importante força motriz por detrás de uma série de reformas conhecidas como Tanzimat, lançadas em 1839 para modernizar o império e travar o seu declínio. O Tanzimat, que significa "reorganização" em turco, marcou um período de profunda transformação no Império Otomano. Um dos aspectos fundamentais destas reformas foi a modernização da organização dos dhimmis, os cidadãos não muçulmanos do império. Para o efeito, foram criados os sistemas de Millet, que proporcionavam às várias comunidades religiosas um certo grau de autonomia cultural e administrativa. O objetivo era integrar mais eficazmente estas comunidades na estrutura do Estado otomano, preservando simultaneamente as suas identidades distintas.
Foi iniciada uma segunda vaga de reformas, numa tentativa de criar uma forma de cidadania otomana que transcendesse as divisões religiosas e étnicas. No entanto, esta tentativa foi frequentemente dificultada pela violência intercomunitária, reflectindo as profundas tensões existentes no seio do império multiétnico e multiconfessional. Simultaneamente, estas reformas depararam-se com uma resistência significativa por parte de certas facções do exército, que eram hostis a mudanças consideradas uma ameaça ao seu estatuto e privilégios tradicionais. Esta resistência deu origem a revoltas e instabilidade interna, agravando os desafios que o império enfrentava.
Neste contexto tumultuoso, surgiu em meados do século XIX um movimento político e intelectual conhecido como os Jovens Otomanos. Este grupo procurou conciliar os ideais de modernização e reforma com os princípios do Islão e das tradições otomanas. Defendiam uma constituição, a soberania nacional e reformas políticas e sociais mais inclusivas. Os esforços do Tanzimat e os ideais dos Jovens Otomanos foram tentativas significativas de responder aos desafios que o Império Otomano enfrentava num mundo em rápida mudança. Embora estes esforços tenham trazido algumas mudanças positivas, também revelaram as profundas fissuras e tensões existentes no seio do império, prenunciando os desafios ainda maiores que surgiriam nas últimas décadas da sua existência.
Em 1876, a subida ao poder do sultão Abdülhamid II, que introduziu a primeira constituição monárquica do Império Otomano, constituiu uma etapa crucial do processo Tanzimat. Este período marcou um ponto de viragem significativo, tentando conciliar os princípios da modernização com a estrutura tradicional do império. A constituição de 1876 representou um esforço de modernização da administração do império e de criação de um sistema legislativo e de um parlamento, reflectindo os ideais liberais e constitucionais em voga na Europa da época. No entanto, o reinado de Abdülhamid II foi também marcado por uma forte ascensão do pan-islamismo, uma ideologia destinada a reforçar os laços entre os muçulmanos dentro e fora do império, num contexto de rivalidade crescente com as potências ocidentais.
Abdülhamid II utilizou o pan-islamismo como um instrumento para consolidar o seu poder e contrariar as influências externas. Convidou líderes e dignitários muçulmanos para Istambul e ofereceu-se para educar os seus filhos na capital otomana, uma iniciativa destinada a reforçar os laços culturais e políticos no seio do mundo muçulmano. No entanto, em 1878, numa reviravolta surpreendente, Abdülhamid II suspendeu a constituição e encerrou o parlamento, marcando o regresso ao regime autocrático. Esta decisão foi motivada, em parte, pelo receio de um controlo insuficiente do processo político e pela ascensão de movimentos nacionalistas no seio do império. O Sultão reforçou assim o seu controlo direto sobre o governo, continuando a promover o pan-islamismo como forma de legitimação.
Neste contexto, o salafismo, movimento que visa o regresso às práticas do Islão da primeira geração, foi influenciado pelos ideais do pan-islamismo e da Nahda (Renascença Árabe). Jamal al-Din al-Afghani, frequentemente considerado como o precursor do movimento salafista moderno, desempenhou um papel fundamental na divulgação destas ideias. Al-Afghani defendia o regresso aos princípios originais do Islão, encorajando simultaneamente a adoção de certas formas de modernização tecnológica e científica. O período do Tanzimat e o reinado de Abdülhamid II ilustram assim a complexidade das tentativas de reforma do Império Otomano, dividido entre as exigências da modernização e a manutenção das estruturas e ideologias tradicionais. O impacto deste período fez-se sentir muito para além da queda do Império, influenciando os movimentos políticos e religiosos em todo o mundo muçulmano moderno.
Declínio e queda do Império Otomano
A "questão oriental", termo utilizado sobretudo no século XIX e no início do século XX, refere-se a um debate complexo e multidimensional sobre o futuro do Império Otomano, em declínio gradual. Esta questão surgiu na sequência das sucessivas perdas territoriais do Império, da emergência do nacionalismo turco e da crescente separação dos territórios não muçulmanos, nomeadamente nos Balcãs. Logo em 1830, com a independência da Grécia, o Império Otomano começou a perder os seus territórios europeus. Esta tendência continuou com as Guerras dos Balcãs e acelerou durante a Primeira Guerra Mundial, culminando no Tratado de Sèvres, em 1920, e na fundação da República da Turquia, em 1923, sob a liderança de Mustafa Kemal Atatürk. Estas perdas alteraram profundamente a geografia política da região.
Neste contexto, o nacionalismo turco ganhou força. Este movimento procurou redefinir a identidade do império em torno do elemento turco, em contraste com o modelo multiétnico e multi-religioso que prevalecia até então. Esta ascensão do nacionalismo foi uma resposta direta ao desmantelamento gradual do império e à necessidade de forjar uma nova identidade nacional. Ao mesmo tempo, surgiu a ideia de formar uma espécie de "internacional do Islão", nomeadamente sob o impulso do sultão Abdülhamid II com o seu pan-islamismo. Esta ideia previa a criação de uma união ou cooperação entre as nações muçulmanas, inspirada em algumas ideias semelhantes na Europa, onde o internacionalismo procurava unir os povos para além das fronteiras nacionais. O objetivo era criar uma frente unida dos povos muçulmanos para resistir à influência e à intervenção das potências ocidentais, preservando os interesses e a independência dos territórios muçulmanos.
No entanto, a concretização desta ideia revelou-se difícil devido à diversidade de interesses nacionais, às rivalidades regionais e à crescente influência das ideias nacionalistas. Além disso, os desenvolvimentos políticos, nomeadamente a Primeira Guerra Mundial e a ascensão de movimentos nacionalistas em várias partes do Império Otomano, tornaram a visão de uma "internacional do Islão" cada vez mais inatingível. A Questão do Oriente no seu conjunto reflecte, pois, as profundas transformações geopolíticas e ideológicas que ocorreram na região durante este período, marcando o fim de um império multiétnico e o nascimento de novos Estados-nação com as suas próprias identidades e aspirações nacionais.
A "Weltpolitik" ou política mundial adoptada pela Alemanha no final do século XIX e início do século XX desempenhou um papel crucial na dinâmica geopolítica que envolveu o Império Otomano. Esta política, iniciada sob o reinado do Kaiser Wilhelm II, tinha como objetivo alargar a influência e o prestígio da Alemanha na cena internacional, nomeadamente através da expansão colonial e de alianças estratégicas. O Império Otomano, que procurava escapar à pressão da Rússia e da Grã-Bretanha, encontrou na Alemanha um aliado potencialmente útil. Esta aliança foi simbolizada, em particular, pelo projeto de construção do caminho de ferro Berlim-Bagdade (BBB). Este caminho de ferro, destinado a ligar Berlim a Bagdade via Bizâncio (Istambul), tinha uma importância estratégica e económica considerável. Destinava-se não só a facilitar o comércio e as comunicações, mas também a reforçar a influência alemã na região e a contrabalançar os interesses britânicos e russos no Médio Oriente.
Para os panturquistas e os apoiantes do Império Otomano, a aliança com a Alemanha era vista com bons olhos. Os panturquistas, que defendiam a unidade e a solidariedade dos povos de língua turca, viam nesta aliança uma oportunidade para reforçar a posição do Império Otomano e contrariar as ameaças externas. A aliança com a Alemanha constituía uma alternativa à pressão das potências tradicionais, como a Rússia e a Grã-Bretanha, que há muito influenciavam a política e os assuntos otomanos. Esta relação entre o Império Otomano e a Alemanha atingiu o seu auge durante a Primeira Guerra Mundial, quando as duas nações se aliaram nas Potências Centrais. Esta aliança teve consequências importantes para o Império Otomano, tanto a nível militar como político, e desempenhou um papel importante nos acontecimentos que acabaram por conduzir à dissolução do Império após a guerra. A Weltpolitik alemã e o projeto ferroviário Berlim-Bagdade foram elementos fundamentais da estratégia do Império Otomano para preservar a sua integridade e independência face à pressão das grandes potências. Este período marcou um momento importante na história do Império, ilustrando a complexidade das alianças e dos interesses geopolíticos no início do século XX.
O ano de 1908 marcou uma viragem decisiva na história do Império Otomano com o início do segundo período constitucional, desencadeado pelo movimento dos Jovens Turcos, representado principalmente pelo Comité de União e Progresso (CUP). Este movimento, inicialmente formado por oficiais e intelectuais otomanos reformistas, procurava modernizar o Império e salvá-lo do colapso.
Sob a pressão do CUP, o sultão Abdülhamid II foi obrigado a restabelecer a Constituição de 1876, suspensa desde 1878, o que marcou o início do segundo período constitucional. Esta restauração da constituição foi vista como um passo para a modernização e democratização do Império, com a promessa de direitos civis e políticos mais alargados e o estabelecimento de um governo parlamentar. No entanto, este período de reformas deparou-se rapidamente com grandes desafios. Em 1909, os círculos conservadores e religiosos tradicionais, insatisfeitos com as reformas e com a crescente influência dos unionistas, tentaram um golpe de Estado para derrubar o governo constitucional e restabelecer a autoridade absoluta do Sultão. Esta tentativa foi motivada pela oposição à rápida modernização e às políticas seculares promovidas pelos Jovens Turcos, bem como pelo receio de perda de privilégios e de influência. No entanto, os Jovens Turcos, utilizando este episódio de contrarrevolução como pretexto, conseguiram esmagar a resistência e consolidar o seu poder. Este período foi marcado pelo aumento da repressão contra os opositores e pela centralização do poder nas mãos da CUP.
Em 1913, a situação culminou com a tomada do Parlamento pelos líderes da CUP, um acontecimento frequentemente descrito como um golpe de Estado. Este facto marcou o fim da breve experiência constitucional e parlamentar do Império e a instauração de um regime cada vez mais autoritário liderado pelos Jovens Turcos. Sob o seu domínio, o Império Otomano assistiu a reformas substanciais, mas também a políticas mais centralizadoras e nacionalistas, lançando as bases para os acontecimentos que se desenrolariam durante e após a Primeira Guerra Mundial. Este período tumultuoso reflecte as tensões e as lutas internas do Império Otomano, dividido entre as forças da mudança e da tradição, lançando as bases para as transformações radicais que se seguiriam nos últimos anos do império.
Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano levou a cabo o que é hoje amplamente reconhecido como o genocídio arménio, um episódio trágico e negro da História. Esta política envolveu a deportação sistemática, o massacre e a morte em massa da população arménia que vivia no Império. A campanha contra os arménios começou com detenções, execuções e deportações em massa. Homens, mulheres, crianças e idosos arménios foram forçados a abandonar as suas casas e enviados em marchas da morte através do deserto da Síria, onde muitos morreram de fome, sede, doença ou violência. Muitas comunidades arménias, que tinham uma longa e rica história na região, foram destruídas.
As estimativas do número de vítimas variam, mas acredita-se geralmente que entre 800 000 e 1,5 milhões de arménios morreram durante este período. O genocídio teve um impacto duradouro na comunidade arménia mundial e continua a ser um tema de grande sensibilidade e controvérsia, nomeadamente devido à negação ou minimização destes acontecimentos por parte de alguns grupos. O genocídio arménio é frequentemente considerado um dos primeiros genocídios modernos e serviu de precursor obscuro de outras atrocidades em massa ocorridas durante o século XX. Desempenhou também um papel fundamental na formação da identidade arménia moderna, continuando a memória do genocídio a ser um elemento central da consciência arménia. O reconhecimento e a comemoração destes acontecimentos continuam a ser uma questão importante nas relações internacionais, nomeadamente nos debates sobre os direitos humanos e a prevenção do genocídio.
O Império Persa
Origens e conclusão do Império Persa
A história do Império Persa, atualmente conhecido como Irão, caracteriza-se por uma impressionante continuidade cultural e política, apesar das mudanças dinásticas e das invasões estrangeiras. Esta continuidade é um elemento-chave para compreender a evolução histórica e cultural da região.
O Império Medo, fundado no início do século VII a.C., foi uma das primeiras grandes potências da história do Irão. Este império desempenhou um papel crucial no lançamento das bases da civilização iraniana. No entanto, foi derrubado por Ciro II da Pérsia, também conhecido como Ciro, o Grande, por volta de 550 a.C. A conquista da Média por Ciro marcou o início do Império Aqueménida, um período de grande expansão e influência cultural. Os Aqueménidas criaram um vasto império que se estendia desde o Indo até à Grécia e o seu reinado caracterizou-se por uma administração eficiente e por uma política de tolerância em relação às diferentes culturas e religiões existentes no império. A queda deste império foi provocada por Alexandre, o Grande, em 330 a.C., mas este facto não pôs fim à continuidade cultural persa.
Após um período de domínio helenístico e de fragmentação política, surgiu a dinastia sassânida em 224 d.C.. Fundada por Ardashir I, marcou o início de uma nova era para a região, que durou até 624 d.C. Sob o domínio dos sassânidas, o Grande Irão conheceu um período de renascimento cultural e político. A capital, Ctesiphon, tornou-se um centro de poder e de cultura, reflectindo a grandeza e a influência do império. Os Sassânidas desempenharam um papel importante no desenvolvimento da arte, da arquitetura, da literatura e da religião na região. Defenderam o zoroastrismo, que teve uma profunda influência na cultura e identidade persas. O seu império foi marcado por conflitos constantes com o Império Romano e, mais tarde, com o Império Bizantino, culminando em guerras dispendiosas que enfraqueceram ambos os impérios. A queda da dinastia Sassânida ocorreu na sequência das conquistas muçulmanas do século VII, mas a cultura e as tradições persas continuaram a influenciar a região, mesmo em períodos islâmicos posteriores. Esta resiliência e capacidade de integrar novos elementos, preservando simultaneamente um núcleo cultural distinto, está no cerne da noção de continuidade da história persa.
O Irão sob o Islão: Conquistas e Transformações
A partir de 642, o Irão entrou numa nova era da sua história com o início do período islâmico, na sequência das conquistas muçulmanas. Este período marcou um ponto de viragem significativo não só na história política da região, mas também na sua estrutura social, cultural e religiosa. A conquista do Irão pelos exércitos muçulmanos começou pouco depois da morte do profeta Maomé, em 632. Em 642, com a tomada da capital sassânida Ctesiphon, o Irão ficou sob o controlo do nascente Império Islâmico. Esta transição foi um processo complexo, que envolveu conflitos militares e negociações. Sob o domínio muçulmano, o Irão sofreu profundas alterações. O Islão tornou-se gradualmente a religião dominante, substituindo o Zoroastrismo, que tinha sido a religião do Estado nos impérios anteriores. No entanto, esta transição não se fez de um dia para o outro, tendo havido um período de coexistência e interação entre as diferentes tradições religiosas.
A cultura e a sociedade iranianas foram profundamente influenciadas pelo Islão, mas também exerceram uma influência significativa no mundo islâmico. O Irão tornou-se um importante centro da cultura e do conhecimento islâmicos, com contribuições notáveis em domínios como a filosofia, a poesia, a medicina e a astronomia. Figuras icónicas do Irão, como o poeta Rumi e o filósofo Avicena (Ibn Sina), desempenharam um papel fundamental no património cultural e intelectual islâmico. Este período foi também marcado por sucessivas dinastias, como os Omíadas, os Abássidas, os Safáridas, os Samânidas, os Boiadas e, mais tarde, os Seljúcidas, que contribuíram para a riqueza e diversidade da história iraniana. Cada uma destas dinastias trouxe as suas próprias nuances à governação, à cultura e à sociedade da região.
Surgimento e influência dos Sefevides
Em 1501, um acontecimento importante na história do Irão e do Médio Oriente teve lugar quando o Xá Ismail I estabeleceu o Império Sefevídeo no Azerbaijão. Este facto marcou o início de uma nova era não só para o Irão, mas para toda a região, com a introdução do xiismo duodecimano como religião do Estado, uma mudança que influenciou profundamente a identidade religiosa e cultural do Irão. O Império Sefevídeo, que reinou até 1736, desempenhou um papel crucial na consolidação do Irão como uma entidade política e cultural distinta. O Xá Ismail I, um líder carismático e poeta talentoso, conseguiu unificar várias regiões sob o seu controlo, criando um Estado centralizado e poderoso. Uma das suas decisões mais significativas foi a imposição do xiismo duodecimal como religião oficial do império, um ato que teve profundas implicações para o futuro do Irão e do Médio Oriente.
Esta "xiitização" do Irão, que envolveu a conversão forçada das populações sunitas e de outros grupos religiosos ao xiismo, foi uma estratégia deliberada para diferenciar o Irão dos seus vizinhos sunitas, nomeadamente o Império Otomano, e para consolidar o poder dos sefevides. Esta política também teve o efeito de reforçar a identidade xiita do Irão, que se tornou uma caraterística distintiva da nação iraniana até aos dias de hoje. Sob o domínio dos sefevides, o Irão viveu um período de renascimento cultural e artístico. A capital, Isfahan, tornou-se um dos mais importantes centros de arte, arquitetura e cultura do mundo islâmico. Os Sefevides incentivaram o desenvolvimento das artes, incluindo a pintura, a caligrafia, a poesia e a arquitetura, criando um legado cultural rico e duradouro. No entanto, o império foi também marcado por conflitos internos e externos, incluindo guerras contra o Império Otomano e os uzbeques. Estes conflitos, juntamente com os desafios internos, acabaram por contribuir para o declínio do império no século XVIII.
A Batalha de Chaldiran, que teve lugar em 1514, é um acontecimento significativo na história do Império Sefardita e do Império Otomano, marcando não só um ponto de viragem militar, mas também a formação de uma importante linha de divisão política entre os dois impérios. Nesta batalha, as forças sefarditas, lideradas pelo Xá Ismail I, enfrentaram o exército otomano sob o comando do Sultão Selim I. Os sefevides, embora valentes em combate, foram derrotados pelos otomanos, em grande parte devido à superioridade tecnológica destes últimos, nomeadamente a utilização eficaz da artilharia. Esta derrota teve consequências importantes para o Império Sefardita. Um dos resultados imediatos da Batalha de Chaldiran foi a perda de um território significativo para os Sefevides. Os otomanos conseguiram apoderar-se da metade oriental da Anatólia, reduzindo consideravelmente a influência sefevídea na região. Esta derrota estabeleceu também uma fronteira política duradoura entre os dois impérios, que se tornou um importante marco geopolítico na região. A derrota dos sefevides teve igualmente repercussões para os alevitas, uma comunidade religiosa que apoiava o Xá Ismail I e a sua política de xiitização. Na sequência da batalha, muitos alevitas foram perseguidos e massacrados na década seguinte, devido à sua fidelidade ao Xá Sefevide e às suas crenças religiosas distintas, que estavam em desacordo com as práticas sunitas dominantes no Império Otomano.
Após a sua vitória em Chaldiran, o Sultão Selim I continuou a sua expansão e, em 1517, conquistou o Cairo, pondo fim ao Califado Abássida. Esta conquista não só estendeu o Império Otomano até ao Egipto, como também reforçou a posição do Sultão como líder muçulmano influente, uma vez que assumiu o título de Califa, simbolizando a autoridade religiosa e política sobre o mundo muçulmano sunita. A Batalha de Chaldiran e as suas consequências ilustram, portanto, a intensa rivalidade entre as duas grandes potências muçulmanas da época, moldando significativamente a história política, religiosa e territorial do Médio Oriente.
A dinastia Qajar e a modernização do Irão
Em 1796, o Irão assistiu ao aparecimento de uma nova dinastia governante, a dinastia Qajar (ou Kadjar), fundada por Agha Mohammad Khan Qajar. De origem turcomana, esta dinastia substituiu a dinastia Zand e governou o Irão até ao início do século XX. Agha Mohammad Khan Qajar, depois de unificar várias facções e territórios no Irão, proclamou-se Xá em 1796, marcando o início oficial do governo Qajar. Este período foi significativo por várias razões na história do Irão. Sob o domínio dos Qajars, o Irão viveu um período de centralização do poder e de consolidação territorial, após anos de tumultos e divisões internas. A capital foi transferida de Shiraz para Teerão, que se tornou o centro político e cultural do país. Este período foi também marcado por relações internacionais complexas, nomeadamente com as potências imperialistas da época, a Rússia e a Grã-Bretanha. Os Qajars tiveram de navegar num ambiente internacional difícil, com o Irão frequentemente envolvido nas rivalidades geopolíticas das grandes potências, em especial no "Grande Jogo" entre a Rússia e a Grã-Bretanha. Estas interacções conduziram frequentemente à perda de território e a importantes concessões económicas e políticas para o Irão.
Do ponto de vista cultural, o período Qajar é conhecido pela sua arte caraterística, nomeadamente a pintura, a arquitetura e as artes decorativas. A corte de Qajar era um centro de patrocínio artístico e este período assistiu a uma mistura única de estilos tradicionais iranianos com influências europeias modernas. No entanto, a dinastia Qajar foi também criticada pela sua incapacidade de modernizar efetivamente o país e de satisfazer as necessidades da sua população. Este fracasso levou ao descontentamento interno e lançou as bases para os movimentos de reforma e as revoluções constitucionais que ocorreram no início do século XX. A dinastia Qajar representa um período importante da história iraniana, marcado por esforços de centralização do poder, desafios diplomáticos e contribuições culturais significativas, mas também por lutas internas e pressões externas que moldaram o desenvolvimento subsequente do país.
O Irão no século XX: rumo a uma monarquia constitucional
Em 1906, o Irão viveu um momento histórico com o início do seu período constitucional, um passo importante na modernização política do país e na luta pela democracia. Esta evolução foi largamente influenciada por movimentos sociais e políticos que exigiam uma limitação do poder absoluto do monarca e uma governação mais representativa e constitucional. A Revolução Constitucional Iraniana levou à adoção da primeira Constituição do país em 1906, marcando a transição do Irão para uma monarquia constitucional. Esta constituição previa a criação de um parlamento, ou Majlis, e estabelecia leis e estruturas para modernizar e reformar a sociedade e o governo iranianos. No entanto, este período foi também marcado pela interferência estrangeira e pela divisão do país em esferas de influência. O Irão foi envolvido nas rivalidades entre a Grã-Bretanha e a Rússia, que procuravam alargar a sua influência na região. Estas potências estabeleceram diferentes "ordens internacionais" ou zonas de influência, limitando a soberania do Irão.
A descoberta de petróleo em 1908-1909 veio dar uma nova dimensão à situação no Irão. A descoberta, feita na região de Masjed Soleyman, atraiu rapidamente a atenção das potências estrangeiras, em especial da Grã-Bretanha, que procurava controlar os recursos petrolíferos do Irão. Esta descoberta aumentou consideravelmente a importância estratégica do Irão na cena internacional e complicou também a dinâmica interna do país. Apesar destas pressões externas e dos interesses associados aos recursos naturais, o Irão manteve uma política de neutralidade, nomeadamente durante conflitos mundiais como a Primeira Guerra Mundial. Esta neutralidade foi, em parte, uma tentativa de preservar a sua autonomia e resistir às influências estrangeiras que procuravam explorar os seus recursos e controlar a sua política. O início do século XX foi um período de mudança e de desafios para o Irão, caracterizado por esforços de modernização política, pela emergência de novos desafios económicos com a descoberta de petróleo e pela navegação num ambiente internacional complexo.
O Império Otomano na Primeira Guerra Mundial
Manobras diplomáticas e formação de alianças
A entrada do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, em 1914, foi precedida por um período de complexas manobras diplomáticas e militares que envolveram várias grandes potências, incluindo a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha. Depois de explorar potenciais alianças com a Grã-Bretanha e a França, o Império Otomano acabou por optar por uma aliança com a Alemanha. Esta decisão foi influenciada por vários factores, incluindo os laços militares e económicos pré-existentes entre os otomanos e a Alemanha, bem como a perceção das intenções das outras grandes potências europeias.
Apesar desta aliança, os otomanos estavam relutantes em entrar diretamente no conflito, conscientes das suas dificuldades internas e limitações militares. No entanto, a situação alterou-se com o incidente dos Dardanelos. Os otomanos utilizaram navios de guerra (alguns dos quais tinham sido adquiridos à Alemanha) para bombardear os portos russos no Mar Negro. Esta ação levou o Império Otomano a entrar na guerra ao lado das Potências Centrais e contra os Aliados, nomeadamente a Rússia, a França e a Grã-Bretanha.
Em resposta à entrada do Império Otomano na guerra, os britânicos lançaram a Campanha dos Dardanelos em 1915. O objetivo era tomar o controlo dos Dardanelos e do Bósforo, abrindo uma rota marítima para a Rússia. No entanto, a campanha terminou em fracasso para as forças aliadas e resultou em pesadas baixas para ambos os lados. Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha formalizou o seu controlo sobre o Egipto, proclamando o Protetorado Britânico do Egipto em 1914. Esta decisão foi motivada por razões estratégicas, em grande parte para assegurar o Canal do Suez, um ponto de passagem vital para as rotas marítimas britânicas, particularmente para o acesso às colónias na Ásia. Estes acontecimentos ilustram a complexidade da situação geopolítica no Médio Oriente durante a Primeira Guerra Mundial. As decisões tomadas pelo Império Otomano tiveram implicações importantes, não só para o seu próprio império, mas também para a configuração do Médio Oriente no período pós-guerra.
A Revolta Árabe e a Mudança da Dinâmica no Médio Oriente
Durante a Primeira Guerra Mundial, os Aliados procuraram enfraquecer o Império Otomano abrindo uma nova frente no sul, o que levou à famosa Revolta Árabe de 1916. Esta revolta foi um momento-chave na história do Médio Oriente e marcou o início do movimento nacionalista árabe. Hussein ben Ali, o Xerife de Meca, desempenhou um papel central nesta revolta. Sob a sua liderança, e com o encorajamento e apoio de figuras como T.E. Lawrence, conhecido como Lawrence da Arábia, os árabes insurgiram-se contra o domínio otomano na esperança de criar um Estado árabe unificado. Esta aspiração à independência e à unificação foi motivada por um desejo de libertação nacional e pela promessa de autonomia feita pelos britânicos, em particular pelo general Henry MacMahon.
A Revolta Árabe teve vários êxitos significativos. Em junho de 1917, Faisal, filho de Hussein ben Ali, venceu a batalha de Aqaba, um ponto de viragem estratégico da revolta. Esta vitória abriu uma frente crucial contra os otomanos e reforçou o moral das forças árabes. Com a ajuda de Lawrence da Arábia e de outros oficiais britânicos, Faisal conseguiu unir várias tribos árabes no Hijaz, o que conduziu à libertação de Damasco em 1917. Em 1920, Faisal proclamou-se rei da Síria, afirmando a aspiração árabe à autodeterminação e à independência. No entanto, as suas ambições depararam-se com a realidade da política internacional. Os Acordos Sykes-Picot de 1916, um acordo secreto entre a Grã-Bretanha e a França, já tinham dividido grande parte do Médio Oriente em zonas de influência, minando as esperanças de um grande reino árabe unificado. A Revolta Árabe foi um fator decisivo para o enfraquecimento do Império Otomano durante a guerra e lançou as bases do nacionalismo árabe moderno. No entanto, no período do pós-guerra, assistiu-se à divisão do Médio Oriente em vários Estados-nação sob mandato europeu, o que fez com que a concretização de um Estado árabe unificado, tal como previsto por Hussein ben Ali e pelos seus apoiantes, ficasse muito distante.
Desafios internos e genocídio arménio
A Primeira Guerra Mundial foi marcada por desenvolvimentos complexos e dinâmicas em mutação, nomeadamente a retirada da Rússia do conflito na sequência da Revolução Russa de 1917. Esta retirada teve implicações significativas para o desenrolar da guerra e para as outras potências beligerantes. A retirada da Rússia aliviou a pressão sobre as Potências Centrais, em especial sobre a Alemanha, que podia agora concentrar as suas forças na Frente Ocidental contra a França e os seus aliados. Esta mudança preocupou a Grã-Bretanha e os seus aliados, que procuravam formas de manter o equilíbrio de poderes.
No que diz respeito aos judeus bolcheviques, é importante notar que as revoluções russas de 1917 e a ascensão do bolchevismo foram fenómenos complexos, influenciados por vários factores dentro da Rússia. Embora houvesse judeus entre os bolcheviques, como em muitos movimentos políticos da época, a sua presença não deve ser interpretada de forma excessiva ou utilizada para promover narrativas simplistas ou anti-semitas. No que diz respeito ao Império Otomano, Enver Pasha, um dos líderes do movimento dos Jovens Turcos e Ministro da Guerra, desempenhou um papel fundamental na condução da guerra. Em 1914, lançou uma desastrosa ofensiva contra os russos no Cáucaso, que resultou numa grande derrota para os otomanos na Batalha de Sarikamish.
A derrota de Enver Pasha teve consequências trágicas, incluindo a eclosão do genocídio arménio. À procura de um bode expiatório para explicar a derrota, Enver Pasha e outros líderes otomanos acusaram a minoria arménia do império de conluio com os russos. Estas acusações alimentaram uma campanha de deportações, massacres e extermínios sistemáticos contra os arménios, que culminou no que é hoje reconhecido como o genocídio arménio. Este genocídio representa um dos episódios mais negros da Primeira Guerra Mundial e da história do Império Otomano, pondo em evidência os horrores e as consequências trágicas de um conflito em grande escala e de políticas de ódio étnico.
Resolução do pós-guerra e redefinição do Médio Oriente
A Conferência de Paz de Paris, que teve início em janeiro de 1919, foi um momento crucial na redefinição da ordem mundial após a Primeira Guerra Mundial. A conferência reuniu os líderes das principais potências aliadas para discutir os termos da paz e o futuro geopolítico, incluindo os territórios do Império Otomano, que se encontrava em declínio. Uma das principais questões debatidas na conferência dizia respeito ao futuro dos territórios otomanos no Médio Oriente. Os Aliados estavam a considerar a possibilidade de redesenhar as fronteiras da região, influenciados por várias considerações políticas, estratégicas e económicas, incluindo o controlo dos recursos petrolíferos. Embora a conferência permitisse, teoricamente, que as nações envolvidas apresentassem os seus pontos de vista, na prática, várias delegações foram marginalizadas ou as suas exigências ignoradas. Por exemplo, a delegação egípcia, que pretendia discutir a independência do Egipto, enfrentou obstáculos, ilustrados pelo exílio de alguns dos seus membros em Malta. Esta situação reflecte a dinâmica desigual de poder na conferência, em que prevaleceram frequentemente os interesses das potências europeias predominantes.
Faisal, filho de Hussein bin Ali e líder da Revolta Árabe, desempenhou um papel importante na conferência. Representou os interesses árabes e defendeu o reconhecimento da independência e da autonomia árabes. Apesar dos seus esforços, as decisões tomadas na conferência não satisfizeram plenamente as aspirações árabes a um Estado independente e unificado. Faisal criou um Estado na Síria, proclamando-se Rei da Síria em 1920. No entanto, as suas ambições tiveram vida curta, pois a Síria foi colocada sob mandato francês após a Conferência de San Remo, em 1920, uma decisão que fazia parte da divisão do Médio Oriente entre as potências europeias, em conformidade com os acordos Sykes-Picot de 1916. A Conferência de Paris e os seus resultados tiveram, portanto, profundas implicações para o Médio Oriente, lançando as bases de muitas das tensões e conflitos regionais que continuam até hoje. As decisões tomadas reflectiram os interesses das potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial, muitas vezes em detrimento das aspirações nacionais dos povos da região.
O acordo entre Georges Clemenceau, em representação da França, e Faisal, líder da Revolta Árabe, bem como as discussões em torno da criação de novos Estados no Médio Oriente, são elementos-chave do período pós-Primeira Guerra Mundial que moldaram a ordem geopolítica da região. O acordo Clemenceau-Fayçal foi considerado muito favorável à França. Fayçal, que procurava assegurar uma forma de autonomia para os territórios árabes, teve de fazer concessões significativas. A França, que tinha interesses coloniais e estratégicos na região, aproveitou a sua posição na Conferência de Paris para afirmar o seu controlo, nomeadamente sobre territórios como a Síria e o Líbano. A delegação libanesa obteve o direito de criar um Estado separado, o Grande Líbano, sob mandato francês. Esta decisão foi influenciada pelas aspirações das comunidades cristãs maronitas do Líbano, que pretendiam criar um Estado com fronteiras alargadas e um certo grau de autonomia sob a tutela francesa. Relativamente à questão curda, foram feitas promessas de criação de um Curdistão. Estas promessas constituíam, em parte, um reconhecimento das aspirações nacionalistas curdas e um meio de enfraquecer o Império Otomano. No entanto, a implementação desta promessa revelou-se complexa e foi largamente ignorada nos tratados do pós-guerra.
Todos estes elementos convergiram no Tratado de Sèvres, em 1920, que formalizou o desmembramento do Império Otomano. Este tratado redesenhou as fronteiras do Médio Oriente, criando novos Estados sob mandatos franceses e britânicos. O tratado previa também a criação de uma entidade curda autónoma, embora esta disposição nunca tenha sido aplicada. O Tratado de Sèvres, embora nunca tenha sido totalmente ratificado e tenha sido substituído pelo Tratado de Lausana em 1923, foi um momento decisivo na história da região. Lançou as bases da estrutura política moderna do Médio Oriente, mas também lançou as sementes de muitos conflitos futuros, devido à ignorância das realidades étnicas, culturais e históricas da região.
Transição para a República e ascensão de Atatürk
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano, enfraquecido e sob pressão, aceitou assinar o Tratado de Sèvres em 1920. Este tratado, que desmantelou o Império Otomano e redistribuiu os seus territórios, parecia marcar o fim da longa "Questão Oriental" relativa ao destino do império. No entanto, longe de pôr fim às tensões na região, o Tratado de Sèvres exacerbou os sentimentos nacionalistas e deu origem a novos conflitos.
Na Turquia, formou-se uma forte resistência nacionalista, liderada por Mustafa Kemal Atatürk, em oposição ao Tratado de Sèvres. Este movimento nacionalista opunha-se às disposições do tratado, que impunham graves perdas territoriais e aumentavam a influência estrangeira no território otomano. A resistência lutou contra vários grupos, incluindo os arménios, os gregos da Anatólia e os curdos, com o objetivo de forjar um novo Estado-nação turco homogéneo. A Guerra da Independência Turca que se seguiu foi um período de intensos conflitos e de recomposição territorial. As forças nacionalistas turcas conseguiram fazer recuar os exércitos gregos na Anatólia e contrariar os outros grupos rebeldes. Esta vitória militar foi um elemento fundamental para a fundação da República da Turquia em 1923.
Na sequência destes acontecimentos, o Tratado de Sèvres foi substituído pelo Tratado de Lausana em 1923. Este novo tratado reconheceu as fronteiras da nova República da Turquia e anulou as disposições mais punitivas do Tratado de Sèvres. O Tratado de Lausana marcou uma etapa importante no estabelecimento da Turquia moderna como um Estado soberano e independente, redefinindo o seu papel na região e nos assuntos internacionais. Estes acontecimentos não só redesenharam o mapa político do Médio Oriente, como também marcaram o fim do Império Otomano e abriram um novo capítulo na história da Turquia, com repercussões que continuam a influenciar a região e o mundo até aos dias de hoje.
Abolição do califado e suas repercussões
A abolição do califado em 1924 foi um acontecimento importante na história moderna do Médio Oriente, marcando o fim de uma instituição islâmica que tinha durado séculos. A decisão foi tomada por Mustafa Kemal Atatürk, o fundador da República da Turquia, no âmbito das suas reformas para secularizar e modernizar o novo Estado turco. A abolição do califado constituiu um golpe na estrutura tradicional da autoridade islâmica. O califa era considerado o chefe espiritual e temporal da comunidade muçulmana (ummah) desde o tempo do Profeta Maomé. Com a abolição do Califado, esta instituição central do Islão sunita desapareceu, deixando um vazio na liderança muçulmana.
Em resposta à abolição do Califado pela Turquia, Hussein ben Ali, que se tinha tornado rei de Hijaz após a queda do Império Otomano, proclamou-se califa. Hussein, membro da família hachemita e descendente direto do Profeta Maomé, procurou reclamar esta posição para manter uma forma de continuidade espiritual e política no mundo muçulmano. No entanto, a pretensão de Hussein ao califado não foi amplamente reconhecida e teve uma vida curta. A sua posição foi enfraquecida por desafios internos e externos, incluindo a oposição da família Saud, que controlava grande parte da Península Arábica. A ascensão dos Saud, sob a liderança de Abdelaziz Ibn Saud, acabou por conduzir à conquista de Hijaz e à criação do Reino da Arábia Saudita. A destituição de Hussein bin Ali pelos sauditas simbolizou a mudança radical de poder na Península Arábica e marcou o fim das suas ambições de califado. Este acontecimento também pôs em evidência as transformações políticas e religiosas em curso no mundo muçulmano, marcando o início de uma nova era em que a política e a religião começariam a seguir caminhos mais distintos em muitos países muçulmanos.
O período que se seguiu à Primeira Guerra Mundial foi crucial para a redefinição política do Médio Oriente, com intervenções significativas das potências europeias, nomeadamente da França e da Grã-Bretanha. Em 1920, ocorreu um acontecimento importante na Síria, que marcou um ponto de viragem na história da região. Faisal, filho de Hussein ben Ali e figura central da Revolta Árabe, tinha estabelecido um reino árabe na Síria após a queda do Império Otomano, aspirando a realizar o sonho de um Estado árabe unificado. No entanto, as suas ambições esbarraram com a realidade dos interesses coloniais franceses. Após a batalha de Maysaloun, em julho de 1920, os franceses, agindo ao abrigo do mandato da Liga das Nações, tomaram o controlo de Damasco e desmantelaram o Estado árabe de Faisal, pondo fim ao seu reinado na Síria. Esta intervenção francesa reflectiu a complexa dinâmica do período do pós-guerra, em que as aspirações nacionais dos povos do Médio Oriente eram frequentemente ofuscadas pelos interesses estratégicos das potências europeias. Fayçal, deposto do seu trono sírio, encontrou, no entanto, um novo destino no Iraque. Em 1921, sob os auspícios britânicos, foi instalado como o primeiro rei da monarquia hachemita do Iraque, uma ação estratégica dos britânicos para assegurar uma liderança favorável e a estabilidade nesta região rica em petróleo.
Ao mesmo tempo, na Transjordânia, outra manobra política foi posta em prática pelos britânicos. Para contrariar as aspirações sionistas na Palestina e manter o equilíbrio do seu mandato, criaram o Reino da Transjordânia em 1921 e instalaram Abdallah, outro filho de Hussein ben Ali. Esta decisão destinava-se a dar a Abdallah um território para governar, mantendo a Palestina sob controlo direto dos britânicos. A criação da Transjordânia foi um passo importante na formação do moderno Estado da Jordânia e ilustrou a forma como os interesses coloniais moldaram as fronteiras e as estruturas políticas do Médio Oriente moderno. Estes desenvolvimentos na região após a Primeira Guerra Mundial demonstram a complexidade da política do Médio Oriente no período entre guerras. As decisões tomadas pelas potências europeias por procuração, influenciadas pelos seus próprios interesses estratégicos e geopolíticos, tiveram consequências duradouras, lançando as bases das estruturas estatais e dos conflitos que continuam a afetar o Médio Oriente. Estes acontecimentos põem também em evidência a luta entre as aspirações nacionais dos povos da região e as realidades do domínio colonial europeu, um tema recorrente na história do Médio Oriente no século XX.
Conferência de San Remo
A Conferência de San Remo, realizada em abril de 1920, foi um momento decisivo na história do pós-Primeira Guerra Mundial, em especial no Médio Oriente. Centrou-se na atribuição de mandatos sobre as antigas províncias do Império Otomano, na sequência da sua derrota e desmembramento. Nesta conferência, as potências aliadas vitoriosas decidiram a distribuição dos mandatos. A França obteve o mandato sobre a Síria e o Líbano, assumindo assim o controlo de duas regiões estrategicamente importantes e culturalmente ricas. Por seu lado, os britânicos receberam mandatos sobre a Transjordânia, a Palestina e a Mesopotâmia, esta última rebaptizada de Iraque. Estas decisões reflectiam os interesses geopolíticos e económicos das potências coloniais, nomeadamente em termos de acesso aos recursos e de controlo estratégico.
Paralelamente a estes desenvolvimentos, a Turquia, sob a liderança de Mustafa Kemal Atatürk, estava empenhada num processo de redefinição nacional. Após a guerra, a Turquia procurou estabelecer novas fronteiras nacionais. Este período foi marcado por conflitos trágicos, nomeadamente o esmagamento dos arménios, que se seguiu ao genocídio arménio perpetrado durante a guerra. Em 1923, após vários anos de luta e de negociações diplomáticas, Mustafa Kemal Atatürk conseguiu renegociar os termos do Tratado de Sèvres, imposto à Turquia em 1920 e considerado humilhante e inaceitável pelos nacionalistas turcos. O Tratado de Lausana, assinado em julho de 1923, substituiu o Tratado de Sèvres e reconheceu a soberania e as fronteiras da nova República da Turquia. Este tratado marcou o fim oficial do Império Otomano e lançou as bases do Estado turco moderno.
O Tratado de Lausana é considerado um grande êxito para Mustafa Kemal e para o movimento nacionalista turco. Não só redefiniu as fronteiras da Turquia, como também permitiu à nova república começar de novo na cena internacional, liberta das restrições do Tratado de Sèvres. Estes acontecimentos, desde a Conferência de San Remo até à assinatura do Tratado de Lausana, tiveram um impacto profundo no Médio Oriente, moldando as fronteiras nacionais, as relações internacionais e a dinâmica política da região durante décadas.
Promessas dos Aliados e exigências dos árabes
Durante a Primeira Guerra Mundial, o desmantelamento e a divisão do Império Otomano estiveram no centro das preocupações das potências aliadas, principalmente da Grã-Bretanha, da França e da Rússia. Estas potências, na expetativa de uma vitória sobre o Império Otomano, aliado das Potências Centrais, começaram a planear a divisão dos seus vastos territórios.
Em 1915, enquanto decorria a Primeira Guerra Mundial, tiveram lugar negociações cruciais em Constantinopla, envolvendo representantes da Grã-Bretanha, França e Rússia. Estas discussões centraram-se no futuro dos territórios do Império Otomano, então aliado das Potências Centrais. O Império Otomano, enfraquecido e em declínio, era visto pelos Aliados como um território a dividir em caso de vitória. Estas negociações em Constantinopla foram fortemente motivadas por interesses estratégicos e coloniais. Cada potência procurava alargar a sua influência na região, que era estrategicamente importante devido à sua posição geográfica e aos seus recursos. A Rússia estava particularmente interessada em controlar os estreitos do Bósforo e dos Dardanelos, essenciais para o seu acesso ao Mediterrâneo. A França e a Grã-Bretanha, por seu lado, procuravam expandir os seus impérios coloniais e garantir o seu acesso aos recursos da região, nomeadamente ao petróleo. No entanto, é importante notar que, embora estas discussões tenham tido um impacto significativo no futuro dos territórios otomanos, os acordos mais significativos e pormenorizados relativos à sua divisão foram formalizados mais tarde, nomeadamente no acordo Sykes-Picot de 1916.
O Acordo Sykes-Picot de 1916, celebrado pelo diplomata britânico Mark Sykes e pelo diplomata francês François Georges-Picot, representa um momento-chave na história do Médio Oriente, influenciando profundamente a configuração geopolítica da região após a Primeira Guerra Mundial. Este acordo foi concebido para definir a divisão dos territórios do Império Otomano entre a Grã-Bretanha, a França e, em certa medida, a Rússia, embora a participação russa tenha sido anulada pela Revolução Russa de 1917. O Acordo Sykes-Picot estabeleceu zonas de influência e controlo para a França e a Grã-Bretanha no Médio Oriente. Nos termos deste acordo, a França deveria obter controlo ou influência direta sobre a Síria e o Líbano, enquanto a Grã-Bretanha deveria ter um controlo semelhante sobre o Iraque, a Jordânia e uma área em torno da Palestina. No entanto, este acordo não definiu com exatidão as fronteiras dos futuros Estados, deixando essa questão para negociações e acordos posteriores.
A importância do acordo Sykes-Picot reside no seu papel de "génese" das memórias colectivas relativas ao espaço geográfico do Médio Oriente. Simboliza a intervenção imperialista e as manipulações das potências europeias na região, muitas vezes à revelia das identidades étnicas, religiosas e culturais locais. Embora o acordo tenha influenciado a criação de Estados no Médio Oriente, as fronteiras reais desses Estados foram determinadas por equilíbrios de poder subsequentes, negociações diplomáticas e realidades geopolíticas que evoluíram após a Primeira Guerra Mundial. As consequências do acordo Sykes-Picot reflectiram-se nos mandatos da Liga das Nações atribuídos à França e à Grã-Bretanha após a guerra, levando à formação de vários Estados modernos do Médio Oriente. No entanto, as fronteiras traçadas e as decisões tomadas ignoraram frequentemente as realidades étnicas e religiosas no terreno, lançando as sementes de futuros conflitos e tensões na região. O legado do acordo continua a ser um tema de debate e descontentamento no Médio Oriente contemporâneo, simbolizando as intervenções e divisões impostas por potências estrangeiras.
Este mapa ilustra a divisão dos territórios do Império Otomano, tal como estabelecido nos acordos Sykes-Picot de 1916 entre a França e a Grã-Bretanha, com zonas de administração direta e zonas de influência.
A "Zona Azul", que representa a administração direta francesa, abrangia as regiões que viriam a ser a Síria e o Líbano. Isto mostra que a França pretendia exercer um controlo direto sobre os centros urbanos estratégicos e as regiões costeiras. A "Zona Vermelha", sob administração direta britânica, englobava o futuro Iraque, com cidades-chave como Bagdade e Bassorá, bem como o Kuwait, que era representado de forma isolada. Esta zona reflectia o interesse britânico nas regiões produtoras de petróleo e a sua importância estratégica como porta de entrada para o Golfo Pérsico. A "Zona Castanha", que representa a Palestina (incluindo locais como Haifa, Jerusalém e Gaza), não está explicitamente definida no Acordo Sykes-Picot em termos de controlo direto, mas está geralmente associada à influência britânica. Mais tarde, tornou-se um mandato britânico e o foco de tensões e conflitos políticos em resultado da Declaração Balfour e do movimento sionista.
As "Áreas Árabes A e B" eram regiões onde a autonomia árabe deveria ser reconhecida sob supervisão francesa e britânica, respetivamente. Este facto foi interpretado como uma concessão às aspirações árabes de alguma forma de autonomia ou independência, que tinham sido encorajadas pelos Aliados durante a guerra para ganhar o apoio árabe contra o Império Otomano. O que este mapa não mostra é a complexidade e as múltiplas promessas feitas pelos Aliados durante a guerra, que eram muitas vezes contraditórias e levaram a sentimentos de traição entre as populações locais depois de o acordo ter sido revelado. O mapa representa uma simplificação dos acordos Sykes-Picot, que, na realidade, eram muito mais complexos e sofreram alterações ao longo do tempo em resultado da evolução política, dos conflitos e da pressão internacional.
A revelação dos acordos Sykes-Picot pelos bolcheviques russos após a Revolução Russa de 1917 teve um impacto retumbante, não só na região do Médio Oriente, mas também na cena internacional. Ao exporem estes acordos secretos, os bolcheviques procuraram criticar o imperialismo das potências ocidentais, nomeadamente da França e da Grã-Bretanha, e demonstrar o seu próprio empenhamento nos princípios da autodeterminação e da transparência. Os acordos Sykes-Picot não foram o início, mas antes o culminar de um longo processo da "Questão Oriental", uma questão diplomática complexa que preocupou as potências europeias ao longo do século XIX e início do século XX. Este processo dizia respeito à gestão e partilha de influência sobre os territórios do Império Otomano em declínio, e os acordos Sykes-Picot foram um passo decisivo neste processo.
Ao abrigo destes acordos, foi estabelecida uma zona de influência francesa na Síria e no Líbano, enquanto a Grã-Bretanha ganhou controlo ou influência sobre o Iraque, a Jordânia e uma região em torno da Palestina. O objetivo era criar zonas-tampão entre as esferas de influência das grandes potências, incluindo entre os britânicos e os russos, que tinham interesses concorrentes na região. Esta configuração foi, em parte, uma resposta à dificuldade de coabitação entre estas potências, como demonstrado pela sua concorrência na Índia e noutros locais. A publicação dos acordos Sykes-Picot provocou uma forte reação no mundo árabe, onde foram vistos como uma traição às promessas feitas aos líderes árabes durante a guerra. Esta revelação exacerbou os sentimentos de desconfiança em relação às potências ocidentais e alimentou as aspirações nacionalistas e anti-imperialistas na região. O impacto destes acordos ainda hoje se faz sentir, uma vez que lançaram as bases das modernas fronteiras do Médio Oriente e da dinâmica política que continua a influenciar a região.
O Genocídio Arménio
Antecedentes históricos e início do genocídio (1915-1917)
A Primeira Guerra Mundial foi um período de intensos conflitos e convulsões políticas, mas foi também marcado por um dos acontecimentos mais trágicos do início do século XX: o genocídio arménio. Este genocídio foi perpetrado pelo governo dos Jovens Turcos do Império Otomano entre 1915 e 1917, embora os actos de violência e deportação tenham começado antes e continuado depois destas datas.
Durante este período trágico, os arménios otomanos, um grupo étnico cristão minoritário do Império Otomano, foram sistematicamente alvo de campanhas de deportação forçada, execuções em massa, marchas da morte e fomes planeadas. As autoridades otomanas, utilizando a guerra como cobertura e pretexto para resolver o que consideravam ser um "problema arménio", orquestraram estas acções com o objetivo de eliminar a população arménia da Anatólia e de outras regiões do Império. As estimativas do número de vítimas variam, mas é amplamente aceite que cerca de 1,5 milhões de arménios pereceram. O genocídio arménio deixou uma marca profunda na memória colectiva arménia e teve um impacto duradouro na comunidade arménia mundial. É considerado um dos primeiros genocídios modernos e ensombrou as relações turco-arménias durante mais de um século.
O reconhecimento do genocídio arménio continua a ser uma questão sensível e controversa. Muitos países e organizações internacionais reconheceram formalmente o genocídio, mas persistem alguns debates e tensões diplomáticas, nomeadamente com a Turquia, que contesta a caraterização dos acontecimentos como genocídio. O genocídio arménio teve também implicações para o direito internacional, influenciando o desenvolvimento da noção de genocídio e motivando esforços para evitar tais atrocidades no futuro. Este acontecimento sombrio sublinha a importância da memória histórica e do reconhecimento das injustiças do passado para a construção de um futuro comum baseado na compreensão e na reconciliação.
Raízes históricas da Arménia
O povo arménio tem uma história rica e antiga, que remonta a muito antes da era cristã. Segundo a tradição nacionalista e a mitologia arménias, as suas raízes remontam a 200 a.C., ou mesmo antes. Esta afirmação é apoiada por provas arqueológicas e históricas que mostram que os arménios ocuparam o planalto arménio durante milénios. A Arménia histórica, frequentemente designada por Alta Arménia ou Grande Arménia, situava-se numa área que incluía partes da atual Turquia oriental, Arménia, Azerbaijão, Geórgia, o atual Irão e Iraque. Esta região foi o berço do reino de Urartu, considerado um precursor da antiga Arménia, que floresceu entre o século IX e o século VI a.C. O reino da Arménia foi formalmente estabelecido e reconhecido no início do século VI a.C., após a queda de Urartu e através da integração no Império Aqueménida. Atingiu o seu apogeu durante o reinado de Tigre, o Grande, no século I a.C., quando se expandiu brevemente para formar um império que se estendia desde o Mar Cáspio até ao Mediterrâneo.
A profundidade histórica da presença arménia na região é também ilustrada pela adoção precoce do cristianismo como religião do Estado em 301 d.C., tornando a Arménia o primeiro país a fazê-lo oficialmente. Os arménios mantiveram uma identidade cultural e religiosa distinta ao longo dos séculos, apesar das invasões e do domínio de vários impérios estrangeiros. Esta longa história forjou uma forte identidade nacional que sobreviveu ao longo dos tempos, mesmo perante graves dificuldades, como o genocídio arménio no início do século XX. As narrativas mitológicas e históricas arménias, embora por vezes embelezadas por um espírito nacionalista, baseiam-se numa história real e significativa que contribuiu para a riqueza cultural e a resistência do povo arménio.
Arménia, o primeiro Estado cristão
A Arménia detém o título histórico de ser o primeiro reino a adotar oficialmente o cristianismo como religião de Estado. Este acontecimento monumental teve lugar em 301 d.C., durante o reinado do rei Tiridates III, e foi largamente influenciado pela atividade missionária de São Gregório, o Iluminador, que se tornou o primeiro chefe da Igreja arménia. A conversão do Reino da Arménia ao cristianismo precedeu a do Império Romano, que, sob o imperador Constantino, começou a adotar o cristianismo como religião dominante após o Édito de Milão, em 313 d.C. A conversão da Arménia foi um processo significativo que influenciou profundamente a identidade cultural e nacional do povo arménio. A adoção do cristianismo levou ao desenvolvimento da cultura e da arte religiosa arménias, incluindo a arquitetura única das igrejas e mosteiros arménios, bem como à criação do alfabeto arménio por São Mesrop Mashtots, no início do século V. Este alfabeto permitiu o florescimento da literatura arménia, incluindo a tradução da Bíblia e de outros textos religiosos importantes, contribuindo assim para reforçar a identidade cristã arménia. A posição da Arménia como primeiro Estado cristão teve também implicações políticas e geopolíticas, uma vez que se encontrava frequentemente na fronteira de grandes impérios concorrentes e rodeada de vizinhos não cristãos. Esta distinção contribuiu para moldar o papel e a história da Arménia ao longo dos séculos, tornando-a um ator importante na história do cristianismo e na história regional do Médio Oriente e do Cáucaso.
A história da Arménia após a adoção do cristianismo como religião oficial foi complexa e frequentemente tumultuosa. Após vários séculos de conflitos com os impérios vizinhos e períodos de relativa autonomia, os arménios sofreram uma grande mudança com as conquistas árabes no século VII.
Com a rápida difusão do Islão após a morte do profeta Maomé, as forças árabes conquistaram vastas áreas do Médio Oriente, incluindo grande parte da Arménia, por volta de 640 d.C. Neste período, a Arménia ficou dividida entre a influência bizantina e o califado árabe, o que resultou numa divisão cultural e política da região arménia. Durante o período de domínio árabe e, mais tarde, durante o Império Otomano, os arménios, enquanto cristãos, foram geralmente classificados como "dhimmis" - uma categoria protegida, mas inferior, de não muçulmanos ao abrigo da lei islâmica. Este estatuto conferia-lhes um certo grau de proteção e permitia-lhes praticar a sua religião, mas estavam também sujeitos a impostos específicos e a restrições sociais e legais. A maior parte da Arménia histórica ficou presa entre os impérios otomano e russo no século XIX e no início do século XX. Durante este período, os arménios procuraram preservar a sua identidade cultural e religiosa, ao mesmo tempo que enfrentavam desafios políticos cada vez maiores.
Durante o reinado do Sultão Abdülhamid II (finais do século XIX), o Império Otomano adoptou uma política pan-islamista, procurando unir os diversos povos muçulmanos do império em resposta ao declínio do poder otomano e às pressões internas e externas. Esta política exacerbou frequentemente as tensões étnicas e religiosas no seio do Império, levando à violência contra os arménios e outros grupos não muçulmanos. Os massacres de Hamidian, no final do século XIX, em que foram mortos dezenas de milhares de arménios, são um exemplo trágico da violência que precedeu e prefigurou o genocídio arménio de 1915. Estes acontecimentos evidenciaram as dificuldades enfrentadas pelos arménios e outras minorias num império que procurava a unidade política e religiosa face ao nacionalismo emergente e ao declínio imperial.
O Tratado de San Stefano e o Congresso de Berlim
O Tratado de San Stefano, assinado em 1878, foi um momento crucial para a questão arménia, que se tornou um assunto de interesse internacional. O tratado foi celebrado no final da Guerra Russo-Turca de 1877-1878, que se caracterizou por uma derrota significativa do Império Otomano às mãos do Império Russo. Um dos aspectos mais notáveis do Tratado de San Stefano é a cláusula que obriga o Império Otomano a realizar reformas a favor das populações cristãs, nomeadamente dos arménios, e a melhorar as suas condições de vida. Esta cláusula reconhecia implicitamente os maus tratos sofridos pelos arménios e a necessidade de proteção internacional. No entanto, a aplicação das reformas prometidas no tratado foi em grande parte ineficaz. O Império Otomano, enfraquecido pela guerra e pelas pressões internas, mostrou-se relutante em fazer concessões que pudessem ser entendidas como uma interferência estrangeira nos seus assuntos internos. Além disso, as disposições do Tratado de San Stefano foram reformuladas mais tarde, nesse mesmo ano, pelo Congresso de Berlim, que ajustou os termos do tratado para ir ao encontro das preocupações de outras grandes potências, nomeadamente a Grã-Bretanha e a Áustria-Hungria.
O Congresso de Berlim continuou, no entanto, a pressionar o Império Otomano para que procedesse a reformas, mas, na prática, pouco foi feito para melhorar efetivamente a situação dos arménios. Esta falta de ação, associada à instabilidade política e às crescentes tensões étnicas no seio do Império, criou um ambiente que acabou por conduzir aos massacres hamidianos da década de 1890 e, mais tarde, ao genocídio arménio de 1915. A internacionalização da questão arménia pelo Tratado de San Stefano marcou assim o início de um período em que as potências europeias começaram a exercer uma influência mais direta sobre os assuntos do Império Otomano, muitas vezes sob o pretexto de proteger as minorias cristãs. No entanto, o desfasamento entre as promessas de reforma e a sua execução deixou um legado de compromissos não cumpridos com consequências trágicas para o povo arménio.
O final do século XIX e o início do século XX foram um período de grande violência para as comunidades arménia e assíria do Império Otomano. Em particular, os anos de 1895 e 1896 foram marcados por massacres em grande escala, frequentemente designados por massacres hamidianos, em homenagem ao Sultão Abdülhamid II. Estes massacres foram perpetrados em resposta aos protestos dos arménios contra os impostos opressivos, as perseguições e a falta de reformas prometidas pelo Tratado de San Stefano. Os Jovens Turcos, um movimento nacionalista reformista que chegou ao poder após um golpe de Estado em 1908, foram inicialmente vistos como uma fonte de esperança para as minorias do Império Otomano. No entanto, uma fação radical deste movimento acabou por adotar uma política ainda mais agressiva e nacionalista do que a dos seus antecessores. Convencidos da necessidade de criar um Estado turco homogéneo, viam os arménios e outras minorias não turcas como obstáculos à sua visão nacional. A discriminação sistemática contra os arménios aumentou, alimentada por acusações de traição e de conluio com os inimigos do Império, nomeadamente a Rússia. Esta atmosfera de suspeição e ódio criou o terreno fértil para o genocídio que teve início em 1915. Um dos primeiros actos desta campanha genocida foi a prisão e o assassinato de intelectuais e líderes arménios em Constantinopla, a 24 de abril de 1915, data que é hoje comemorada como o início do genocídio arménio.
Seguiram-se deportações em massa, marchas da morte para o deserto da Síria e massacres, estimando-se que tenham sido mortos cerca de 1,5 milhões de arménios. Para além das marchas da morte, há relatos de arménios que foram obrigados a embarcar em navios que foram intencionalmente afundados no Mar Negro. Perante estes horrores, alguns arménios converteram-se ao Islão para sobreviver, enquanto outros se esconderam ou foram protegidos por vizinhos simpáticos, incluindo curdos. Ao mesmo tempo, a população assíria também sofreu atrocidades semelhantes entre 1914 e 1920. Enquanto millet, ou comunidade autónoma reconhecida pelo Império Otomano, os assírios deveriam ter gozado de alguma proteção. No entanto, no contexto da Primeira Guerra Mundial e do nacionalismo turco, foram alvo de campanhas de extermínio sistemáticas. Estes trágicos acontecimentos mostram como a discriminação, a desumanização e o extremismo podem conduzir a actos de violência em massa. O genocídio arménio e os massacres dos assírios são capítulos negros da história que sublinham a importância da memória, do reconhecimento e da prevenção do genocídio para garantir que tais atrocidades nunca mais se repitam.
Para a República da Turquia e a negação do genocídio
A ocupação de Istambul pelos Aliados em 1919 e a instauração de um tribunal marcial para julgar os oficiais otomanos responsáveis pelas atrocidades cometidas durante a guerra constituíram uma tentativa de fazer justiça pelos crimes cometidos, em especial o genocídio arménio. No entanto, a situação na Anatólia continuava instável e complexa. O movimento nacionalista na Turquia, liderado por Mustafa Kemal Atatürk, cresceu rapidamente em resposta aos termos do Tratado de Sèvres de 1920, que desmembrou o Império Otomano e impôs severas sanções à Turquia. Os kemalistas rejeitaram o tratado como uma humilhação e uma ameaça à soberania e à integridade territorial da Turquia.
Um dos pontos de discórdia era a questão das populações ortodoxas gregas na Turquia, que estavam protegidas pelas disposições do tratado, mas que estavam em causa no conflito greco-turco. As tensões entre as comunidades grega e turca deram origem a actos de violência em grande escala e a trocas de populações, agravadas pela guerra entre a Grécia e a Turquia de 1919 a 1922. Mustafa Kemal, que tinha sido um membro proeminente dos Jovens Turcos e ganhou fama como defensor dos Dardanelos durante a Primeira Guerra Mundial, é por vezes citado como tendo descrito o genocídio arménio como um "ato vergonhoso". No entanto, estas afirmações são objeto de controvérsia e de debate histórico. A posição oficial de Kemal e da nascente República da Turquia sobre o genocídio foi a de o negar e de o atribuir a circunstâncias de guerra e a distúrbios civis, e não a uma política deliberada de extermínio.
Durante a resistência pela Anatólia e a luta pela instauração da República da Turquia, Mustafa Kemal e os seus apoiantes concentraram-se na construção de um Estado-nação turco unificado, tendo sido evitado qualquer reconhecimento de acontecimentos passados que pudessem ter dividido ou enfraquecido este projeto nacional. O período que se seguiu à Primeira Guerra Mundial foi, portanto, marcado por grandes mudanças políticas, tentativas de justiça pós-conflito e a emergência de novos Estados-nação na região, com a nascente República da Turquia a procurar definir a sua própria identidade e política independentemente do legado otomano.
A fundação da Turquia
O Tratado de Lausana e a Nova Realidade Política (1923)
O Tratado de Lausana, assinado em 24 de julho de 1923, marcou um ponto de viragem decisivo na história contemporânea da Turquia e do Médio Oriente. Após o fracasso do Tratado de Sèvres, devido sobretudo à resistência nacional turca liderada por Mustafa Kemal Atatürk, os Aliados viram-se obrigados a renegociar. Exaustas pela guerra e confrontadas com a realidade de uma Turquia determinada a defender a sua integridade territorial, as potências aliadas tiveram de reconhecer a nova realidade política estabelecida pelos nacionalistas turcos. O Tratado de Lausana estabeleceu as fronteiras internacionalmente reconhecidas da moderna República da Turquia e anulou as disposições do Tratado de Sèvres, que previam a criação de um Estado curdo e reconheciam um certo grau de proteção aos arménios. Ao não prever a criação de um Curdistão nem medidas a favor dos arménios, o Tratado de Lausana fechou a porta à "questão curda" e à "questão arménia" a nível internacional, deixando estas questões por resolver.
Ao mesmo tempo, o tratado formalizou a troca de populações entre a Grécia e a Turquia, o que levou à "expulsão dos gregos dos territórios turcos", um episódio doloroso marcado pela deslocação forçada de populações e pelo fim de comunidades históricas na Anatólia e na Trácia. Após a assinatura do Tratado de Lausanne, o Comité de União e Progresso (CUP), mais conhecido por Jovens Turcos, que tinha estado no poder durante a Primeira Guerra Mundial, foi oficialmente dissolvido. Vários dos seus líderes foram para o exílio e alguns foram assassinados em retaliação pelo seu papel no genocídio arménio e pelas políticas destrutivas da guerra.
Nos anos que se seguiram, consolidou-se a República da Turquia e surgiram várias associações nacionalistas com o objetivo de defender a soberania e a integridade da Anatólia. A religião desempenhou um papel importante na construção da identidade nacional, sendo frequentemente estabelecida uma distinção entre o "Ocidente cristão" e a "Anatólia muçulmana". Este discurso foi utilizado para reforçar a coesão nacional e para justificar a resistência contra qualquer influência ou intervenção estrangeira considerada uma ameaça para a nação turca. O Tratado de Lausana é, por conseguinte, considerado a pedra angular da moderna República da Turquia e o seu legado continua a moldar a política interna e externa da Turquia, bem como as suas relações com os seus vizinhos e com as comunidades minoritárias dentro das suas fronteiras.
A chegada de Mustafa Kemal Atatürk e a Resistência Nacional Turca (1919)
A chegada de Mustafa Kemal Atatürk à Anatólia, em maio de 1919, marcou o início de uma nova fase na luta pela independência e soberania da Turquia. Opondo-se à ocupação aliada e aos termos do Tratado de Sèvres, estabeleceu-se como líder da resistência nacional turca. Nos anos que se seguiram, Mustafa Kemal liderou várias campanhas militares cruciais. Lutou em várias frentes: contra os arménios, em 1921, contra os franceses no sul da Anatólia, para redefinir as fronteiras, e contra os gregos, que tinham ocupado a cidade de Esmirna em 1919 e avançado para a Anatólia ocidental. Estes conflitos foram elementos-chave do movimento nacionalista turco para estabelecer um novo Estado-nação sobre as ruínas do Império Otomano. A estratégia britânica na região era complexa. Perante a possibilidade de um conflito mais vasto entre gregos e turcos, por um lado, e turcos e britânicos, por outro, a Grã-Bretanha viu vantagem em deixar os gregos e os turcos lutarem entre si, o que lhe permitiria concentrar os seus esforços noutros locais, nomeadamente no Iraque, um território rico em petróleo e estrategicamente importante.
A guerra greco-turca culminou com a vitória turca e a retirada grega da Anatólia em 1922, o que resultou na catástrofe da Ásia Menor para a Grécia e numa importante vitória das forças nacionalistas turcas. A campanha militar vitoriosa de Mustafa Kemal permitiu renegociar os termos do Tratado de Sèvres e levou à assinatura do Tratado de Lausana em 1923, que reconheceu a soberania da República da Turquia e redefiniu as suas fronteiras. Em simultâneo com o Tratado de Lausana, foi elaborada uma convenção para a troca de populações entre a Grécia e a Turquia. Esta convenção levou à troca forçada de populações ortodoxas gregas e muçulmanas turcas entre os dois países, com o objetivo de criar Estados etnicamente mais homogéneos. Após ter repelido as forças francesas, concluído acordos fronteiriços e assinado o Tratado de Lausana, Mustafa Kemal proclamou a República da Turquia em 29 de outubro de 1923, tornando-se o seu primeiro presidente. A proclamação da República marcou o culminar dos esforços de Mustafa Kemal para fundar um Estado turco moderno, secular e nacionalista sobre os restos do Império Otomano, multiétnico e multiconfessional.
Formação das fronteiras e as questões de Mosul e Antioquia
Após a conclusão do Tratado de Lausana em 1923, que assinalou o reconhecimento internacional da República da Turquia e redefiniu as suas fronteiras, subsistiam ainda questões fronteiriças por resolver, nomeadamente no que se refere à cidade de Antioquia e à região de Mosul. Estas questões exigiram novas negociações e a intervenção de organizações internacionais para serem resolvidas. A cidade de Antioquia, situada na região historicamente rica e culturalmente diversa do sul da Anatólia, era objeto de contenda entre a Turquia e a França, que exercia um mandato sobre a Síria, incluindo Antioquia. A cidade, com o seu passado multicultural e a sua importância estratégica, era um ponto de tensão entre os dois países. Após negociações, Antioquia acabou por ser atribuída à Turquia, embora a decisão tenha sido fonte de polémica e tensão. A questão da região de Mossul era ainda mais complexa. Rica em petróleo, a região de Mossul era reivindicada tanto pela Turquia como pela Grã-Bretanha, que tinha um mandato sobre o Iraque. A Turquia, com base em argumentos históricos e demográficos, pretendia incluí-la nas suas fronteiras, enquanto a Grã-Bretanha apoiava a sua inclusão no Iraque por razões estratégicas e económicas, em especial devido à presença de petróleo.
A Liga das Nações, precursora das Nações Unidas, interveio para resolver o diferendo. Após uma série de negociações, chegou-se a um acordo em 1925. Nos termos deste acordo, a região de Mossul passaria a fazer parte do Iraque, mas a Turquia receberia uma compensação financeira, nomeadamente sob a forma de uma parte das receitas do petróleo. O acordo estipulava igualmente que a Turquia deveria reconhecer oficialmente o Iraque e as suas fronteiras. Esta decisão foi crucial para a estabilização das relações entre a Turquia, o Iraque e a Grã-Bretanha e desempenhou um papel importante na definição das fronteiras do Iraque, influenciando a evolução futura no Médio Oriente. Estas negociações e os acordos daí resultantes ilustram a complexidade da dinâmica do Médio Oriente após a Primeira Guerra Mundial. Mostram como as fronteiras modernas da região foram moldadas por uma mistura de reivindicações históricas, considerações estratégicas e económicas e intervenções internacionais, reflectindo frequentemente os interesses das potências coloniais e não os das populações locais.
As reformas radicais de Mustafa Kemal Atatürk
O período pós-Primeira Guerra Mundial na Turquia foi marcado por reformas e transformações radicais lideradas por Mustafa Kemal Atatürk, que procurou modernizar e secularizar a nova República da Turquia. Em 1922, foi dado um passo crucial com a abolição do sultanato otomano pelo parlamento turco, uma decisão que pôs termo a séculos de domínio imperial e consolidou o poder político em Ancara, a nova capital da Turquia. O ano de 1924 assistiu a outra grande reforma com a abolição do Califado. Esta decisão eliminou a liderança religiosa e política islâmica que tinha caracterizado o Império Otomano e representou um passo decisivo para a secularização do Estado. Paralelamente a esta abolição, o governo turco criou a Diyanet, ou Presidência dos Assuntos Religiosos, uma instituição destinada a supervisionar e a regular os assuntos religiosos no país. O objetivo desta organização era colocar os assuntos religiosos sob o controlo do Estado e garantir que a religião não fosse utilizada para fins políticos. Mustafa Kemal implementou então uma série de reformas destinadas a modernizar a Turquia, frequentemente designadas por "modernização autoritária". Estas reformas incluíram a secularização do ensino, a reforma do código de vestuário, a adoção do calendário gregoriano e a introdução do direito civil em substituição do direito religioso islâmico.
No âmbito da criação de um Estado-nação turco homogéneo, foram adoptadas políticas de assimilação para as minorias e os diferentes grupos étnicos. Estas políticas incluíam a criação de apelidos turcos para todos os cidadãos, o incentivo à adoção da língua e da cultura turcas e o encerramento das escolas religiosas. Estas medidas tinham como objetivo unificar a população sob uma identidade turca comum, mas também levantaram questões de direitos culturais e de autonomia para as minorias. Estas reformas radicais transformaram a sociedade turca e lançaram as bases da Turquia moderna. Reflectiram o desejo de Mustafa Kemal de criar um Estado moderno, secular e unitário, ao mesmo tempo que navegava no complexo contexto das aspirações nacionalistas do pós-guerra. Estas mudanças tiveram um efeito profundo na história da Turquia e continuam a influenciar a política e a sociedade turcas actuais.
O período das décadas de 1920 e 1930 na Turquia, sob a liderança de Mustafa Kemal Atatürk, caracterizou-se por uma série de reformas radicais destinadas a modernizar e ocidentalizar o país. Estas reformas afectaram quase todos os aspectos da vida social, cultural e política turca. Uma das primeiras medidas foi a criação do Ministério da Educação, que desempenhou um papel central na reforma do sistema educativo e na promoção da ideologia kemalista. Em 1925, uma das reformas mais emblemáticas foi a imposição do chapéu europeu, em substituição do tradicional fez, no âmbito de uma política de modernização da aparência e do vestuário dos cidadãos turcos.
As reformas jurídicas também foram significativas, com a adoção de códigos jurídicos inspirados em modelos ocidentais, nomeadamente o código civil suíço. O objetivo destas reformas era substituir o sistema jurídico otomano, baseado na Sharia (lei islâmica), por um sistema jurídico moderno e secular. A Turquia adoptou igualmente o sistema métrico, o calendário gregoriano e mudou o seu dia de descanso da sexta-feira (tradicionalmente observado nos países muçulmanos) para o domingo, aproximando o país dos padrões ocidentais. Uma das reformas mais radicais foi a mudança do alfabeto, em 1928, do árabe para uma escrita latina modificada. O objetivo desta reforma era aumentar a literacia e modernizar a língua turca. O Instituto de História Turca, criado em 1931, fazia parte de um esforço mais alargado de reinterpretação da história turca e de promoção da identidade nacional turca. No mesmo espírito, a política de purificação da língua turca tinha por objetivo eliminar os empréstimos do árabe e do persa e reforçar a teoria da "Língua do Sol", uma ideologia nacionalista que afirmava a origem antiga e a superioridade da língua e da cultura turcas.
Relativamente à questão curda, o governo kemalista prosseguiu uma política de assimilação, considerando os curdos como "turcos das montanhas" e tentando integrá-los na identidade nacional turca. Esta política deu origem a tensões e conflitos, nomeadamente durante a repressão das populações curdas e não muçulmanas em 1938. O período kemalista foi uma época de profundas transformações para a Turquia, marcada pelos esforços para criar um Estado-nação moderno, secular e homogéneo. No entanto, estas reformas, embora progressivas na sua intenção de modernização, foram também acompanhadas de políticas autoritárias e de esforços de assimilação que deixaram um legado complexo e por vezes controverso na Turquia contemporânea.
O período kemalista na Turquia, que teve início com a fundação da República em 1923, caracterizou-se por uma série de reformas destinadas a centralizar, nacionalizar e secularizar o Estado, bem como a europeizar a sociedade. Estas reformas, lideradas por Mustafa Kemal Atatürk, tinham como objetivo romper com o passado imperial e islâmico do Império Otomano, que era visto como um obstáculo ao progresso e à modernização. O objetivo era criar uma Turquia moderna, alinhada com os valores e normas ocidentais. Nesta perspetiva, a herança otomana e islâmica era frequentemente retratada de forma negativa, associada ao atraso e ao obscurantismo. A viragem para o Ocidente era evidente na política, na cultura, no direito, na educação e até na vida quotidiana.
Multipartidarismo e as tensões entre modernização e tradição (pós-1950)
No entanto, com a chegada de um sistema multipartidário na década de 1950, o panorama político turco começou a mudar. A Turquia, que funcionava como um Estado de partido único sob a égide do Partido Republicano do Povo (CHP), começou a abrir-se ao pluralismo político. Esta transição não foi isenta de tensões. Os conservadores, que tinham sido frequentemente marginalizados durante o período kemalista, começaram a questionar algumas das reformas kemalistas, nomeadamente as que diziam respeito ao secularismo e à ocidentalização. O debate entre o secularismo e os valores tradicionais, entre a ocidentalização e a identidade turca e islâmica, tornou-se um tema recorrente na política turca. Os partidos conservadores e islamistas ganharam terreno, questionando a herança kemalista e apelando ao regresso a certos valores tradicionais e religiosos.
Esta dinâmica política conduziu, por vezes, à repressão e à tensão, uma vez que os diferentes governos procuram consolidar o seu poder num ambiente político cada vez mais diversificado. Os períodos de tensão e repressão política, nomeadamente durante os golpes militares de 1960, 1971, 1980 e a tentativa de golpe de Estado de 2016, testemunham os desafios que a Turquia enfrentou na sua tentativa de encontrar um equilíbrio entre modernização e tradição, secularismo e religiosidade, ocidentalização e identidade turca. No período pós-1950, a Turquia assistiu a um reequilíbrio complexo e por vezes conflituoso entre a herança kemalista e as aspirações de uma parte da população a um regresso aos valores tradicionais, reflectindo as tensões permanentes entre modernidade e tradição na sociedade turca contemporânea.
A Turquia e os seus desafios internos: gerir a diversidade étnica e religiosa
A Turquia, enquanto aliado estratégico do Ocidente, especialmente desde a sua adesão à NATO em 1952, teve de conciliar as suas relações com o Ocidente com a sua própria dinâmica política interna. O sistema multipartidário introduzido na década de 1950 foi um elemento-chave desta reconciliação, reflectindo uma transição para uma forma de governação mais democrática. No entanto, esta transição foi marcada por períodos de instabilidade e de intervenção militar. De facto, a Turquia foi palco de vários golpes militares, aproximadamente de dez em dez anos, nomeadamente em 1960, 1971, 1980 e uma tentativa em 2016. Estes golpes foram frequentemente justificados pelos militares como sendo necessários para restaurar a ordem e proteger os princípios da República Turca, nomeadamente o kemalismo e o secularismo. Após cada golpe de Estado, o exército convocava geralmente novas eleições para regressar ao poder civil, embora continuasse a desempenhar o papel de guardião da ideologia kemalista.
No entanto, a partir da década de 2000, o panorama político turco sofreu uma mudança significativa com a ascensão de partidos conservadores e islamistas, nomeadamente o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP). Sob a liderança de Recep Tayyip Erdoğan, o AKP ganhou várias eleições e manteve o poder durante um longo período. O governo do AKP, apesar de defender valores mais conservadores e islâmicos, não foi derrubado pelos militares. Este facto representa uma mudança em relação às décadas anteriores, em que os governos que se desviavam dos princípios kemalistas eram frequentemente alvo de intervenções militares. Esta relativa estabilidade do governo conservador na Turquia sugere um reequilíbrio do poder entre os partidos políticos militares e civis. Este facto pode ser atribuído a uma série de reformas destinadas a reduzir o poder político do exército, bem como a uma mudança de atitude da população turca, que se tornou cada vez mais recetiva a uma governação que reflicta valores conservadores e islâmicos. A dinâmica política da Turquia contemporânea reflecte os desafios de um país que navega entre a sua herança secular kemalista e as crescentes tendências conservadoras e islamistas, mantendo simultaneamente o seu empenhamento no multipartidarismo e nas alianças ocidentais.
A Turquia moderna tem enfrentado vários desafios internos, incluindo a gestão da sua diversidade étnica e religiosa. As políticas de assimilação, nomeadamente em relação à população curda, desempenharam um papel importante no reforço do nacionalismo turco. Esta situação deu origem a tensões e conflitos, nomeadamente com a minoria curda, que não beneficiou do estatuto de millet (comunidade autónoma) concedido a certas minorias religiosas durante o Império Otomano. A influência do antissemitismo e do racismo europeus durante o século XX teve igualmente um impacto na Turquia. Na década de 1930, as ideias discriminatórias e xenófobas, influenciadas pelas correntes políticas e sociais da Europa, começaram a manifestar-se na Turquia. Esta situação conduziu a acontecimentos trágicos, como os pogroms contra os judeus na Trácia, em 1934, em que as comunidades judaicas foram alvo de ataques e obrigadas a fugir das suas casas.
Além disso, a Lei do Imposto sobre a Riqueza (Varlık Vergisi), introduzida em 1942, foi outra medida discriminatória que afectou principalmente as minorias não turcas e não muçulmanas, incluindo os judeus, os arménios e os gregos. Esta lei impunha impostos exorbitantes sobre a riqueza, desproporcionadamente elevados para os não muçulmanos, e aqueles que não podiam pagar eram enviados para campos de trabalho, nomeadamente em Aşkale, no leste da Turquia. Estas políticas e acontecimentos reflectiam as tensões étnicas e religiosas existentes na sociedade turca e um período em que o nacionalismo turco era por vezes interpretado de forma exclusiva e discriminatória. Também puseram em evidência a complexidade do processo de formação de um Estado-nação numa região tão diversa como a Anatólia, onde coexistiam vários grupos étnicos e religiosos. O tratamento das minorias na Turquia durante este período continua a ser um tema sensível e controverso, reflectindo os desafios que o país enfrentou na procura de uma identidade nacional unificada, gerindo simultaneamente a sua diversidade interna. Estes acontecimentos tiveram também um impacto a longo prazo nas relações entre os diferentes grupos étnicos e religiosos da Turquia.
Separação entre secularização e secularismo: o legado do período kemalista
A distinção entre secularização e secularismo é importante para compreender as dinâmicas sociais e políticas em vários contextos históricos e geográficos. A secularização refere-se a um processo histórico e cultural em que as sociedades, as instituições e os indivíduos começam a desligar-se da influência e das normas religiosas. Numa sociedade secularizada, a religião perde gradualmente a sua influência na vida pública, nas leis, na educação, na política e noutras áreas. Este processo não significa necessariamente que os indivíduos se tornam menos religiosos a nível pessoal, mas sim que a religião se torna um assunto privado, separado dos assuntos públicos e do Estado. A secularização está frequentemente associada à modernização, ao desenvolvimento científico e tecnológico e à alteração das normas sociais. O secularismo, por outro lado, é uma política institucional e jurídica através da qual um Estado se declara neutro em matéria de religião. Trata-se de uma decisão de separar o Estado das instituições religiosas, assegurando que as decisões governamentais e as políticas públicas não são influenciadas por doutrinas religiosas específicas. O secularismo pode coexistir com uma sociedade profundamente religiosa; trata-se sobretudo da forma como o Estado gere a sua relação com as diferentes religiões. Em teoria, o laicismo tem por objetivo garantir a liberdade de religião, tratando todas as religiões de forma igual e evitando o favoritismo em relação a qualquer religião específica.
Os exemplos históricos e contemporâneos mostram diferentes combinações destes dois conceitos. Por exemplo, alguns países europeus sofreram uma secularização significativa, mantendo ao mesmo tempo laços oficiais entre o Estado e certas igrejas (como o Reino Unido com a Igreja de Inglaterra). Por outro lado, países como a França adoptaram uma política rigorosa de laicidade, apesar de serem historicamente sociedades fortemente imbuídas de tradições religiosas. Na Turquia, o período kemalista assistiu à introdução de uma forma rigorosa de secularismo com a separação entre a mesquita e o Estado, ao mesmo tempo que se vivia numa sociedade em que a religião muçulmana continuava a desempenhar um papel significativo na vida privada das pessoas. A política de secularismo kemalista tinha como objetivo modernizar e unificar a Turquia, inspirando-se nos modelos ocidentais, ao mesmo tempo que navegava no contexto complexo de uma sociedade com uma longa história de organização social e política em torno do Islão.
O período pós-Segunda Guerra Mundial na Turquia foi marcado por uma série de incidentes que exacerbaram as tensões étnicas e religiosas no país, afectando particularmente as minorias. Entre estes incidentes, o bombardeamento do local de nascimento de Mustafa Kemal Atatürk em Salónica (então na Grécia), em 1955, serviu de catalisador para um dos acontecimentos mais trágicos da história turca moderna: os pogroms de Istambul. Os pogroms de Istambul, também conhecidos como os acontecimentos de 6 e 7 de setembro de 1955, foram uma série de ataques violentos dirigidos principalmente contra a comunidade grega da cidade, mas também contra outras minorias, nomeadamente arménios e judeus. Estes ataques foram desencadeados por rumores sobre o bombardeamento do local de nascimento de Atatürk e foram exacerbados por sentimentos nacionalistas e anti-minoritários. Os motins provocaram a destruição maciça de bens, a violência e a deslocação de muitas pessoas.
Este acontecimento marcou um ponto de viragem na história das minorias na Turquia, conduzindo a uma diminuição significativa da população grega de Istambul e a um sentimento geral de insegurança entre as outras minorias. Os pogroms de Istambul revelaram também as tensões subjacentes na sociedade turca relativamente a questões de identidade nacional, diversidade étnica e religiosa e os desafios da manutenção da harmonia num Estado-nação diversificado. Desde então, a proporção de minorias étnicas e religiosas na Turquia diminuiu consideravelmente devido a uma série de factores, incluindo a emigração, as políticas de assimilação e, por vezes, as tensões e os conflitos intercomunitários. Embora a Turquia moderna se tenha esforçado por promover uma imagem de sociedade tolerante e diversificada, o legado destes acontecimentos históricos continua a influenciar as relações entre as diferentes comunidades e a política do Estado em relação às minorias. A situação das minorias na Turquia continua a ser uma questão sensível, que ilustra os desafios enfrentados por muitos Estados na gestão da diversidade e na preservação dos direitos e da segurança de todas as comunidades dentro das suas fronteiras.
Os Alevitas
O Impacto da Fundação da República da Turquia nos Alevis (1923)
A criação da República da Turquia em 1923 e as reformas secularistas iniciadas por Mustafa Kemal Atatürk tiveram um impacto significativo em vários grupos religiosos e étnicos da Turquia, incluindo a comunidade Alevi. Os alevitas, um grupo religioso e cultural distinto no seio do Islão, que pratica uma forma de crença diferente da corrente dominante do sunismo, acolheram a fundação da República Turca com um certo otimismo. A promessa de secularismo e secularização oferecia a esperança de uma maior igualdade e liberdade religiosa, em comparação com o período do Império Otomano, em que tinham sido frequentemente objeto de discriminação e, por vezes, de violência.
No entanto, com a criação da Direção dos Assuntos Religiosos (Diyanet) após a abolição do Califado em 1924, o governo turco procurou regular e controlar os assuntos religiosos. Embora a Diyanet tenha sido concebida para exercer o controlo do Estado sobre a religião e promover um Islão compatível com os valores republicanos e seculares, na prática tem favorecido frequentemente o Islão sunita, que é o ramo maioritário na Turquia. Esta política causou problemas à comunidade alevita, que se sentiu marginalizada pela promoção pelo Estado de uma forma de Islão que não corresponde às suas crenças e práticas religiosas. Embora a situação dos alevitas durante a República Turca fosse muito melhor do que durante o Império Otomano, onde eram frequentemente perseguidos, continuaram a enfrentar desafios no que respeita ao seu reconhecimento e direitos religiosos.
Ao longo dos anos, os alevitas lutaram pelo reconhecimento oficial dos seus locais de culto (cemevis) e por uma representação justa nos assuntos religiosos. Apesar dos progressos realizados em termos de secularismo e de direitos civis na Turquia, a questão dos alevitas continua a ser uma questão importante, que reflecte os desafios mais vastos da Turquia na gestão da sua diversidade religiosa e étnica num quadro secular. A situação dos alevitas na Turquia é, por conseguinte, um exemplo da complexa relação entre o Estado, a religião e as minorias num contexto de modernização e secularização, ilustrando a forma como as políticas estatais podem influenciar a dinâmica social e religiosa de uma nação.
Envolvimento político dos alevitas na década de 1960
Na década de 1960, a Turquia viveu um período de mudanças políticas e sociais significativas, com o aparecimento de vários partidos e movimentos políticos que representavam uma série de pontos de vista e interesses. Foi uma época de dinamismo político, marcada por uma maior expressão de identidades e reivindicações políticas, incluindo as de grupos minoritários como os alevitas. A criação do primeiro partido político alevita durante este período foi um desenvolvimento importante, reflectindo uma vontade crescente por parte desta comunidade de se envolver no processo político e defender os seus interesses específicos. Os alevitas, com as suas crenças e práticas distintas, têm procurado frequentemente promover um maior reconhecimento e respeito pelos seus direitos religiosos e culturais. No entanto, também é verdade que outros partidos políticos, nomeadamente os de esquerda ou comunistas, responderam às exigências do eleitorado curdo e alevita. Ao promoverem ideias de justiça social, igualdade e direitos das minorias, estes partidos atraíram um apoio significativo destas comunidades. As questões relacionadas com os direitos das minorias, a justiça social e o secularismo estiveram frequentemente no centro das suas plataformas políticas, o que se repercutiu nas preocupações dos alevitas e dos curdos.
No contexto da Turquia dos anos 60, marcado por uma tensão política crescente e por divisões ideológicas, os partidos de esquerda eram frequentemente vistos como defensores da classe baixa, das minorias e dos grupos marginalizados. Isto conduziu a uma situação em que os partidos políticos alevitas, embora representassem diretamente esta comunidade, eram por vezes ofuscados por partidos mais amplos e estabelecidos que abordavam questões mais vastas de justiça social e igualdade. Assim, a política turca deste período reflectiu uma diversidade e complexidade crescentes de identidades e filiações políticas, ilustrando a forma como as questões dos direitos das minorias, da justiça social e da identidade desempenharam um papel central na paisagem política emergente da Turquia.
Alevis enfrentando o extremismo e a violência nos anos 70 e 80
Os anos 70 foram um período de grande tensão social e política na Turquia, marcado por uma polarização crescente e pela emergência de grupos extremistas. Durante este período, a extrema-direita turca, representada em parte por grupos nacionalistas e ultranacionalistas, ganhou visibilidade e influência. Este aumento do extremismo teve consequências trágicas, nomeadamente para as comunidades minoritárias, como os alevitas. Os alevitas, devido às suas crenças e práticas distintas do Islão sunita maioritário, têm sido frequentemente visados por grupos ultranacionalistas e conservadores. Estes grupos, alimentados por ideologias nacionalistas e, por vezes, sectárias, levaram a cabo ataques violentos contra as comunidades alevitas, incluindo massacres e pogroms. Os incidentes mais notórios incluem os massacres de Maraş, em 1978, e de Çorum, em 1980. Estes acontecimentos caracterizaram-se por uma violência extrema, assassínios em massa e outras atrocidades, incluindo cenas de decapitação e mutilação. Estes ataques não foram incidentes isolados, mas sim parte de uma tendência mais alargada de violência e discriminação contra os alevitas, que exacerbou as divisões e tensões sociais na Turquia.
A violência da década de 1970 e do início da década de 1980 contribuiu para a instabilidade que conduziu ao golpe militar de 1980. Na sequência do golpe, o exército instaurou um regime que reprimiu muitos grupos políticos, incluindo a extrema-direita e a extrema-esquerda, numa tentativa de restabelecer a ordem e a estabilidade. No entanto, os problemas subjacentes de discriminação e tensão entre as diferentes comunidades mantiveram-se, colocando desafios permanentes à coesão social e política da Turquia. A situação dos alevitas na Turquia é, por conseguinte, um exemplo pungente das dificuldades enfrentadas pelas minorias religiosas e étnicas num contexto de polarização política e de extremismo crescente. Sublinha igualmente a necessidade de uma abordagem inclusiva que respeite os direitos de todas as comunidades, a fim de manter a paz social e a unidade nacional.
As Tragédias de Sivas e Gazi na década de 1990
A década de 1990 na Turquia continuou a ser marcada por tensões e violência, em especial contra a comunidade alevita, que foi alvo de vários ataques trágicos. Em 1993, um acontecimento particularmente chocante ocorreu em Sivas, uma cidade no centro da Turquia. Em 2 de julho de 1993, durante o festival cultural Pir Sultan Abdal, um grupo de intelectuais, artistas e escritores alevitas, bem como espectadores, foram atacados por uma multidão extremista. O Hotel Madımak, onde se encontravam, foi incendiado, resultando na morte de 37 pessoas. Este incidente, conhecido como o massacre de Sivas ou tragédia de Madımak, foi um dos acontecimentos mais negros da história moderna da Turquia e pôs em evidência a vulnerabilidade dos alevitas ao extremismo e à intolerância religiosa. Dois anos mais tarde, em 1995, ocorreu outro incidente violento no bairro de Gazi, em Istambul, uma zona com uma grande população alevita. Os violentos confrontos eclodiram depois de um atirador desconhecido ter disparado contra cafés frequentados por alevitas, matando uma pessoa e ferindo várias outras. Os dias seguintes foram marcados por tumultos e confrontos com a polícia, que causaram muitas mais vítimas.
Estes incidentes exacerbaram as tensões entre a comunidade alevita e o Estado turco e puseram em evidência a persistência de preconceitos e de discriminação contra os alevitas. Levantaram também questões sobre a proteção das minorias na Turquia e a capacidade do Estado para garantir a segurança e a justiça a todos os seus cidadãos. A violência em Sivas e Gazi marcou um ponto de viragem na consciencialização da situação dos alevitas na Turquia, levando a apelos mais fortes ao reconhecimento dos seus direitos e a uma maior compreensão e respeito pela sua identidade cultural e religiosa única. Estes trágicos acontecimentos permanecem gravados na memória colectiva da Turquia, simbolizando os desafios que o país enfrenta em termos de diversidade religiosa e de coexistência pacífica.
Os alevitas na era do AKP: desafios e conflitos de identidade
Desde que o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), liderado por Recep Tayyip Erdoğan, chegou ao poder em 2002, a Turquia assistiu a mudanças significativas na sua política em relação ao Islão e às minorias religiosas, incluindo a comunidade alevita. O AKP, muitas vezes visto como um partido com tendências islamistas ou conservadoras, tem sido criticado por favorecer o Islão sunita, o que suscita preocupações entre as minorias religiosas, nomeadamente os alevitas. Durante o mandato do AKP, o governo reforçou o papel da Diyanet (Presidência dos Assuntos Religiosos), que foi acusada de promover uma versão sunita do Islão. Este facto causou problemas à comunidade alevita, que pratica uma forma de Islão muito diferente do sunismo dominante. Os alevitas não frequentam as mesquitas tradicionais para prestar culto; em vez disso, utilizam os "cemevi" para as suas cerimónias e reuniões religiosas. No entanto, o Diyanet não reconhece oficialmente os cemevi como locais de culto, o que tem sido uma fonte de frustração e conflito para os alevitas. A questão da assimilação é também motivo de preocupação para os alevitas, uma vez que o Governo tem sido visto como estando a tentar integrar todas as comunidades religiosas e étnicas numa identidade turca sunita homogénea. Esta política faz lembrar os esforços de assimilação da era kemalista, embora as motivações e os contextos sejam diferentes.
Os alevitas são um grupo étnica e linguisticamente diverso, com membros de língua turca e curda. Embora a sua identidade seja em grande parte definida pela sua fé distinta, partilham também aspectos culturais e linguísticos com outros turcos e curdos. No entanto, a sua prática religiosa única e o seu historial de marginalização distinguem-nos na sociedade turca. A situação dos alevitas na Turquia desde 2002 reflecte as tensões persistentes entre o Estado e as minorias religiosas. Levanta questões importantes sobre a liberdade religiosa, os direitos das minorias e a capacidade do Estado para acolher a diversidade num quadro secular e democrático. A forma como a Turquia gere estas questões continua a ser um aspeto crucial da sua política interna e da sua imagem na cena internacional.
Irão
Desafios e influências externas no início do século XX
A história da modernização do Irão é um estudo de caso fascinante sobre a forma como as influências externas e a dinâmica interna podem moldar o rumo de um país. No início do século XX, o Irão (então conhecido como Pérsia) enfrentou vários desafios que culminaram num processo de modernização autoritária. Nos anos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, em especial em 1907, o Irão esteve à beira da implosão. O país tinha sofrido perdas territoriais significativas e debatia-se com uma fraqueza administrativa e militar. O exército iraniano, em particular, era incapaz de gerir eficazmente a influência do Estado ou de proteger as suas fronteiras de incursões estrangeiras. Este contexto difícil foi exacerbado pelos interesses concorrentes das potências imperialistas, nomeadamente da Grã-Bretanha e da Rússia. Em 1907, apesar das suas rivalidades históricas, a Grã-Bretanha e a Rússia concluíram a Entente Anglo-Russa. Nos termos deste acordo, partilhavam esferas de influência no Irão, com a Rússia a dominar o norte e a Grã-Bretanha o sul. Este acordo constituiu um reconhecimento tácito dos respectivos interesses imperialistas na região e teve um profundo impacto na política iraniana.
A Entente Anglo-Russa não só limitou a soberania do Irão, como também impediu o desenvolvimento de um poder central forte. A Grã-Bretanha, em particular, estava reticente quanto à ideia de um Irão centralizado e poderoso que pudesse ameaçar os seus interesses, nomeadamente em termos de acesso ao petróleo e de controlo das rotas comerciais. Este quadro internacional colocou grandes desafios ao Irão e influenciou o seu percurso de modernização. A necessidade de navegar entre os interesses imperialistas estrangeiros e as necessidades internas de reformar e reforçar o Estado conduziu a uma série de tentativas de modernização, algumas mais autoritárias do que outras, ao longo do século XX. Estes esforços culminaram no período do reinado de Reza Shah Pahlavi, que empreendeu um ambicioso programa de modernização e centralização, frequentemente por meios autoritários, com o objetivo de transformar o Irão num Estado-nação moderno.
O golpe de 1921 e a ascensão de Reza Khan
O golpe de 1921 no Irão, liderado por Reza Khan (mais tarde Reza Shah Pahlavi), foi um ponto de viragem decisivo na história moderna do país. Reza Khan, um oficial militar, assumiu o controlo do governo num contexto de fraqueza e instabilidade política, com a ambição de centralizar o poder e modernizar o Irão. Após o golpe, Reza Khan empreendeu uma série de reformas destinadas a reforçar o Estado e a consolidar o seu poder. Criou um governo centralizado, reorganizou a administração e modernizou o exército. Estas reformas foram essenciais para estabelecer uma estrutura estatal forte e eficaz, capaz de promover o desenvolvimento e a modernização do país. Um aspeto fundamental da consolidação do poder de Reza Khan foi a negociação de acordos com potências estrangeiras, nomeadamente a Grã-Bretanha, que tinha grandes interesses económicos e estratégicos no Irão. A questão do petróleo era particularmente crucial, uma vez que o Irão tinha um potencial petrolífero considerável e o controlo e a exploração deste recurso estavam no centro dos interesses geopolíticos.
Reza Khan navegou com sucesso nestas águas complexas, conseguindo um equilíbrio entre a cooperação com as potências estrangeiras e a proteção da soberania iraniana. Embora tivesse de fazer concessões, sobretudo no que se refere à exploração petrolífera, o seu governo esforçou-se por garantir que o Irão recebesse uma parte mais justa das receitas do petróleo e por limitar a influência estrangeira direta nos assuntos internos do país. Em 1925, Reza Khan foi coroado Reza Shah Pahlavi, tornando-se o primeiro Xá da dinastia Pahlavi. Durante o seu reinado, o Irão sofreu transformações radicais, incluindo a modernização da economia, a reforma do ensino, a ocidentalização das normas sociais e culturais e uma política de industrialização. Estas reformas, embora frequentemente levadas a cabo de forma autoritária, marcaram a entrada do Irão na era moderna e lançaram as bases para o desenvolvimento subsequente do país.
A era de Reza Xá Pahlavi: modernização e centralização
O advento de Reza Xá Pahlavi no Irão, em 1925, marcou uma mudança radical na paisagem política e social do país. Após a queda da dinastia Kadjar, Reza Shah, inspirado pelas reformas de Mustafa Kemal Atatürk na Turquia, iniciou uma série de transformações de grande alcance destinadas a modernizar o Irão e a transformá-lo num Estado-nação poderoso e centralizado. O seu reinado caracterizou-se por uma modernização autoritária, com o poder altamente concentrado e as reformas impostas de cima para baixo. A centralização do poder foi um passo crucial, tendo Reza Shah procurado eliminar os poderes intermédios tradicionais, como os chefes tribais e os notáveis locais. Esta consolidação da autoridade destinava-se a reforçar o governo central e a garantir um controlo mais apertado do país no seu conjunto. No âmbito dos seus esforços de modernização, introduziu também o sistema métrico, modernizou as redes de transportes com a construção de novas estradas e caminhos-de-ferro e procedeu a reformas culturais e de vestuário para alinhar o Irão pelas normas ocidentais.
Reza Xá também promoveu um forte nacionalismo, glorificando o passado imperial persa e a língua persa. Esta exaltação do passado iraniano pretendia criar um sentimento de unidade nacional e de identidade comum entre a população diversificada do Irão. No entanto, estas reformas tiveram um custo elevado em termos de liberdades individuais. O regime de Reza Shah foi marcado pela censura, pela repressão da liberdade de expressão e da dissidência política e pelo controlo rigoroso do aparelho político. No plano legislativo, foram introduzidos códigos civis e penais modernos e foram impostas reformas no vestuário para modernizar a aparência da população. Embora estas reformas tenham contribuído para a modernização do Irão, foram implementadas de forma autoritária, sem qualquer participação democrática significativa, o que lançou as sementes de futuras tensões. O período do Xá Reza foi, portanto, uma era de contradições no Irão. Por um lado, representou um salto significativo na modernização e centralização do país. Por outro lado, lançou as bases para futuros conflitos devido à sua abordagem autoritária e à ausência de canais de livre expressão política. Este período foi, portanto, decisivo na história moderna do Irão, moldando a sua trajetória política, social e económica para as décadas seguintes.
Mudança de nome: da Pérsia para o Irão
A mudança de nome da Pérsia para Irão, em dezembro de 1934, é um exemplo fascinante da forma como a política internacional e as influências ideológicas podem moldar a identidade nacional de um país. Sob o reinado de Reza Shah Pahlavi, a Pérsia, que tinha sido o nome histórico e ocidental do país, passou oficialmente a chamar-se Irão, um termo que há muito era utilizado no país e que significa "terra dos arianos". A mudança de nome foi, em parte, um esforço para reforçar os laços com o Ocidente e para realçar a herança ariana da nação, num contexto de emergência de ideologias nacionalistas e raciais na Europa. Nessa altura, a propaganda nazi tinha alguma ressonância em vários países do Médio Oriente, incluindo o Irão. Reza Shah, que procurava contrabalançar a influência britânica e soviética no Irão, via a Alemanha nazi como um potencial aliado estratégico. No entanto, a sua política de aproximação à Alemanha suscitou a preocupação dos Aliados, em especial da Grã-Bretanha e da União Soviética, que temiam a colaboração iraniana com a Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
Devido a estas preocupações e ao papel estratégico do Irão como rota de trânsito para o abastecimento das forças soviéticas, o país tornou-se um ponto fulcral na guerra. Em 1941, as forças britânicas e soviéticas invadiram o Irão, forçando Reza Shah a abdicar em favor do seu filho, Mohammed Reza Pahlavi. Mohammed Reza, ainda jovem e inexperiente, subiu ao trono num contexto de tensões internacionais e de presença militar estrangeira. A invasão e ocupação do Irão pelos Aliados teve um profundo impacto no país, acelerando o fim da política de neutralidade do Xá Reza e dando início a uma nova era na história iraniana. Sob o reinado de Mohammed Reza Shah, o Irão tornou-se um aliado fundamental do Ocidente durante a Guerra Fria, embora esta tenha sido acompanhada por desafios internos e tensões políticas que acabariam por culminar na Revolução Iraniana de 1979.
Nacionalização do petróleo e queda de Mossadegh
O episódio da nacionalização do petróleo no Irão e a queda de Mohammad Mossadegh em 1953 constituem um capítulo crucial da história do Médio Oriente e revelam a dinâmica do poder e os interesses geopolíticos durante a Guerra Fria. Em 1951, Mohammad Mossadegh, um político nacionalista eleito Primeiro-Ministro, deu o passo ousado de nacionalizar a indústria petrolífera iraniana, que era então controlada pela British Anglo-Iranian Oil Company (AIOC, atualmente BP). Mossadegh considerava que o controlo dos recursos naturais do país, nomeadamente do petróleo, era essencial para a independência económica e política do Irão. A decisão de nacionalizar o petróleo foi extremamente popular no Irão, mas também provocou uma crise internacional. O Reino Unido, que perdeu o seu acesso privilegiado aos recursos petrolíferos do Irão, procurou impedir a medida por meios diplomáticos e económicos, incluindo a imposição de um embargo petrolífero. Confrontado com um impasse com o Irão e incapaz de resolver a situação por meios convencionais, o governo britânico pediu ajuda aos Estados Unidos. Inicialmente relutantes, os Estados Unidos acabaram por ser persuadidos, em parte devido ao aumento das tensões da Guerra Fria e ao receio da influência comunista no Irão.
Em 1953, a CIA, com o apoio do MI6 britânico, lançou a Operação Ajax, um golpe que levou à destituição de Mossadegh e ao reforço do poder do Xá, Mohammad Reza Pahlavi. Este golpe marcou um ponto de viragem decisivo na história do Irão, reforçando a monarquia e aumentando a influência ocidental, em especial a dos Estados Unidos, no Irão. No entanto, a intervenção estrangeira e a supressão das aspirações nacionalistas e democráticas criaram também um profundo ressentimento no Irão, que viria a contribuir para as tensões políticas internas e, em última análise, para a Revolução Iraniana de 1979. A Operação Ajax é frequentemente citada como um exemplo clássico do intervencionismo da Guerra Fria e das suas consequências a longo prazo, não só para o Irão, mas para toda a região do Médio Oriente.
O acontecimento de 1953 no Irão, marcado pela destituição do Primeiro-Ministro Mohammad Mossadegh, foi um período crucial que teve um impacto profundo no desenvolvimento político do país. Mossadegh, embora democraticamente eleito e extremamente popular pelas suas políticas nacionalistas, nomeadamente a nacionalização da indústria petrolífera iraniana, foi derrubado na sequência de um golpe de Estado orquestrado pela CIA americana e pelo MI6 britânico, conhecido como Operação Ajax.
A "Revolução Branca" do Xá Mohammad Reza Pahlavi
Após a partida de Mossadegh, o Xá Mohammad Reza Pahlavi consolidou o seu poder e tornou-se cada vez mais autoritário. O Xá, apoiado pelos Estados Unidos e por outras potências ocidentais, lançou um ambicioso programa de modernização e desenvolvimento do Irão. Este programa, conhecido como a "Revolução Branca", foi lançado em 1963 e tinha por objetivo transformar rapidamente o Irão numa nação moderna e industrializada. As reformas do Xá incluíam a redistribuição de terras, uma campanha maciça de alfabetização, a modernização económica, a industrialização e a concessão do direito de voto às mulheres. Estas reformas deveriam reforçar a economia iraniana, reduzir a dependência do petróleo e melhorar as condições de vida dos cidadãos iranianos. No entanto, o reinado do Xá também se caracterizou por um controlo político rigoroso e pela repressão da dissidência. A polícia secreta do Xá, a SAVAK, criada com a ajuda dos Estados Unidos e de Israel, era conhecida pela sua brutalidade e pelas suas tácticas repressivas. A falta de liberdades políticas, a corrupção e a crescente desigualdade social provocaram um descontentamento generalizado entre a população iraniana. Embora o Xá tenha conseguido realizar alguns progressos em termos de modernização e desenvolvimento, a ausência de reformas políticas democráticas e a repressão das vozes da oposição acabaram por contribuir para a alienação de grandes segmentos da sociedade iraniana. Esta situação abriu caminho à Revolução Iraniana de 1979, que derrubou a monarquia e instaurou a República Islâmica do Irão.
Reforço dos laços com o Ocidente e impacto social
Desde 1955, sob a liderança do Xá Mohammad Reza Pahlavi, o Irão tem procurado reforçar os seus laços com o Ocidente, em especial com os Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria. A adesão do Irão ao Pacto de Bagdade, em 1955, foi um elemento-chave desta orientação estratégica. Este pacto, que incluía igualmente o Iraque, a Turquia, o Paquistão e o Reino Unido, era uma aliança militar destinada a conter a expansão do comunismo soviético no Médio Oriente. No âmbito da sua aproximação ao Ocidente, o Xá lançou a "Revolução Branca", um conjunto de reformas destinadas a modernizar o Irão. Estas reformas, largamente influenciadas pelo modelo americano, incluíam alterações nos padrões de produção e consumo, reforma agrária, uma campanha de alfabetização e iniciativas para promover a industrialização e o desenvolvimento económico. O estreito envolvimento dos Estados Unidos no processo de modernização do Irão foi também simbolizado pela presença de peritos e conselheiros americanos em solo iraniano. Estes peritos gozavam frequentemente de privilégios e imunidades, o que deu origem a tensões em vários sectores da sociedade iraniana, nomeadamente nos círculos religiosos e nos nacionalistas.
As reformas do Xá, embora conduzissem à modernização económica e social, eram também vistas por muitos como uma forma de americanização e uma erosão dos valores e tradições iranianos. Esta perceção foi exacerbada pela natureza autoritária do regime do Xá e pela ausência de liberdades políticas e de participação popular. A presença e a influência americanas no Irão, bem como as reformas da "Revolução Branca", alimentaram um ressentimento crescente, sobretudo nos círculos religiosos. Os líderes religiosos, liderados pelo Ayatollah Khomeini, começaram a manifestar uma oposição cada vez mais forte ao Xá, criticando-o pela sua dependência dos Estados Unidos e pelo seu afastamento dos valores islâmicos. Esta oposição acabou por desempenhar um papel fundamental na mobilização que conduziu à Revolução Iraniana de 1979.
As reformas da "Revolução Branca" no Irão, iniciadas pelo Xá Mohammad Reza Pahlavi na década de 1960, incluíram uma importante reforma agrária que teve um impacto profundo na estrutura social e económica do país. O objetivo desta reforma era modernizar a agricultura iraniana e reduzir a dependência do país das exportações de petróleo, melhorando simultaneamente as condições de vida dos camponeses. A reforma agrária rompeu com as práticas tradicionais, nomeadamente as ligadas ao Islão, como as ofertas dos imãs. Em vez disso, privilegiou uma abordagem de economia de mercado, com o objetivo de aumentar a produtividade e estimular o desenvolvimento económico. As terras foram redistribuídas, reduzindo o poder dos grandes proprietários e das elites religiosas que controlavam vastas extensões de terras agrícolas. No entanto, esta reforma, juntamente com outras iniciativas de modernização, foi efectuada de forma autoritária e de cima para baixo, sem qualquer consulta ou participação significativa da população. A repressão da oposição, incluindo os grupos de esquerda e comunistas, foi também uma caraterística do regime do Xá. A SAVAK, a polícia secreta do Xá, era famosa pelos seus métodos brutais e pela sua extensa vigilância.
A abordagem autoritária do Xá, combinada com o impacto económico e social das reformas, gerou um descontentamento crescente entre vários segmentos da sociedade iraniana. Os clérigos xiitas, os nacionalistas, os comunistas, os intelectuais e outros grupos encontraram pontos em comum na sua oposição ao regime. Com o tempo, esta oposição díspar consolidou-se num movimento cada vez mais coordenado. A Revolução Iraniana de 1979 pode ser vista como o resultado desta convergência de oposições. A repressão do Xá, a perceção da influência estrangeira, as reformas económicas perturbadoras e a marginalização dos valores tradicionais e religiosos criaram um terreno fértil para uma revolta popular. Esta revolução acabou por derrubar a monarquia e instaurar a República Islâmica do Irão, marcando um ponto de viragem radical na história do país.
A celebração do 2500º aniversário do Império Persa em 1971, organizada pelo Xá Mohammad Reza Pahlavi, foi um acontecimento monumental destinado a sublinhar a grandeza e a continuidade histórica do Irão. Esta celebração sumptuosa, que teve lugar em Persépolis, a antiga capital do Império Aqueménida, destinava-se a estabelecer uma ligação entre o regime do Xá e a gloriosa história imperial da Pérsia. No âmbito dos seus esforços para reforçar a identidade nacional do Irão e realçar as suas raízes históricas, o Xá Mohammad Reza introduziu uma alteração significativa no calendário iraniano. O calendário islâmico, que se baseava na Hégira (migração do profeta Maomé de Meca para Medina), foi substituído por um calendário imperial que começou com a fundação do Império Aqueménida por Ciro, o Grande, em 559 a.C.
No entanto, esta alteração do calendário foi controversa e vista por muitos como uma tentativa do Xá de minimizar a importância do Islão na história e na cultura iranianas, em favor da glorificação do passado imperial pré-islâmico. Esta medida fazia parte das políticas de modernização e secularização do Xá, mas também alimentou o descontentamento entre os grupos religiosos e as pessoas ligadas às tradições islâmicas. Alguns anos mais tarde, na sequência da Revolução Iraniana de 1979, o Irão voltou a utilizar o calendário islâmico. A revolução, liderada pelo Ayatollah Khomeini, derrubou a monarquia Pahlavi e estabeleceu a República Islâmica do Irão, marcando uma profunda rejeição das políticas e do estilo de governação do Xá, incluindo as suas tentativas de promover um nacionalismo baseado na história pré-islâmica do Irão. A questão do calendário e a celebração do 2500º aniversário do Império Persa são exemplos de como a história e a cultura podem ser mobilizadas na política e de como essas acções podem ter um impacto significativo na dinâmica social e política de um país.
A Revolução Iraniana de 1979 e o seu impacto
A Revolução Iraniana de 1979 é um acontecimento marcante na história contemporânea, não só para o Irão mas também para a geopolítica mundial. A revolução assistiu ao colapso da monarquia do Xá Mohammad Reza Pahlavi e à instauração de uma República Islâmica sob a direção do Ayatollah Rouhollah Khomeini. Nos anos que antecederam a revolução, o Irão foi abalado por manifestações maciças e agitação popular. Estes protestos foram motivados por uma série de queixas contra o Xá, nomeadamente as suas políticas autoritárias, a corrupção e a dependência em relação ao Ocidente, a repressão política e as desigualdades sociais e económicas agravadas pelas políticas de modernização rápida. Além disso, a doença do Xá e a sua incapacidade de responder eficazmente às crescentes exigências de reforma política e social contribuíram para um sentimento geral de descontentamento e desilusão.
Em janeiro de 1979, perante a intensificação da agitação, o Xá deixou o Irão e partiu para o exílio. Pouco tempo depois, o Ayatollah Khomeini, líder espiritual e político da revolução, regressou ao Irão após 15 anos de exílio. Khomeini era uma figura carismática e respeitada, cuja oposição à monarquia Pahlavi e o apelo a um Estado islâmico tinham conquistado um apoio generalizado entre vários segmentos da sociedade iraniana. Quando Khomeini chegou ao Irão, foi recebido por milhões de apoiantes. Pouco tempo depois, as forças armadas iranianas declararam a sua neutralidade, um sinal claro de que o regime do Xá estava irremediavelmente enfraquecido. Khomeini tomou rapidamente as rédeas do poder, declarando o fim da monarquia e estabelecendo um governo provisório.
A Revolução Iraniana levou à criação da República Islâmica do Irão, um Estado teocrático baseado nos princípios do Islão xiita e dirigido por clérigos religiosos. Khomeini tornou-se o líder supremo do Irão, uma posição que lhe conferiu um poder considerável sobre os aspectos políticos e religiosos do Estado. A revolução não só transformou o Irão, como também teve um impacto significativo na política regional e internacional, nomeadamente ao intensificar as tensões entre o Irão e os Estados Unidos e ao influenciar os movimentos islamistas noutras partes do mundo muçulmano.
A Revolução Iraniana de 1979 atraiu a atenção mundial e foi apoiada por vários grupos, incluindo alguns intelectuais ocidentais que a consideraram um movimento de libertação ou um renascimento espiritual e político. Entre eles, o filósofo francês Michel Foucault foi particularmente conhecido pelos seus escritos e comentários sobre a revolução. Foucault, conhecido pelas suas análises críticas das estruturas de poder e de governação, interessou-se pela Revolução Iraniana como um acontecimento significativo que desafiou as normas políticas e sociais contemporâneas. Fascinava-o o aspeto popular e espiritual da revolução, vendo-a como uma forma de resistência política que ultrapassava as tradicionais categorias ocidentais de esquerda e direita. No entanto, a sua posição foi fonte de controvérsia e debate, sobretudo devido à natureza da República Islâmica que emergiu após a revolução.
A Revolução Iraniana levou ao estabelecimento de uma teocracia xiita, em que os princípios da governação islâmica, baseados na lei xiita (Sharia), foram integrados nas estruturas políticas e jurídicas do Estado. Sob a liderança do Ayatollah Khomeini, o novo regime estabeleceu uma estrutura política única conhecida como "Velayat-e Faqih" (a tutela do jurista islâmico), na qual uma autoridade religiosa suprema, o Líder Supremo, detém um poder considerável. A transição do Irão para uma teocracia conduziu a mudanças profundas em todos os aspectos da sociedade iraniana. Embora a revolução tenha contado inicialmente com o apoio de vários grupos, incluindo nacionalistas, esquerdistas e liberais, bem como de clérigos, nos anos que se seguiram assistiu-se a uma consolidação do poder nas mãos dos clérigos xiitas e a uma repressão crescente de outros grupos políticos. A natureza da República Islâmica, com a sua mistura de teocracia e democracia, continuou a ser objeto de debate e análise, tanto no Irão como a nível internacional. A revolução transformou profundamente o Irão e teve um impacto duradouro na política regional e mundial, redefinindo a relação entre religião, política e poder.
A guerra Irão-Iraque e os seus efeitos na República Islâmica
A invasão do Irão pelo Iraque em 1980, sob o regime de Saddam Hussein, desempenhou um papel paradoxal na consolidação da República Islâmica do Irão. Este conflito, conhecido como a guerra Irão-Iraque, durou de setembro de 1980 a agosto de 1988 e foi um dos mais longos e sangrentos conflitos do século XX. Na altura do ataque ao Iraque, a República Islâmica do Irão estava ainda a dar os primeiros passos, após a revolução de 1979 que derrubou a monarquia Pahlavi. O regime iraniano, liderado pelo Ayatollah Khomeini, estava em vias de consolidar o seu poder, mas enfrentava tensões e desafios internos significativos. A invasão iraquiana teve um efeito unificador no Irão, reforçando o sentimento nacional e o apoio ao regime islâmico. Confrontado com uma ameaça externa, o povo iraniano, incluindo muitos grupos que anteriormente estavam em desacordo com o governo, uniu-se em torno da defesa nacional. A guerra também permitiu que o regime de Khomeini reforçasse o seu controlo sobre o país, mobilizando a população sob a bandeira da defesa da República Islâmica e do Islão xiita. A guerra Irão-Iraque também reforçou a importância do poder religioso no Irão. O regime utilizou a retórica religiosa para mobilizar a população e legitimar as suas acções, apoiando-se no conceito de "defesa do Islão" para unir iranianos de diferentes convicções políticas e sociais.
A República Islâmica do Irão não foi formalmente proclamada, mas surgiu com a revolução islâmica de 1979. A nova constituição do Irão, adoptada após a revolução, estabeleceu uma estrutura política teocrática única, com os princípios e valores islâmicos xiitas no centro do sistema de governo. O secularismo não é uma caraterística da Constituição iraniana, que, pelo contrário, funde a governação religiosa e política sob a doutrina do "Velayat-e Faqih" (a tutela do jurista islâmico).
Egipto
O Egipto antigo e as suas sucessões
O Egipto, com a sua história rica e complexa, é o berço de civilizações antigas e tem sido palco de uma sucessão de governantes ao longo dos séculos. A região que é hoje o Egipto foi o centro de uma das primeiras e maiores civilizações da história, com raízes que remontam ao antigo Egipto faraónico. Ao longo do tempo, o Egipto esteve sob a influência de vários impérios e potências. Após a era faraónica, esteve sucessivamente sob o domínio persa, grego (após a conquista de Alexandre, o Grande) e romano. Cada um destes períodos deixou uma marca duradoura na história e na cultura do Egipto. A conquista árabe do Egipto, iniciada em 639, marcou um ponto de viragem na história do país. A invasão árabe levou à islamização e à arabização do Egipto, transformando profundamente a sociedade e a cultura egípcias. O Egipto tornou-se parte integrante do mundo islâmico, estatuto que mantém até aos dias de hoje.
Em 1517, o Egipto ficou sob o controlo do Império Otomano após a tomada do Cairo. Sob o domínio otomano, o Egipto manteve um certo grau de autonomia local, mas também estava ligado às fortunas políticas e económicas do Império Otomano. Este período durou até ao início do século XIX, altura em que o Egipto começou a avançar para uma maior modernização e independência sob o comando de líderes como Muhammad Ali Pasha, frequentemente considerado o fundador do Egipto moderno. A história do Egipto é, portanto, a de uma encruzilhada de civilizações, culturas e influências, que transformou o país numa nação única com uma identidade rica e diversificada. Cada período da sua história contribuiu para a construção do Egipto contemporâneo, um Estado que desempenha um papel fundamental no mundo árabe e na política internacional.
No século XVIII, o Egipto tornou-se um território de interesse estratégico para as potências europeias, em particular para a Grã-Bretanha, devido à sua localização geográfica crucial e ao controlo da rota para a Índia. O interesse britânico no Egipto aumentou com a crescente importância do comércio marítimo e a necessidade de rotas comerciais seguras.
Mehmet Ali e as Reformas Modernizadoras
A Nahda, ou Renascença Árabe, foi um importante movimento cultural, intelectual e político que se enraizou no Egipto no século XIX, especialmente durante o reinado de Mehmet Ali, frequentemente considerado o fundador do Egipto moderno. Mehmet Ali, de origem albanesa, foi nomeado governador do Egipto pelos otomanos em 1805 e rapidamente começou a modernizar o país. As suas reformas incluíram a modernização do exército, a introdução de novos métodos agrícolas, a expansão da indústria e a criação de um sistema de ensino moderno. A Nahda no Egipto coincidiu com um movimento cultural e intelectual mais vasto no mundo árabe, caracterizado por um renascimento literário, científico e intelectual. No Egipto, este movimento foi estimulado pelas reformas de Mehmet Ali e pela abertura do país às influências europeias.
Ibrahim Paxá, filho de Mehmet Ali, também desempenhou um papel importante na história do Egipto. Sob o seu comando, as forças egípcias levaram a cabo várias campanhas militares bem sucedidas, alargando a influência do Egipto muito para além das suas fronteiras tradicionais. Na década de 1830, as tropas egípcias chegaram mesmo a desafiar o Império Otomano, o que levou a uma crise internacional que envolveu as grandes potências europeias. O expansionismo de Mehmet Ali e Ibrahim Pasha constituiu um desafio direto à autoridade otomana e marcou o Egipto como um importante ator político e militar na região. No entanto, a intervenção das potências europeias, em especial da Grã-Bretanha e da França, acabou por limitar as ambições egípcias, prefigurando o papel crescente que estas potências viriam a desempenhar na região no século XIX e no início do século XX.
A abertura do Canal do Suez, em 1869, marcou um momento decisivo na história do Egipto, aumentando significativamente a sua importância estratégica na cena internacional. Este canal, que liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, revolucionou o comércio marítimo, reduzindo consideravelmente a distância entre a Europa e a Ásia. O Egipto encontrava-se assim no centro das rotas comerciais mundiais, atraindo a atenção das grandes potências imperialistas, em especial da Grã-Bretanha. Ao mesmo tempo, porém, o Egipto enfrentava desafios económicos consideráveis. O custo da construção do Canal do Suez e de outros projectos de modernização levou o governo egípcio a contrair pesadas dívidas aos países europeus, sobretudo à França e à Grã-Bretanha. A incapacidade do Egipto de pagar estes empréstimos teve consequências políticas e económicas importantes.
O Protetorado Britânico e a Luta pela Independência
O protetorado britânico e a luta pela independência Em 1876, na sequência da crise da dívida, foi criada uma comissão de controlo franco-britânica para supervisionar as finanças do Egipto. Esta comissão assumiu um papel importante na administração do país, reduzindo efetivamente a autonomia e a soberania do Egipto. Esta ingerência estrangeira provocou um descontentamento crescente entre a população egípcia, nomeadamente entre as classes trabalhadoras, que sofriam os efeitos económicos das reformas e do pagamento da dívida. A situação agravou-se ainda mais na década de 1880. Em 1882, após vários anos de tensão crescente e de desordem interna, incluindo a revolta nacionalista de Ahmed Urabi, a Grã-Bretanha interveio militarmente e estabeleceu um protetorado de facto sobre o Egipto. Embora o Egipto tenha permanecido oficialmente parte do Império Otomano até ao final da Primeira Guerra Mundial, na realidade estava sob controlo britânico. A presença britânica no Egipto era justificada pela necessidade de proteger os interesses britânicos, nomeadamente o Canal do Suez, crucial para a rota marítima para a Índia, a "joia da coroa" do Império Britânico. Este período de domínio britânico teve um profundo impacto no Egipto, moldando o seu desenvolvimento político, económico e social e lançando as sementes do nacionalismo egípcio que acabariam por conduzir à revolução de 1952 e à independência formal do país.
A Primeira Guerra Mundial acentuou a importância estratégica do Canal do Suez para as potências beligerantes, nomeadamente para a Grã-Bretanha. O Canal era vital para os interesses britânicos, uma vez que proporcionava a rota marítima mais rápida para as suas colónias na Ásia, nomeadamente a Índia, que era então uma parte crucial do Império Britânico. Com o início da Primeira Guerra Mundial em 1914, a necessidade de proteger o Canal do Suez contra possíveis ataques ou interferências das Potências Centrais (nomeadamente do Império Otomano, aliado da Alemanha) tornou-se uma prioridade para a Grã-Bretanha. Em resposta a estas preocupações estratégicas, os britânicos decidiram reforçar o seu domínio sobre o Egipto. Em 1914, a Grã-Bretanha proclamou oficialmente um protetorado sobre o Egipto, substituindo nominalmente a suserania do Império Otomano pelo controlo direto britânico. A proclamação marcou o fim do domínio otomano nominal sobre o Egipto, que existia desde 1517, e estabeleceu uma administração colonial britânica no país.
O protetorado britânico implicou uma interferência direta nos assuntos internos do Egipto e reforçou o controlo militar e político britânico sobre o país. Embora os britânicos tenham justificado esta medida como sendo necessária para a defesa do Egipto e do Canal do Suez, os egípcios consideraram-na uma violação da sua soberania e alimentaram o sentimento nacionalista no Egipto. A Primeira Guerra Mundial foi um período de dificuldades económicas e sociais no Egipto, exacerbadas pelas exigências do esforço de guerra britânico e pelas restrições impostas pela administração colonial. Estas condições contribuíram para o aparecimento de um movimento nacionalista egípcio mais forte, que acabou por conduzir a revoltas e à luta pela independência nos anos que se seguiram à guerra.
O movimento nacionalista e a luta pela independência
O período pós-Primeira Guerra Mundial no Egipto foi um período de crescentes tensões e reivindicações nacionalistas. Os egípcios, que tinham sofrido os rigores da guerra, incluindo o trabalho árduo e a fome devido à requisição britânica de recursos, começaram a exigir a independência e o reconhecimento dos seus esforços de guerra.
O fim da Primeira Guerra Mundial tinha criado um clima global em que as ideias de autodeterminação e o fim dos impérios coloniais ganhavam terreno, graças, em parte, aos Catorze Pontos do Presidente norte-americano Woodrow Wilson, que apelava a novos princípios de governação internacional e ao direito dos povos à autodeterminação. No Egipto, este clima levou à formação de um movimento nacionalista, encarnado pelo Wafd (que significa "delegação" em árabe). O Wafd era liderado por Saad Zaghloul, que se tornou o porta-voz das aspirações nacionalistas egípcias. Em 1919, Zaghloul e outros membros do Wafd tentaram deslocar-se à Conferência de Paz de Paris para defender a independência do Egipto. No entanto, a tentativa da delegação egípcia de viajar para Paris foi obstruída pelas autoridades britânicas. Zaghloul e os seus companheiros foram presos e exilados em Malta pelos britânicos, o que desencadeou manifestações e motins em massa no Egipto, conhecidos como a Revolução de 1919. Esta revolução foi uma grande revolta popular, com a participação maciça de egípcios de todos os estratos sociais, e marcou um ponto de viragem decisivo na luta pela independência do Egipto.
O exílio forçado de Zaghloul e a reação repressiva britânica galvanizaram o movimento nacionalista no Egipto e aumentaram a pressão sobre a Grã-Bretanha para que reconhecesse a independência do Egipto. Em última análise, a crise levou ao reconhecimento parcial da independência do Egipto em 1922 e ao fim formal do protetorado britânico em 1936, embora a influência britânica no Egipto tenha permanecido significativa até à revolução de 1952. O Wafd tornou-se um importante ator político no Egipto, desempenhando um papel crucial na política egípcia nas décadas seguintes, e Saad Zaghloul continuou a ser uma figura emblemática do nacionalismo egípcio.
O movimento nacionalista revolucionário no Egipto, reforçado pela Revolução de 1919 e pela liderança do Wafd sob a direção de Saad Zaghloul, exerceu uma pressão crescente sobre a Grã-Bretanha para que reconsiderasse a sua posição no Egipto. Em resposta a esta pressão e à evolução das realidades políticas após a Primeira Guerra Mundial, a Grã-Bretanha proclamou o fim do seu protetorado sobre o Egipto em 1922. No entanto, esta "independência" era altamente condicional e limitada. Na verdade, embora a declaração de independência marcasse um passo em direção à soberania egípcia, incluía várias reservas importantes que mantinham a influência britânica no Egipto. Estas incluíam a manutenção da presença militar britânica em torno do Canal do Suez, que era crucial para os interesses estratégicos e comerciais britânicos, e o controlo do Sudão, a fonte vital do Nilo e uma questão geopolítica importante.
Neste contexto, o Sultão Fouad, que era Sultão do Egipto desde 1917, aproveitou o fim do protetorado para se proclamar Rei Fouad I em 1922, estabelecendo assim uma monarquia egípcia independente. No entanto, o seu reinado caracterizou-se por laços estreitos com a Grã-Bretanha. Embora aceitando formalmente a independência, Fouad I actuou frequentemente em estreita colaboração com as autoridades britânicas, o que suscitou críticas dos nacionalistas egípcios, que o consideravam um monarca subserviente aos interesses britânicos. O período que se seguiu à declaração de independência em 1922 foi, portanto, um período de transição e de tensão no Egipto, com lutas políticas internas sobre o rumo do país e o verdadeiro grau de independência em relação à Grã-Bretanha. Esta situação lançou as bases para futuros conflitos políticos no Egipto, incluindo a revolução de 1952 que derrubou a monarquia e estabeleceu a República Árabe do Egipto.
A fundação da Irmandade Muçulmana no Egipto, em 1928, por Hassan al-Banna, é um acontecimento importante na história social e política do país. O movimento foi criado num contexto de crescente insatisfação com a rápida modernização e a influência ocidental no Egipto, bem como com a deterioração dos valores e tradições islâmicas. A Irmandade Muçulmana posicionou-se como um movimento islamista que procurava promover o regresso aos princípios islâmicos em todos os aspectos da vida. Defendiam uma sociedade regida por leis e princípios islâmicos, em oposição ao que consideravam ser uma ocidentalização excessiva e uma perda da identidade cultural islâmica. O movimento ganhou popularidade rapidamente, tornando-se uma força social e política influente no Egipto. Paralelamente ao aparecimento de movimentos como a Irmandade Muçulmana, o Egipto viveu um período de instabilidade política nas décadas de 1920 e 1930. Esta instabilidade, combinada com a ascensão das potências fascistas na Europa, criou um contexto internacional preocupante para a Grã-Bretanha.
Perante este cenário, a Grã-Bretanha procurou consolidar a sua influência no Egipto, reconhecendo ao mesmo tempo a necessidade de fazer concessões em matéria de independência egípcia. Em 1936, a Grã-Bretanha e o Egipto assinaram o Tratado Anglo-Egípcio, que reforçava formalmente a independência do Egipto e permitia a presença militar britânica no país, em especial nas imediações do Canal do Suez. O tratado também reconhecia o papel do Egipto na defesa do Sudão, então sob o domínio anglo-egípcio. O Tratado de 1936 constituiu um passo no sentido de uma maior independência do Egipto, mas também manteve aspectos fundamentais da influência britânica. A assinatura do Tratado foi uma tentativa da Grã-Bretanha de estabilizar a situação no Egipto e de garantir que o país não caísse sob a influência das potências do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. Reflecte igualmente o reconhecimento por parte da Grã-Bretanha da necessidade de se adaptar à evolução da realidade política no Egipto e na região.
A Era Nasser e a Revolução de 1952
Em 23 de julho de 1952, um golpe de Estado liderado por um grupo de oficiais militares egípcios, conhecidos como os Oficiais Livres, marcou um importante ponto de viragem na história do Egipto. Esta revolução derrubou a monarquia do rei Farouk e levou à instauração de uma república. Entre os líderes dos Oficiais Livres, Gamal Abdel Nasser tornou-se rapidamente a figura dominante e o rosto do novo regime. Nasser, que se tornou presidente em 1954, adoptou uma política fortemente nacionalista e terceiro-mundista, influenciada pelas ideias do pan-arabismo e do socialismo. O seu pan-arabismo visava unir os países árabes em torno de valores e interesses políticos, económicos e culturais comuns. Esta ideologia foi, em parte, uma resposta à influência e intervenção ocidentais na região. A nacionalização do Canal do Suez, em 1956, foi uma das decisões mais ousadas e emblemáticas de Nasser. Esta ação foi motivada pelo desejo de controlar um recurso vital para a economia egípcia e de se libertar da influência ocidental, mas também desencadeou a crise do Canal do Suez, um importante confronto militar com a França, o Reino Unido e Israel.
O socialismo de Nasser era desenvolvimentista, com o objetivo de modernizar e industrializar a economia egípcia, promovendo simultaneamente a justiça social. Sob a sua liderança, o Egipto lançou grandes projectos de infra-estruturas, o mais notável dos quais foi a barragem de Assuão. Para realizar este grande projeto, Nasser recorreu à União Soviética para obter apoio financeiro e técnico, marcando uma aproximação entre o Egipto e os soviéticos durante a Guerra Fria. Nasser procurou também desenvolver uma burguesia egípcia, ao mesmo tempo que implementava políticas socialistas, como a reforma agrária e a nacionalização de certas indústrias. Estas políticas tinham como objetivo reduzir as desigualdades e criar uma economia mais justa e independente. A liderança de Nasser teve um impacto significativo não só no Egipto, mas também em todo o mundo árabe e no Terceiro Mundo. Tornou-se uma figura emblemática do nacionalismo árabe e do movimento dos não-alinhados, procurando estabelecer uma via independente para o Egipto fora dos blocos de poder da Guerra Fria.
De Sadat ao Egipto Contemporâneo
A Guerra dos Seis Dias, em 1967, perdida pelo Egipto, pela Jordânia e pela Síria para Israel, foi um momento devastador para o pan-arabismo de Nasser. Esta derrota não só resultou numa perda territorial significativa para estes países árabes, como também foi um rude golpe para a ideia de unidade e poder árabes. Nasser, profundamente afetado por este fracasso, manteve-se no poder até à sua morte, em 1970. Anwar Sadat, que sucedeu a Nasser, tomou uma direção diferente. Lançou reformas económicas, conhecidas como Infitah, destinadas a abrir a economia egípcia ao investimento estrangeiro e a estimular o crescimento económico. Sadat também questionou o empenhamento do Egipto no pan-arabismo e procurou estabelecer relações com Israel. Os Acordos de Camp David de 1978, negociados com a ajuda dos Estados Unidos, conduziram a um tratado de paz entre o Egipto e Israel, o que constituiu um importante ponto de viragem na história do Médio Oriente.
No entanto, a aproximação de Sadat a Israel foi extremamente controversa no mundo árabe e levou à expulsão do Egipto da Liga Árabe. Esta decisão foi vista por muitos como uma traição aos princípios pan-árabes e contribuiu para uma reavaliação da ideologia pan-árabe na região. Sadat foi assassinado em 1981 por membros da Irmandade Muçulmana, um grupo islamista que se tinha oposto às suas políticas, nomeadamente à sua política externa. Sucedeu-lhe o seu vice-presidente, Hosni Mubarak, que estabeleceu um regime que duraria quase três décadas.
Durante o regime de Mubarak, o Egipto gozou de uma relativa estabilidade, mas também de uma crescente repressão política, nomeadamente contra a Irmandade Muçulmana e outros grupos da oposição. No entanto, em 2011, durante a primavera Árabe, Mubarak foi derrubado por uma revolta popular, ilustrando o descontentamento generalizado com a corrupção, o desemprego e a repressão política. Mohamed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana, foi eleito presidente em 2012, mas o seu mandato foi de curta duração. Em 2013, foi derrubado por um golpe militar liderado pelo general Abdel Fattah al-Sissi, que foi posteriormente eleito presidente em 2014. O regime de Sissi tem sido marcado por uma maior repressão dos dissidentes políticos, incluindo os membros da Irmandade Muçulmana, e por esforços para estabilizar a economia e reforçar a segurança do país. O período recente da história do Egipto é, portanto, caracterizado por grandes mudanças políticas, que reflectem a dinâmica complexa e frequentemente turbulenta da política egípcia e árabe.
L'Arabie Saoudite
L'Alliance Fondatrice : Ibn Saud et Ibn Abd al-Wahhab
L'Arabie Saoudite se distingue par sa relative jeunesse en tant qu'État-nation moderne et par les fondements idéologiques uniques qui ont façonné sa formation et son évolution. Un élément clé pour comprendre l'histoire et la société saoudienne est l'idéologie du wahhabisme.
Le wahhabisme est une forme de l'islam sunnite, caractérisée par une interprétation stricte et puritaine de l'islam. Il tire son nom de Muhammad ibn Abd al-Wahhab, un théologien et réformateur religieux du 18ème siècle de la région de Najd, dans ce qui est aujourd'hui l'Arabie Saoudite. Ibn Abd al-Wahhab a prôné un retour à ce qu'il considérait comme les principes originaux de l'islam, en rejetant de nombreuses pratiques qu'il jugeait être des innovations (bid'ah) ou des idolâtries. L'influence du wahhabisme sur la formation de l'Arabie Saoudite est inextricablement liée à l'alliance entre Muhammad ibn Abd al-Wahhab et Muhammad ibn Saud, le fondateur de la première dynastie saoudienne, au 18ème siècle. Cette alliance a uni les objectifs religieux d'Ibn Abd al-Wahhab avec les ambitions politiques et territoriales d'Ibn Saud, créant une fondation idéologique et politique pour le premier État saoudien.
L'Établissement de l'État Saoudien Moderne
Au cours du 20ème siècle, sous le règne d'Abdelaziz ibn Saoud, le fondateur du royaume d'Arabie Saoudite moderne, cette alliance s'est renforcée. L'Arabie Saoudite a été officiellement fondée en 1932, unifiant diverses tribus et régions sous une seule autorité nationale. Le wahhabisme est devenu la doctrine religieuse officielle de l'État, imprégnant la gouvernance, l'éducation, la législation et la vie sociale en Arabie Saoudite. Le wahhabisme a influencé non seulement la structure sociale et politique interne de l'Arabie Saoudite, mais a également eu un impact sur ses relations extérieures, notamment en matière de politique étrangère et de soutien à divers mouvements islamiques à travers le monde. La richesse pétrolière de l'Arabie Saoudite a permis au royaume de promouvoir sa version de l'islam à l'échelle internationale, contribuant à la propagation du wahhabisme au-delà de ses frontières.
Le pacte de 1744 entre Muhammad ibn Saud, le chef de la tribu Al Saud, et Muhammad ibn Abd al-Wahhab, un réformateur religieux, est un événement fondateur dans l'histoire de l'Arabie Saoudite. Ce pacte a uni les objectifs politiques d'Ibn Saud avec les idéaux religieux d'Ibn Abd al-Wahhab, jetant les bases de ce qui deviendra l'État saoudien. Ibn Abd al-Wahhab prônait une interprétation puritaine de l'islam, cherchant à purger la pratique religieuse de ce qu'il considérait comme des innovations, des superstitions et des déviations par rapport aux enseignements du prophète Mahomet et du Coran. Son mouvement, qui allait devenir connu sous le nom de wahhabisme, appelait à un retour à une forme plus "pure" de l'islam. D'un autre côté, Ibn Saud voyait dans le mouvement d'Ibn Abd al-Wahhab une opportunité de légitimer et d'étendre son pouvoir politique. Le pacte entre eux était donc à la fois une alliance religieuse et politique, avec Ibn Saud s'engageant à défendre et à promouvoir les enseignements d'Ibn Abd al-Wahhab, tandis qu'Ibn Abd al-Wahhab soutenait l'autorité politique d'Ibn Saud. Dans les années qui ont suivi, les Al Saud, avec le soutien des adeptes wahhabites, ont entrepris des campagnes militaires pour étendre leur influence et imposer leur interprétation de l'islam. Ces campagnes ont conduit à la création du premier État saoudien au 18ème siècle, couvrant une grande partie de la péninsule arabique.
Cependant, la formation de l'État saoudien n'a pas été un processus linéaire. Au cours du 19ème siècle et au début du 20ème siècle, l'entité politique des Al Saud a connu plusieurs revers, y compris la destruction du premier État saoudien par les Ottomans et leurs alliés égyptiens. Ce n'est qu'avec Abdelaziz ibn Saoud, au début du 20ème siècle, que les Al Saud ont finalement réussi à établir un royaume stable et durable, l'Arabie Saoudite moderne, proclamée en 1932. L'histoire de l'Arabie Saoudite est donc intimement liée à l'alliance entre les Al Saud et le mouvement wahhabite, une alliance qui a façonné non seulement la structure politique et sociale du royaume, mais aussi son identité religieuse et culturelle.
La Reconquête d'Ibn Saoud et la Fondation du Royaume
L'attaque de La Mecque par les forces saoudiennes en 1803 est un événement significatif dans l'histoire de la péninsule arabique et reflète les tensions religieuses et politiques de l'époque. Le wahhabisme, l'interprétation stricte de l'islam sunnite promue par Muhammad ibn Abd al-Wahhab et adoptée par la maison des Saoud, considérait certaines pratiques, notamment celles du chiisme, comme étant étrangères, voire hérétiques par rapport à l'islam. En 1803, les forces saoudiennes wahhabites ont pris le contrôle de La Mecque, un des lieux les plus sacrés de l'islam, ce qui a été perçu comme un acte provocateur par d'autres musulmans, en particulier par les Ottomans qui étaient les gardiens traditionnels des lieux saints islamiques. Cette prise de contrôle a été vue non seulement comme une expansion territoriale des Saoud, mais aussi comme une tentative d'imposer leur interprétation particulière de l'islam.
En réponse à cette avancée saoudienne, l'Empire ottoman, qui cherchait à maintenir son influence sur la région, a envoyé des forces sous le commandement de Mehmet Ali Pacha, le gouverneur ottoman de l'Égypte. Mehmet Ali Pacha, reconnu pour ses talents militaires et ses efforts de modernisation en Égypte, a mené une campagne efficace contre les forces saoudiennes. En 1818, après une série de confrontations militaires, les troupes de Mehmet Ali Pacha ont réussi à vaincre les forces saoudiennes et à capturer leur chef, Abdullah bin Saud, qui a été envoyé à Constantinople (aujourd'hui Istanbul) où il a été exécuté. Cette défaite a marqué la fin du premier État saoudien. Cet épisode illustre la complexité des dynamiques politiques et religieuses dans la région à cette époque. Il met en évidence non seulement les conflits entre différentes interprétations de l'islam, mais aussi la lutte pour le pouvoir et l'influence parmi les puissances régionales de l'époque, notamment l'Empire ottoman et les émergents Saoud.
La deuxième tentative de création d'un État saoudien, qui a eu lieu entre 1820 et 1840, a également rencontré des difficultés et a finalement échoué. Cette période a été marquée par une série de conflits et de confrontations entre les Saoud et divers adversaires, y compris l'Empire ottoman et ses alliés locaux. Ces luttes ont entraîné la perte de territoires et d'influence pour la maison des Saoud. Cependant, l'aspiration à établir un État saoudien n'a pas disparu. Au tournant du 20ème siècle, particulièrement autour de 1900-1901, une nouvelle phase de l'histoire saoudienne a commencé avec le retour de membres de la famille Al Saud de leur exil. Parmi eux, Abdelaziz ibn Saoud, souvent appelé Ibn Saoud, a joué un rôle crucial dans la renaissance et l'expansion de l'influence saoudienne. Ibn Saoud, un leader charismatique et stratégique, a entrepris de reconquérir et d'unifier les territoires de la péninsule arabique sous la bannière de la maison des Saoud. Sa campagne a débuté par la capture de Riyad en 1902, qui est devenue un point de départ pour d'autres conquêtes et l'expansion de son royaume.
Au cours des décennies suivantes, Ibn Saoud a mené une série de campagnes militaires et de manœuvres politiques, étendant progressivement son contrôle sur une grande partie de la péninsule arabique. Ces efforts ont été facilités par son habileté à négocier des alliances, à gérer les rivalités tribales et à intégrer les enseignements wahhabites comme base idéologique de son État. Le succès d'Ibn Saoud a culminé avec la fondation du Royaume d'Arabie Saoudite en 1932, unifiant les différentes régions et tribus sous une seule autorité nationale. Le nouveau royaume a consolidé les divers territoires conquis par Ibn Saoud, établissant ainsi un État saoudien durable, avec le wahhabisme comme fondement religieux et idéologique. La création de l'Arabie Saoudite a marqué une étape significative dans l'histoire moderne du Moyen-Orient, avec des implications profondes tant pour la région que pour la politique internationale, en particulier après la découverte et l'exploitation du pétrole dans le royaume.
Les Relations avec l'Empire Britannique et la Révolte Arabe
En 1915, durant la Première Guerre mondiale, les Britanniques, cherchant à affaiblir l'Empire ottoman, ont noué des contacts avec divers leaders arabes, y compris le Chérif Hussein de La Mecque, qui était un membre éminent de la famille hachémite. Parallèlement, les Britanniques entretenaient des relations avec les Saoudiens, menés par Abdelaziz ibn Saoud, bien que ces relations aient été moins directes et impliquées que celles avec les Hachémites. Le Chérif Hussein, encouragé par les promesses britanniques d'appui pour l'indépendance arabe, a lancé la Révolte arabe en 1916 contre l'Empire ottoman. Cette révolte était motivée par le désir d'indépendance arabe et par l'opposition à la domination ottomane. Cependant, les Saoudiens, sous la direction d'Ibn Saoud, n'ont pas participé activement à cette révolte. Ils étaient engagés dans leur propre campagne pour consolider et étendre leur contrôle sur la péninsule arabique. Bien que les Saoudiens et les Hachémites aient eu des intérêts communs contre les Ottomans, ils étaient également rivaux pour le contrôle de la région.
Après la guerre, avec l'échec des promesses britanniques et françaises de créer un royaume arabe indépendant (comme le prévoyaient les accords secrets Sykes-Picot), le Chérif Hussein s'est retrouvé isolé. En 1924, il s'est proclamé Calife, un acte qui a été perçu comme provocateur par de nombreux musulmans, y compris les Saoudiens. La proclamation de Hussein en tant que Calife a fourni un prétexte aux Saoudiens pour l'attaquer, car ils cherchaient à étendre leur influence. Les forces saoudiennes ont finalement pris le contrôle de La Mecque en 1924, mettant fin à la domination hachémite dans la région et consolidant le pouvoir d'Ibn Saoud. Cette conquête a été une étape clé dans la formation du royaume d'Arabie Saoudite et a marqué la fin des ambitions du Chérif Hussein de créer un royaume arabe unifié sous la dynastie hachémite.
L'Ascension de l'Arabie Saoudite et la Découverte du Pétrole
En 1926, Abdelaziz ibn Saoud, ayant consolidé son contrôle sur une grande partie de la péninsule arabique, s'est proclamé roi du Hedjaz. Le Hedjaz, une région d'une importance religieuse considérable en raison de la présence des villes saintes de La Mecque et Médine, était auparavant sous le contrôle de la dynastie hachémite. La prise du Hedjaz par Ibn Saoud a marqué une étape significative dans l'établissement de l'Arabie Saoudite comme une entité politique puissante dans la région. La reconnaissance d'Ibn Saoud en tant que roi du Hedjaz par des puissances telles que la Russie, la France et la Grande-Bretagne a été un moment clé dans la légitimation internationale de son règne. Ces reconnaissances ont indiqué un changement significatif dans les relations internationales et une acceptation du nouvel équilibre des pouvoirs dans la région. La prise de contrôle du Hedjaz par Ibn Saoud a non seulement renforcé sa position en tant que leader politique dans la péninsule arabique, mais a également accru son prestige dans le monde musulman, en le plaçant en tant que gardien des lieux saints de l'islam. Cela a également signifié la fin de la présence hachémite dans le Hedjaz, avec les membres restants de la dynastie hachémite fuyant vers d'autres parties du Moyen-Orient, où ils établiraient de nouveaux royaumes, en particulier en Jordanie et en Irak. La proclamation d'Ibn Saoud en tant que roi du Hedjaz a donc été un jalon important dans la formation de l'Arabie Saoudite moderne et a contribué à façonner l'architecture politique du Moyen-Orient dans la période suivant la Première Guerre mondiale.
En 1932, Abdelaziz ibn Saoud a achevé un processus de consolidation territorial et politique qui a mené à la création du Royaume d'Arabie Saoudite. Le royaume a uni les régions du Nedj (ou Nejd) et du Hedjaz sous une seule autorité nationale, marquant la naissance de l'État saoudien moderne. Cette unification a représenté l'aboutissement des efforts d'Ibn Saoud pour établir un royaume stable et unifié dans la péninsule arabique, consolidant les différentes conquêtes et alliances qu'il avait réalisées au fil des années. La découverte du pétrole en 1938 en Arabie Saoudite a été un tournant majeur non seulement pour le royaume, mais aussi pour l'économie mondiale. La Compagnie pétrolière américaine California Arabian Standard Oil Company (plus tard ARAMCO) a été la première à découvrir du pétrole en quantité commerciale. Cette découverte a transformé l'Arabie Saoudite d'un État principalement désertique et agraire en l'un des plus grands producteurs de pétrole au monde.
La Seconde Guerre mondiale a accentué l'importance stratégique du pétrole saoudien. Bien que l'Arabie Saoudite soit restée officiellement neutre pendant la guerre, la demande croissante de pétrole pour alimenter les efforts de guerre a fait du royaume un partenaire économique important pour les Alliés, notamment la Grande-Bretagne et les États-Unis. La relation entre l'Arabie Saoudite et les États-Unis, en particulier, s'est renforcée pendant et après la guerre, établissant les bases d'une alliance durable centrée sur la sécurité et le pétrole. Cette période a également vu le début de l'influence significative de l'Arabie Saoudite dans les affaires mondiales, en grande partie grâce à ses vastes réserves de pétrole. Le royaume est devenu un acteur clé dans l'économie mondiale et la politique du Moyen-Orient, une position qu'il continue d'occuper aujourd'hui. La richesse pétrolière a permis à l'Arabie Saoudite d'investir massivement dans le développement national et de jouer un rôle influent dans la politique régionale et internationale.
Défis Modernes : Islamisme, Pétrole, et Politique Internationale
La révolution islamique en Iran en 1979 a eu un impact profond sur l'équilibre géopolitique dans le Moyen-Orient, y compris en Arabie Saoudite. La montée au pouvoir de l'Ayatollah Khomeini et l'établissement d'une République islamique en Iran ont soulevé des inquiétudes dans de nombreux pays de la région, notamment en Arabie Saoudite, où l'on craignait que l'idéologie révolutionnaire chiite ne s'exporte et ne déstabilise les monarchies du Golfe, majoritairement sunnites. En Arabie Saoudite, ces craintes ont renforcé la position du royaume en tant qu'allié des États-Unis et d'autres puissances occidentales. Dans le contexte de la Guerre froide et de l'hostilité croissante entre les États-Unis et l'Iran après la révolution, l'Arabie Saoudite a été perçue comme un contrepoids vital à l'influence iranienne dans la région. Le wahhabisme, l'interprétation stricte et conservatrice de l'islam sunnite pratiquée en Arabie Saoudite, est devenu un élément central de l'identité du royaume et a été utilisé pour contrer l'influence chiite iranienne.
L'Arabie Saoudite a également joué un rôle clé dans les efforts anti-soviétiques, en particulier pendant la guerre d'Afghanistan (1979-1989). Le royaume a soutenu les moudjahidines afghans luttant contre l'invasion soviétique, à la fois financièrement et idéologiquement, en promouvant le wahhabisme comme un élément de la résistance islamique contre l'athéisme soviétique. En 1981, dans le cadre de sa stratégie pour renforcer la coopération régionale et contrer l'influence iranienne, l'Arabie Saoudite a été un acteur clé dans la création du Conseil de Coopération du Golfe (CCG). Le CCG, une alliance politique et économique, comprend l'Arabie Saoudite, le Koweït, les Émirats Arabes Unis, le Qatar, le Bahreïn et Oman. L'organisation a été conçue pour favoriser la collaboration entre les monarchies du Golfe dans divers domaines, notamment la défense, l'économie et la politique étrangère. La position de l'Arabie Saoudite au sein du CCG a reflété et renforcé son rôle de leader régional. Le royaume a utilisé le CCG comme plateforme pour promouvoir ses intérêts stratégiques et pour stabiliser la région face aux défis sécuritaires et politiques, notamment les tensions avec l'Iran et les turbulences liées aux mouvements islamistes et aux conflits régionaux.
L'invasion du Koweït par l'Irak sous Saddam Hussein en août 1990 a déclenché une série d'événements cruciaux dans la région du Golfe, ayant des répercussions majeures sur l'Arabie Saoudite et la politique mondiale. Cette invasion a mené à la Guerre du Golfe de 1991, lors de laquelle une coalition internationale dirigée par les États-Unis a été formée pour libérer le Koweït. Face à la menace irakienne, l'Arabie Saoudite, craignant une possible invasion de son propre territoire, a accepté la présence de forces militaires américaines et d'autres troupes de la coalition sur son sol. Des bases militaires temporaires ont été établies en Arabie Saoudite pour lancer des opérations contre l'Irak. Cette décision a été historique et controversée, car elle impliquait la station de troupes non musulmanes dans le pays qui abrite les deux villes les plus saintes de l'islam, La Mecque et Médine.
La présence militaire américaine en Arabie Saoudite a été fortement critiquée par divers groupes islamistes, dont Al-Qaïda, dirigée par Oussama ben Laden. Ben Laden, lui-même d'origine saoudienne, a interprété la présence militaire américaine en Arabie Saoudite comme une profanation des terres saintes de l'islam. Cela a constitué l'un des principaux griefs d'Al-Qaïda contre les États-Unis et a été utilisé comme une justification pour ses attaques terroristes, y compris les attentats du 11 septembre 2001. La réaction d'Al-Qaïda à la Guerre du Golfe et à la présence militaire américaine en Arabie Saoudite a mis en lumière les tensions croissantes entre les valeurs occidentales et certains groupes islamistes radicaux. Cela a également souligné les défis auxquels l'Arabie Saoudite était confrontée en équilibrant ses relations stratégiques avec les États-Unis et en gérant les sentiments islamiques conservateurs au sein de sa propre population. La période post-Guerre du Golfe a été une époque de changement et d'instabilité dans la région, marquée par des conflits politiques et idéologiques, qui continuent d'influencer la dynamique régionale et internationale.
L'incident de la Grande Mosquée de La Mecque en 1979 est un événement marquant dans l'histoire contemporaine de l'Arabie Saoudite et illustre les tensions internes liées aux questions d'identité religieuse et politique. Le 20 novembre 1979, un groupe de fondamentalistes islamistes dirigé par Juhayman al-Otaybi a pris d'assaut la Grande Mosquée de La Mecque, l'un des lieux les plus sacrés de l'islam. Juhayman al-Otaybi et ses partisans, issus principalement de milieux conservateurs et religieux, ont critiqué la famille royale saoudienne pour sa corruption, son luxe et son ouverture à l'influence occidentale. Ils considéraient que ces facteurs étaient en contradiction avec les principes wahhabites sur lesquels le royaume avait été fondé. Al-Otaybi a proclamé son beau-frère, Mohammed Abdullah al-Qahtani, comme le Mahdi, une figure messianique dans l'islam.
Le siège de la Grande Mosquée a duré deux semaines, durant lesquelles les insurgés ont retenu des milliers de pèlerins en otage. La situation a posé un défi considérable pour le gouvernement saoudien, non seulement en termes de sécurité, mais aussi en termes de légitimité religieuse et politique. L'Arabie Saoudite a dû demander une fatwa (décret religieux) pour permettre l'intervention militaire dans la mosquée, normalement un sanctuaire de paix où la violence est interdite. L'assaut final pour reprendre la mosquée a commencé le 4 décembre 1979 et a été mené par les forces de sécurité saoudiennes avec l'aide de conseillers français. La bataille a été intense et meurtrière, faisant des centaines de morts parmi les insurgés, les forces de sécurité et les otages.
L'incident a eu des répercussions profondes en Arabie Saoudite et dans le monde musulman. Il a révélé des fissures dans la société saoudienne et a mis en évidence les défis auxquels le royaume était confronté en termes de gestion de l'extrémisme religieux. En réponse à cette crise, le gouvernement saoudien a renforcé ses politiques conservatrices en matière religieuse et a augmenté son contrôle sur les institutions religieuses, tout en continuant à réprimer l'opposition islamiste. L'incident a également souligné la complexité de la relation entre religion, politique et pouvoir en Arabie Saoudite.
Les pays créés par décrets
À la fin de la Première Guerre mondiale, les États-Unis, sous la présidence de Woodrow Wilson, avaient une vision différente de celle des puissances européennes concernant l'avenir des territoires conquis pendant la guerre. Wilson, avec ses Quatorze Points, prônait le droit des peuples à l'autodétermination et s'opposait à l'acquisition de territoires par conquête, une position qui contrastait avec les objectifs coloniaux traditionnels des puissances européennes, notamment la Grande-Bretagne et la France. Les États-Unis étaient également favorables à un système de commerce ouvert et équitable, ce qui signifiait que les territoires ne devaient pas être exclusivement sous le contrôle d'une seule puissance, afin de permettre un accès commercial plus large, bénéficiant ainsi aux intérêts américains. Cependant, dans la pratique, les intérêts britanniques et français ont prévalu, ces derniers ayant obtenu des gains territoriaux significatifs à la suite de l'effondrement de l'Empire ottoman et de la défaite de l'Allemagne.
Pour concilier ces différentes perspectives, un compromis a été trouvé à travers le système de mandats de la Société des Nations. Ce système était censé être une forme de gouvernance internationale pour les territoires conquis, en préparation de leur éventuelle indépendance. La mise en place de ce système a nécessité un processus complexe de négociations et de traités. La Conférence de San Remo en 1920 a été un moment clé dans ce processus, au cours duquel les mandats pour les territoires de l'ancien Empire ottoman ont été attribués, principalement à la Grande-Bretagne et à la France. Par la suite, la Conférence du Caire en 1921 a davantage défini les termes et les limites de ces mandats. Les Traités de Sèvres en 1920 et de Lausanne en 1923 ont redessiné la carte du Moyen-Orient et ont formalisé la fin de l'Empire ottoman. Le Traité de Sèvres, en particulier, a démantelé l'Empire ottoman et a prévu la création d'un certain nombre d'États-nations indépendants. Cependant, en raison de l'opposition turque et de changements ultérieurs dans la situation géopolitique, le Traité de Sèvres a été remplacé par le Traité de Lausanne, qui a redéfini les frontières de la Turquie moderne et a annulé certaines des dispositions du Traité de Sèvres. Ce long processus de négociation a reflété les complexités et les tensions de l'ordre mondial d'après-guerre, avec des puissances établies cherchant à maintenir leur influence tout en faisant face à de nouveaux idéaux internationaux et à l'émergence des États-Unis en tant que puissance mondiale.
Après la Première Guerre mondiale, le démantèlement des empires ottoman et allemand a conduit à la création du système de mandats de la Société des Nations, une tentative de gérer les territoires de ces anciens empires dans un contexte postcolonial. Ce système, établi par les traités de paix de l'après-guerre, notamment le Traité de Versailles en 1919, était divisé en trois catégories - A, B et C - reflétant le degré perçu de développement et de préparation à l'autonomie des territoires concernés.
Les mandats de type A, attribués aux territoires de l'ancien Empire ottoman dans le Moyen-Orient, étaient considérés comme les plus avancés vers l'autodétermination. Ces territoires, jugés relativement « civilisés » par les normes de l'époque, comprenaient la Syrie et le Liban, placés sous mandat français, ainsi que la Palestine (incluant la Jordanie actuelle) et l'Irak, sous mandat britannique. La notion de "civilisation" employée à cette époque reflétait les préjugés et les attitudes paternalistes des puissances coloniales, supposant que ces régions étaient plus proches de la gouvernance autonome que d'autres. Le traitement des mandats de type A reflétait les intérêts géopolitiques des puissances mandataires, notamment la Grande-Bretagne et la France, qui cherchaient à étendre leur influence dans la région. Leurs actions ont souvent été motivées par des considérations stratégiques et économiques, telles que le contrôle des routes commerciales et l'accès aux ressources pétrolières, plutôt que par un engagement envers l'autonomie des populations locales. Cela a été illustré par la déclaration Balfour de 1917, dans laquelle la Grande-Bretagne a exprimé son soutien à la création d'un "foyer national juif" en Palestine, une décision qui a eu des conséquences durables et conflictuelles pour la région. Les mandats de type B et C, concernant principalement l'Afrique et certaines îles du Pacifique, étaient considérés comme nécessitant un niveau de supervision plus élevé. Ces territoires, souvent sous-développés et avec peu d'infrastructures, étaient gérés de manière plus directe par les puissances mandataires. Le système de mandats, bien que présenté comme une forme de tutelle bienveillante, était en réalité très proche du colonialisme et a été largement perçu comme tel par les populations autochtones.
En résumé, le système de mandats de la Société des Nations, malgré son intention déclarée de préparer les territoires à l'indépendance, a souvent servi à perpétuer l'influence et le contrôle des puissances européennes dans les régions concernées. Il a également jeté les bases de nombreux conflits politiques et territoriaux futurs, en particulier au Moyen-Orient, où les frontières et les politiques établies pendant cette période continuent d'avoir un impact significatif sur les dynamiques régionales et internationales.
Cette carte présente la répartition des territoires autrefois sous contrôle de l'Empire ottoman dans le Moyen-Orient et l'Afrique du Nord après leur perte par l'Empire, principalement à la suite de la Première Guerre mondiale. On y distingue les différentes zones d'influence et les territoires contrôlés par les puissances européennes grâce à un code couleur. Les territoires sont divisés selon la puissance qui les contrôlait ou exerçait une influence sur eux. Les territoires contrôlés par les Britanniques sont en mauve, les Français en jaune, les Italiens en rose et les Espagnols en bleu. Les territoires indépendants sont marqués en jaune pale, l'Empire ottoman est en verre avec ses frontières à leur apogée en surbrillance, et les zones d'influence russe et britannique sont également indiquées.
La carte montre également les dates de l'occupation initiale ou du contrôle de certains territoires par les puissances coloniales, indiquant ainsi la période de l'expansion impérialiste en Afrique du Nord et au Moyen-Orient. Par exemple, l'Algérie est marquée comme territoire français depuis 1830, la Tunisie depuis 1881 et le Maroc est divisé entre le contrôle français (depuis 1912) et espagnol (depuis 1912). La Libye, quant à elle, était sous contrôle italien de 1911 à 1932. L'Égypte est marquée comme sous contrôle britannique depuis 1882, bien qu'elle ait été techniquement un protectorat britannique. Le Soudan anglo-égyptien est également indiqué, reflétant le contrôle conjoint de l'Égypte et de la Grande-Bretagne depuis 1899. En ce qui concerne le Moyen-Orient, la carte montre clairement les mandats de la Société des Nations, avec la Syrie et le Liban sous mandat français et l'Irak et la Palestine (y compris la Transjordanie actuelle) sous mandat britannique. Le Hedjaz, la région autour de La Mecque et Médine, est également indiqué, reflétant le contrôle de la famille Saoud, tandis que le Yémen et Oman sont marqués comme des protectorats britanniques. Cette carte est un outil utile pour comprendre les changements géopolitiques qui ont eu lieu après le déclin de l'Empire ottoman et comment le Moyen-Orient et l'Afrique du Nord ont été remodelés par les intérêts coloniaux européens. Elle montre également la complexité des relations de pouvoir dans la région, qui continuent d'affecter la politique régionale et internationale aujourd'hui.
En 1919, à la suite de la Première Guerre mondiale, le partage des territoires de l'ancien Empire ottoman entre les puissances européennes a été un processus controversé et conflictuel. Les populations locales de ces régions, ayant nourri des aspirations à l'autodétermination et à l'indépendance, ont souvent accueilli avec hostilité l'établissement de mandats sous contrôle européen. Cette hostilité s'inscrivait dans un contexte plus large de mécontentement face à l'influence et à l'intervention occidentales dans la région. Le mouvement nationaliste arabe, qui avait pris de l'ampleur pendant la guerre, aspirait à la création d'un État arabe unifié ou de plusieurs États arabes indépendants. Ces aspirations avaient été encouragées par les promesses britanniques de soutien à l'indépendance arabe en échange du soutien contre les Ottomans, notamment à travers la correspondance Hussein-McMahon et la Révolte arabe dirigée par le Chérif Hussein de La Mecque. Cependant, les accords Sykes-Picot de 1916, un arrangement secret entre la Grande-Bretagne et la France, prévoyaient le partage de la région en zones d'influence, trahissant ainsi les promesses faites aux Arabes.
Les sentiments anti-occidentaux étaient particulièrement forts en raison de la perception que les puissances européennes ne respectaient pas leurs engagements envers les populations arabes et manipulaient la région pour leurs propres intérêts impérialistes. En revanche, les États-Unis étaient souvent vus d'un œil moins critique par les populations locales. La politique américaine, sous la présidence de Woodrow Wilson, était perçue comme plus favorable à l'autodétermination et moins encline à l'impérialisme traditionnel. De plus, les États-Unis n'avaient pas le même historique colonial que les puissances européennes dans la région, ce qui les rendait moins susceptibles de susciter l'hostilité des populations locales. L'immédiat après-guerre a donc été une période de profonde incertitude et de tension dans le Moyen-Orient, les populations locales luttant pour leur indépendance et leur autonomie face à des puissances étrangères cherchant à façonner la région selon leurs propres intérêts stratégiques et économiques. Les répercussions de ces événements ont façonné l'histoire politique et sociale du Moyen-Orient tout au long du 20e siècle et continuent d'influencer les relations internationales dans la région.
La Syrie
L'Aube du Nationalisme Arabe: Le Rôle de Fayçal
Fayçal, fils du Chérif Hussein ben Ali de La Mecque, a joué un rôle de premier plan dans la Révolte arabe contre l'Empire ottoman pendant la Première Guerre mondiale et dans les tentatives ultérieures de former un royaume arabe indépendant. Après la guerre, il s'est rendu à la Conférence de paix de Paris en 1919, armé des promesses britanniques d'indépendance pour les Arabes en échange de leur soutien durant le conflit. Cependant, une fois à Paris, Fayçal a rapidement constaté les réalités politiques complexes et les intrigues de la diplomatie post-guerre. Les intérêts français au Moyen-Orient, en particulier en Syrie et au Liban, étaient en contradiction directe avec les aspirations à l'indépendance arabe. Les Français étaient résolument opposés à la création d'un royaume arabe unifié sous la direction de Fayçal, envisageant plutôt de placer ces territoires sous leur contrôle dans le cadre du système de mandats de la Société des Nations. Face à cette opposition, et conscient de la nécessité de renforcer sa position politique, Fayçal a négocié un accord avec le Premier ministre français Georges Clemenceau. Cet accord visait à établir un protectorat français sur la Syrie, ce qui était en désaccord avec les aspirations des nationalistes arabes. Fayçal a gardé cet accord secret de ses partisans, qui continuaient à lutter pour l'indépendance complète.
Entre-temps, un État syrien était en cours de formation. Sous la direction de Fayçal, des efforts ont été entrepris pour établir les fondations d'un État moderne, avec des réformes dans l'éducation, la création d'une administration publique, la mise en place d'une armée et l'élaboration de politiques visant à renforcer l'identité et la souveraineté nationales. Malgré ces développements, la situation en Syrie restait précaire. L'accord secret avec Clemenceau et le manque de soutien britannique ont placé Fayçal dans une position difficile. Finalement, la France a pris le contrôle direct de la Syrie en 1920 après la bataille de Maysaloun, mettant fin aux espoirs de Fayçal d'établir un royaume arabe indépendant. Fayçal a été expulsé de Syrie par les Français, mais il deviendra plus tard le roi de l'Irak, un autre État nouvellement formé sous mandat britannique.
La Syrie Sous le Mandat Français: Les Accords Sykes-Picot
Les accords Sykes-Picot, conclus en 1916 entre la Grande-Bretagne et la France, avaient établi un partage d'influence et de contrôle sur les territoires de l'ancien Empire ottoman après la Première Guerre mondiale. Selon ces accords, la France devait obtenir le contrôle de ce qui est aujourd'hui la Syrie et le Liban, tandis que la Grande-Bretagne devait contrôler l'Irak et la Palestine. En juillet 1920, la France a cherché à consolider son contrôle sur les territoires qui lui avaient été promis par les accords Sykes-Picot. La bataille de Maysaloun s'est déroulée entre les forces françaises et les troupes de l'éphémère royaume arabe syrien sous le commandement du roi Fayçal. Les forces de Fayçal, mal équipées et mal préparées, ont été largement dépassées par l'armée française mieux équipée et entraînée. La défaite à la bataille de Maysaloun a été un coup dévastateur pour les aspirations arabes à l'indépendance et a mis fin au règne de Fayçal en Syrie. Suite à cette défaite, il a été forcé à l'exil. Cet événement a marqué l'établissement du mandat français sur la Syrie, qui a été officiellement reconnu par la Société des Nations malgré les aspirations à l'autodétermination des peuples syriens. La mise en place des mandats était censée préparer les territoires à l'autonomie et à l'indépendance éventuelles, mais dans la pratique, elle a souvent fonctionné comme une conquête et une administration coloniale. Les populations locales ont largement considéré les mandats comme une continuation du colonialisme européen, et la période du mandat français en Syrie a été marquée par des rébellions et une résistance significatives. Cette période a façonné de nombreuses dynamiques politiques, sociales et nationales en Syrie, influençant l'histoire et l'identité du pays jusqu'à ce jour.
La Fragmentation et l'Administration Française en Syrie
Après avoir établi le contrôle sur les territoires syriens suite à la bataille de Maysaloun, la France, sous l'autorité du mandat conféré par la Société des Nations, a entrepris de restructurer la région selon ses propres conceptions administratives et politiques. Cette restructuration impliquait souvent la division des territoires en fonction de critères confessionnels ou ethniques, une pratique courante de la politique coloniale qui visait à fragmenter et à affaiblir les mouvements nationalistes locaux.
En Syrie, les autorités mandataires françaises ont divisé le territoire en plusieurs entités, y compris l'État des Alépins, l'État des Damascènes, l'État alaouite et le Grand Liban, ce dernier devenant la République libanaise moderne. Ces divisions reflétaient en partie les réalités socioculturelles complexes de la région, mais elles ont également été conçues pour empêcher l'émergence d'une unité arabe qui pourrait contester la domination française, incarnant la stratégie de "diviser pour mieux régner". Le Liban, en particulier, a été créé avec une identité distincte, en grande partie pour servir les intérêts des communautés chrétiennes maronites, qui entretenaient des liens historiques avec la France. La création de ces différents États au sein de la Syrie mandataire a provoqué une fragmentation politique qui a compliqué les efforts pour un mouvement national unifié.
La France a administré ces territoires d'une manière similaire à ses départements métropolitains, en imposant une structure centralisée et en plaçant des hauts-commissaires pour gouverner les territoires au nom du gouvernement français. Cette administration directe s'est accompagnée de la mise en place rapide d'institutions administratives et éducatives dans le but d'assimiler les populations locales à la culture française et de renforcer la présence française dans la région. Cependant, cette politique a exacerbé les frustrations arabes, car de nombreux Syriens et Libanais aspiraient à l'indépendance et au droit de déterminer leur propre avenir politique. Les politiques de la France ont souvent été perçues comme une continuation de l'ingérence occidentale et ont alimenté le sentiment nationaliste et anti-colonialiste. Des soulèvements et des révoltes ont éclaté en réponse à ces mesures, notamment la Grande Révolte syrienne de 1925-1927, qui a été violemment réprimée par les Français. L'héritage de cette période a laissé des marques durables sur la Syrie et le Liban, façonnant leurs frontières, leurs structures politiques et leurs identités nationales. Les tensions et les divisions établies sous le mandat français ont continué à influencer les dynamiques politiques et communautaires de ces pays bien après leur indépendance.
La Révolte de 1925-1927 et la Répression Française
La Grande Révolte syrienne, qui a éclaté en 1925, est un épisode marquant de la résistance contre le mandat français en Syrie. Elle a commencé parmi la population druze du Jabal al-Druze (Montagne des Druzes) dans le sud de la Syrie et s'est rapidement étendue à d'autres régions, y compris à la capitale, Damas. Les Druzes, qui avaient joui d'une certaine autonomie et de privilèges sous l'administration ottomane, se sont retrouvés marginalisés et leurs pouvoirs réduits sous le mandat français. Leur mécontentement face à la perte d'autonomie et aux politiques imposées par les Français, qui cherchaient à centraliser l'administration et à affaiblir les pouvoirs locaux traditionnels, a été l'étincelle qui a déclenché la révolte. La révolte s'est étendue et a pris de l'ampleur, gagnant le soutien de divers segments de la société syrienne, y compris des nationalistes arabes qui s'opposaient à la domination étrangère et aux divisions administratives imposées par la France. La réaction des autorités mandataires françaises a été extrêmement sévère. Elles ont eu recours à des bombardements aériens, des exécutions de masse et des expositions publiques des corps des insurgés pour dissuader d'autres résistances.
Les actions répressives des Français, qui comprenaient la destruction de villages et la brutalité à l'égard des civils, ont été largement condamnées et ont terni la réputation de la France tant au niveau international que parmi les populations locales. Bien que la révolte ait été éventuellement écrasée, elle est restée gravée dans la mémoire collective syrienne comme un symbole de la lutte pour l'indépendance et la dignité nationale. La Grande Révolte syrienne a aussi eu des implications à long terme pour la politique syrienne, renforçant le sentiment anti-colonial et contribuant à forger une identité nationale syrienne. Elle a également contribué à des changements dans la politique française, qui a dû ajuster son approche du mandat en Syrie, conduisant finalement à l'accroissement de l'autonomie syrienne dans les années qui ont suivi.
Le Chemin Vers l'Indépendance de la Syrie
La gestion du mandat français en Syrie a été marquée par des politiques qui s'apparentaient davantage à une administration coloniale qu'à une tutelle bienveillante menant à l'autodépendance, contrairement à ce que prévoyait théoriquement le système de mandats de la Société des Nations. La répression de la Grande Révolte syrienne et la centralisation administrative ont renforcé les sentiments nationalistes et anticolonialistes en Syrie, qui ont continué à croître malgré l'oppression.
La montée du nationalisme syrien, ainsi que les changements géopolitiques mondiaux, ont finalement conduit à l'indépendance du pays. Après la Seconde Guerre mondiale, dans un monde qui s'orientait de plus en plus contre le colonialisme, la France a été forcée de reconnaître l'indépendance de la Syrie en 1946. Cependant, cette transition vers l'indépendance a été compliquée par les manœuvres politiques régionales et les alliances internationales, notamment concernant la Turquie. Durant la Seconde Guerre mondiale, la Turquie a maintenu une position neutre pendant la majeure partie du conflit, mais ses relations avec l'Allemagne nazie ont suscité des inquiétudes chez les Alliés. Dans un effort pour sécuriser la neutralité turque ou pour éviter que la Turquie ne s'allie avec les puissances de l'Axe, la France a effectué un geste diplomatique en cédant la région de Hatay (historiquement connue sous le nom d'Antioche et Alexandrette) à la Turquie.
La région de Hatay avait une importance stratégique et une population mixte, avec des communautés turques, arabes et arméniennes. La question de son appartenance a été un sujet de tension entre la Syrie et la Turquie depuis le démembrement de l'Empire ottoman. En 1939, un plébiscite, dont la légitimité a été contestée par les Syriens, a eu lieu et a conduit à l'annexion formelle de la région à la Turquie. La cession de Hatay a été un coup dur pour le sentiment national syrien et a laissé une cicatrice dans les relations turco-syriennes qui perdure. Pour la Syrie, la perte de Hatay est souvent perçue comme un acte de trahison de la part de la France et un exemple douloureux des manipulations territoriales des puissances coloniales. Pour la Turquie, l'annexion de Hatay a été vue comme la rectification d'une division injuste du peuple turc et la récupération d'un territoire historiquement lié à l'Empire ottoman..
Au cours de la Seconde Guerre mondiale, lorsque la France a été vaincue et occupée par l'Allemagne nazie en 1940, le gouvernement de Vichy, un régime collaborationniste dirigé par le maréchal Philippe Pétain, a été établi. Ce régime a également pris le contrôle des territoires français outre-mer, y compris le mandat français au Liban. Le gouvernement de Vichy, aligné sur les puissances de l'Axe, a permis aux forces allemandes d'utiliser les infrastructures militaires au Liban, ce qui posait un risque sécuritaire pour les Alliés, notamment les Britanniques, qui étaient engagés dans une campagne militaire au Moyen-Orient. La présence de l'Axe au Liban était perçue comme une menace directe aux intérêts britanniques, particulièrement avec la proximité des champs pétrolifères et des routes de transport stratégiques. Les Britanniques et les Forces françaises libres, dirigées par le général Charles de Gaulle et opposées au régime de Vichy, ont lancé l'Opération Exporter en 1941. Cette campagne militaire avait pour objectif de prendre le contrôle du Liban et de la Syrie et d'éliminer la présence des forces de l'Axe dans la région. Après de durs combats, les troupes britanniques et les Forces françaises libres ont réussi à prendre le contrôle du Liban et de la Syrie, et le régime de Vichy a été expulsé.
À la fin de la guerre, la pression britannique et l'évolution des attitudes internationales envers le colonialisme ont contraint la France à reconsidérer sa position au Liban. En 1943, les leaders libanais ont négocié avec les autorités françaises pour obtenir l'indépendance du pays. Bien que la France ait initialement tenté de maintenir son influence et a même brièvement arrêté le nouveau gouvernement libanais, des pressions internationales et des soulèvements populaires ont finalement conduit la France à reconnaître l'indépendance du Liban. Le 22 novembre 1943 est célébré comme le jour de l'indépendance du Liban, marquant la fin officielle du mandat français et la naissance du Liban en tant qu'État souverain. Cette transition vers l'indépendance a été un moment clé pour le Liban et a posé les fondations pour l'avenir du pays en tant que nation indépendante.
Après avoir acquis son indépendance, la Syrie s'est orientée vers une politique panarabe et nationaliste, en partie en réaction à l'ère du mandat et aux défis posés par la formation de l'État d'Israël et le conflit israélo-arabe. Le sentiment nationaliste était exacerbé par la frustration face aux divisions internes, à l'ingérence étrangère et au sentiment d'humiliation suite aux expériences coloniales.
La participation de la Syrie à la guerre arabo-israélienne de 1948 contre l'État nouvellement formé d'Israël a été motivée par ces sentiments nationalistes et panarabes, ainsi que par la pression de la solidarité arabe. Cependant, la défaite des armées arabes dans cette guerre a eu des conséquences profondes pour la région, y compris pour la Syrie. Elle a engendré une période d'instabilité politique interne, marquée par une série de coups d'État militaires qui ont caractérisé la politique syrienne dans les années suivantes. La défaite en 1948 et les problèmes internes qui ont suivi ont exacerbé la méfiance du public syrien envers les dirigeants civils et les politiciens, qui étaient souvent perçus comme corrompus ou inefficaces. L'armée est devenue l'institution la plus stable et la plus puissante de l'État, et a été le principal acteur dans les fréquents changements de gouvernance. Les coups d'État militaires sont devenus une méthode courante pour changer de gouvernement, reflétant les profondes divisions politiques, idéologiques et sociales du pays.
Ce cycle d'instabilité a préparé le terrain pour l'ascension du parti Baas, qui a finalement pris le pouvoir en 1963. Le parti Baas, avec son idéologie panarabe socialiste, a cherché à réformer la société syrienne et à renforcer l'État, mais a également conduit à un gouvernement plus autoritaire et centralisé, dominé par l'appareil militaire et sécuritaire. Les tensions internes de la Syrie, combinées à ses relations complexes avec ses voisins et aux dynamiques régionales, ont fait de l'histoire contemporaine du pays une période de turbulences politiques, qui ont finalement culminé avec la guerre civile syrienne débutée en 2011.
L'Instabilité Politique et la Montée du Parti Baas
Le Baasisme, une idéologie politique arabe qui prône le socialisme, le panarabisme et le laïcisme, a commencé à gagner du terrain dans le monde arabe au cours des années 1950. En Syrie, où les sentiments panarabes étaient particulièrement forts après l'indépendance, l'idée de l'unité arabe a trouvé un écho favorable, particulièrement à la suite des instabilités politiques internes. Les aspirations panarabes de la Syrie l'ont amenée à chercher une union plus étroite avec l'Égypte, alors dirigée par Gamal Abdel Nasser, un leader charismatique dont la popularité s'étendait bien au-delà des frontières égyptiennes, notamment grâce à sa nationalisation du canal de Suez et à son opposition à l'impérialisme. Nasser était considéré comme le champion du panarabisme et avait réussi à promouvoir une vision d'unité et de coopération entre les États arabes. En 1958, cette aspiration à l'unité a abouti à la formation de la République arabe unie (RAU), une union politique entre l'Égypte et la Syrie. Ce développement a été salué comme une étape majeure vers l'unité arabe et a suscité de grands espoirs pour l'avenir politique du monde arabe.
Cependant, l'union a rapidement montré des signes de tension. Bien que la RAU ait été présentée comme une union d'égaux, dans la pratique, le leadership politique de l'Égypte et de Nasser est devenu prédominant. Les institutions politiques et économiques de la RAU étaient largement centralisées au Caire, et la Syrie a commencé à ressentir qu'elle était réduite au statut de province égyptienne plutôt que de partenaire égal dans l'union. Ces tensions ont été exacerbées par les différences dans les structures politiques, économiques et sociales des deux pays. La domination égyptienne et les frustrations croissantes en Syrie ont finalement conduit à la dissolution de la RAU en 1961, lorsque des officiers militaires syriens ont mené un coup d'État qui a séparé la Syrie de l'union. L'expérience de la RAU a laissé un héritage ambivalent : d'un côté, elle a montré le potentiel de l'unité arabe, mais de l'autre, elle a révélé les défis pratiques et idéologiques à surmonter pour réaliser une véritable intégration politique entre les États arabes.
Le 28 septembre 1961, un groupe d'officiers militaires syriens, mécontents de la centralisation excessive du pouvoir au Caire et de la domination égyptienne au sein de la République arabe unie (RAU), a mené un coup d'État qui a marqué la fin de l'union entre la Syrie et l'Égypte. Ce soulèvement était principalement motivé par des sentiments nationalistes et régionalistes en Syrie, où de nombreux citoyens et politiciens se sentaient marginalisés et négligés par le gouvernement de la RAU dirigé par Nasser. La dissolution de la RAU a exacerbé l'instabilité politique déjà présente en Syrie, qui avait connu une série de coups d'État depuis son indépendance en 1946. La séparation de l'Égypte a été accueillie avec soulagement par de nombreux Syriens qui s'inquiétaient de la perte de souveraineté et d'autonomie de leur pays. Cependant, elle a également créé un vide politique que divers groupes et factions, y compris le parti Baas, chercheraient à exploiter. Le coup d'État de 1961 a donc préparé le terrain pour une période de conflit politique intense en Syrie, qui verrait le parti Baas se frayer un chemin vers le pouvoir en 1963. Sous la direction du Baas, la Syrie adopterait une série de réformes socialistes et panarabes, tout en établissant un régime autoritaire qui allait dominer la vie politique syrienne pendant plusieurs décennies. La période qui a suivi le coup d'État de 1961 a été marquée par des tensions entre les factions baasistes et autres groupes politiques, chacun cherchant à imposer sa vision pour l'avenir de la Syrie.
La Syrie, après une période d'instabilité politique et de coups d'État successifs, a connu un tournant décisif en 1963 avec l'arrivée au pouvoir du parti Baas. Ce mouvement, fondé sur les principes du panarabisme et du socialisme, visait à transformer la société syrienne en promouvant une identité arabe unifiée et en mettant en œuvre des réformes sociales et économiques profondes. Le parti Baas, sous la direction de Michel Aflaq et Salah al-Din al-Bitar, avait émergé comme une force politique majeure, prônant une vision du socialisme adaptée aux spécificités du monde arabe. Leur idéologie combinait la promotion d'un État laïc avec des politiques socialistes, telles que la nationalisation des industries clés et la réforme agraire, visant à redistribuer les terres aux paysans et à moderniser l'agriculture.
Dans le domaine de l'éducation, le gouvernement baasiste a initié des réformes visant à augmenter l'alphabétisation et à inculquer des valeurs socialistes et panarabes. Ces réformes visaient à forger une nouvelle identité nationale, en se concentrant sur l'histoire et la culture arabes, tout en promouvant la science et la technologie comme moyens de modernisation. En parallèle, la Syrie a connu une période de sécularisation accélérée. Le parti Baas a œuvré pour réduire le rôle de la religion dans les affaires de l'État, s'efforçant de créer une société plus homogène sur le plan idéologique, tout en gérant la diversité religieuse et ethnique du pays.
Cependant, ces réformes ont également été accompagnées d'une augmentation de l'autoritarisme. Le parti Baas a consolidé son emprise sur le pouvoir, limitant les libertés politiques et réprimant toute forme d'opposition. Les tensions internes au sein du parti et au sein de la société syrienne ont continué à se manifester, culminant avec l'ascension de Hafez al-Assad au pouvoir en 1970. Sous Assad, la Syrie a poursuivi sa trajectoire de socialisme arabe, mais avec une emprise encore plus forte du régime sur la société et la politique. La période baasiste en Syrie a ainsi été caractérisée par un mélange de modernisation et d'autoritarisme, reflétant les complexités de la mise en œuvre d'une idéologie socialiste et panarabe dans un contexte de diversité culturelle et de défis politiques internes et externes. Cette époque a posé les bases du développement politique et social syrien pour les décennies suivantes, influençant profondément l'histoire contemporaine du pays.
L'Ère d'Hafez al-Assad: Consolidation du Pouvoir
L'évolution du parti Baas en Syrie a été marquée par des luttes de pouvoir internes et des divisions idéologiques, culminant dans un coup d'État en 1966. Ce coup d'État a été orchestré par une faction plus radicalement socialiste au sein du parti, qui cherchait à imposer une ligne politique plus stricte et plus alignée sur les principes socialistes et panarabes. Ce changement a conduit à une période de gouvernance plus dogmatique et idéologiquement rigide. Les nouveaux dirigeants du parti Baas ont poursuivi la mise en œuvre de réformes socialistes, tout en renforçant le contrôle étatique sur l'économie et en accentuant la rhétorique panarabe. Cependant, la défaite de la Syrie et d'autres pays arabes face à Israël lors de la guerre des Six Jours en 1967 a porté un coup sévère à la légitimité du parti Baas et à la vision panarabe en général. La perte du plateau du Golan au profit d'Israël et l'échec à atteindre les objectifs de la guerre ont entraîné une désillusion et un questionnement sur la direction politique du pays. Cette période a été marquée par le chaos et une instabilité accrue, exacerbant les tensions internes en Syrie.
Dans ce contexte, Hafez al-Assad, alors ministre de la Défense, a saisi l'opportunité pour consolider son pouvoir. En 1970, il a mené un coup d'État militaire réussi, écartant les dirigeants baasistes radicaux et prenant le contrôle du gouvernement. Assad a modifié la direction du parti Baas et de l'État syrien, en se concentrant davantage sur la stabilisation du pays et sur le nationalisme syrien plutôt que sur le panarabisme. Sous la direction d'Assad, la Syrie a connu une période de stabilisation relative et de consolidation du pouvoir. Assad a mis en place un régime autoritaire, contrôlant étroitement tous les aspects de la vie politique et sociale. Il a également cherché à renforcer l'armée et les services de sécurité, établissant un régime centré sur la sécurité et la survie du pouvoir. La prise de pouvoir par Hafez al-Assad en 1970 a donc marqué un tournant dans l'histoire moderne de la Syrie, inaugurant une ère de gouvernance plus centralisée et autoritaire, qui allait façonner l'avenir du pays pour les décennies à venir.
Hafez al-Assad, après avoir pris le pouvoir en Syrie en 1970, a rapidement compris la nécessité d'une base sociale solide et d'une certaine légitimité pour maintenir son régime. Pour consolider son pouvoir, il s'est appuyé sur sa communauté d'origine, les Alawites, une secte minoritaire du chiisme. Assad a stratégiquement placé des membres de la communauté alawite dans des postes clés au sein de l'armée, des services de sécurité et de l'administration gouvernementale. Cette approche a permis d'assurer la loyauté des institutions les plus importantes à son régime. Tout en conservant une rhétorique panarabe dans le discours officiel, Assad a centré le pouvoir autour de la nation syrienne, éloignant ainsi la politique syrienne de l'ambition plus large du panarabisme. Il a adopté une approche pragmatique en matière de politique intérieure et extérieure, cherchant à stabiliser le pays et à renforcer son pouvoir.
Le régime d'Assad a utilisé des tactiques de division et de cooptation, similaires à celles employées par les Français pendant le mandat, pour gérer la diversité ethnique et religieuse de la Syrie. En fragmentant et en manipulant les différentes communautés, le régime a cherché à empêcher l'émergence d'une opposition unifiée. La répression politique est devenue une caractéristique du régime, avec la mise en place d'un appareil sécuritaire étendu et efficace pour surveiller et contrôler la société. Malgré la purge de nombreuses factions de l'opposition, le régime d'Assad a dû faire face à un défi significatif de la part des groupes islamistes. Ces groupes, bénéficiant d'une base sociale solide, en particulier parmi les populations sunnites plus conservatrices, ont représenté une opposition persistante au régime laïc et alawite d'Assad. La tension entre le gouvernement et les groupes islamistes a culminé dans le soulèvement de la ville de Hama en 1982, qui a été brutalement réprimé par le régime. Ainsi, le règne d'Hafez al-Assad en Syrie a été caractérisé par une centralisation du pouvoir, une politique de répression et une certaine stabilisation du pays, mais aussi par une gestion complexe et souvent conflictuelle de la diversité sociopolitique du pays.
Le massacre de Hama en 1982 est l'un des épisodes les plus sombres et les plus sanglants de l'histoire moderne de la Syrie. Cette répression brutale a été ordonnée par Hafez al-Assad en réponse à une insurrection menée par les Frères musulmans dans la ville de Hama. Hama, une ville avec une forte présence islamiste et un bastion de l'opposition aux politiques laïques et alaouites du régime d'Assad, est devenue le centre d'une révolte armée contre le gouvernement. En février 1982, les forces de sécurité syriennes, dirigées par le frère d'Assad, Rifaat al-Assad, ont encerclé la ville et lancé une offensive militaire massive pour écraser la rébellion. La répression a été impitoyable et disproportionnée. Les forces gouvernementales ont utilisé des bombardements aériens, de l'artillerie lourde, et des troupes au sol pour détruire de larges parties de la ville et éliminer les insurgés. Le nombre exact de victimes reste incertain, mais les estimations suggèrent que des milliers de personnes, peut-être jusqu'à 20 000 ou plus, ont été tuées. De nombreux civils ont perdu la vie dans ce qui a été décrit comme un acte de punition collective. Le massacre de Hama n'était pas seulement une opération militaire ; il avait également une forte dimension symbolique. Il visait à envoyer un message clair à toute opposition potentielle au régime d'Assad : la rébellion serait rencontrée avec une force écrasante et impitoyable. La destruction de Hama a servi d'avertissement brutal et a réprimé la dissidence en Syrie pendant des années. Cette répression a également laissé des cicatrices profondes dans la société syrienne et a été un tournant dans la manière dont le régime d'Assad était perçu, tant au niveau national qu'international. Le massacre de Hama est devenu un symbole de l'oppression brutale en Syrie et a contribué à l'image du régime d'Assad comme étant l'un des plus répressifs du Moyen-Orient.
La gouvernance d'Hafez al-Assad en Syrie a dû naviguer dans les eaux complexes de la légitimité religieuse, en particulier en raison de sa propre appartenance à la communauté alaouite, une branche du chiisme souvent perçue avec suspicion par la majorité sunnite en Syrie. Pour asseoir sa légitimité et celle de son régime aux yeux de la majorité sunnite, Assad a dû s'appuyer sur des personnalités religieuses sunnites pour des rôles de fatwa et d'autres positions clés dans le domaine religieux. Ces personnalités étaient chargées d'interpréter la loi islamique et de fournir des justifications religieuses pour les actions du régime. La position des Alawites en tant que minorité religieuse dans un pays majoritairement sunnite a toujours été un défi pour Assad, qui a dû équilibrer les intérêts et les perceptions des différentes communautés pour maintenir son pouvoir. Bien que les Alawites aient été placés dans des postes clés du gouvernement et de l'armée, Assad a également cherché à se présenter comme un leader de tous les Syriens, indépendamment de leur affiliation religieuse.
La Syrie Contemporaine: De Hafez à Bachar al-Assad
À la mort de Hafez al-Assad en 2000, son fils, Bachar al-Assad, lui a succédé. Bachar, initialement perçu comme un réformateur potentiel et un agent possible de changement, a hérité d'un système de gouvernance complexe et autoritaire. Sous sa direction, la Syrie a continué de naviguer dans les défis posés par sa diversité religieuse et ethnique, ainsi que dans les pressions internes et externes. Le règne de Bachar al-Assad a été marqué par des tentatives de réforme et de modernisation, mais également par une continuité dans la consolidation du pouvoir et le maintien de la structure autoritaire héritée de son père. La situation en Syrie s'est radicalement transformée avec le début du soulèvement populaire en 2011, qui a évolué en une guerre civile complexe et dévastatrice, impliquant de multiples acteurs internes et externes et ayant des répercussions profondes sur la région et au-delà.
Le Liban
Domination Ottomane et Mosaïque Culturelle (16ème Siècle - Première Guerre Mondiale)
Le Liban, avec son histoire riche et complexe, a été influencé par diverses puissances et cultures au fil des siècles. Depuis le 16ème siècle jusqu'à la fin de la Première Guerre mondiale, le territoire qui est aujourd'hui le Liban était sous le contrôle de l'Empire ottoman. Cette période a vu le développement d'une mosaïque culturelle et religieuse distincte, caractérisée par une diversité ethnique et confessionnelle.
Deux groupes en particulier, les Druzes et les Maronites (une communauté chrétienne orientale), ont joué un rôle central dans l'histoire du Liban. Ces deux communautés ont souvent été en opposition l'une avec l'autre, en partie à cause de leurs différences religieuses et de leur lutte pour le pouvoir politique et social dans la région. Les Druzes, une minorité religieuse qui s'est développée à partir de l'Islam chiite ismaélien, se sont établis principalement dans les montagnes du Liban et de la Syrie. Ils ont maintenu une identité distincte et ont souvent exercé un pouvoir politique et militaire significatif dans leurs régions. Les Maronites, d'autre part, sont une communauté chrétienne orientale en communion avec l'Église catholique romaine. Ils se sont principalement établis dans les montagnes du Liban, où ils ont développé une forte identité culturelle et religieuse. Les Maronites ont également établi des liens étroits avec les puissances européennes, en particulier la France, ce qui a eu une influence significative sur l'histoire et la politique libanaises. La coexistence et parfois la confrontation entre ces communautés, ainsi qu'avec d'autres groupes tels que les sunnites, les chiites et les orthodoxes, ont façonné l'histoire sociopolitique du Liban. Ces dynamiques ont joué un rôle clé dans la formation de l'identité libanaise et ont influencé la structure politique du Liban moderne, notamment le système de partage du pouvoir confessionnel, qui cherche à équilibrer la représentation de ses divers groupes religieux.
Mandat Français et Restructuration Administrative (Après la Première Guerre Mondiale - 1943)
Durant le mandat français au Liban, la France a tenté de jouer un rôle de médiateur entre les différentes communautés religieuses et ethniques du pays, tout en mettant en place une structure administrative qui reflétait et renforçait la diversité du Liban. Avant l'établissement du mandat français, le Mont Liban avait déjà une certaine autonomie sous l'Empire ottoman, particulièrement après l'instauration de la Mutasarrifiyyah en 1861. La Mutasarrifiyyah du Mont Liban était une région autonome avec son propre gouverneur chrétien, créée en réponse aux conflits entre les Maronites chrétiens et les Druzes musulmans qui avaient éclaté dans les années 1840 et 1860. Cette structure visait à apaiser les tensions en assurant une gouvernance plus équilibrée et en offrant une certaine autonomie à la région.
Lorsque la France a pris le contrôle du Liban après la Première Guerre mondiale, elle a hérité de cette structure complexe et a cherché à maintenir l'équilibre entre les différentes communautés. Le mandat français a élargi les frontières du Mont Liban pour inclure des régions avec des populations musulmanes importantes, formant ainsi le Grand Liban en 1920. Cette expansion visait à créer un État libanais plus viable économiquement, mais elle a également introduit de nouvelles dynamiques démographiques et politiques. Le système politique au Liban sous le mandat français était basé sur un modèle de consociationalisme, où le pouvoir était partagé entre les différentes communautés religieuses. Ce système visait à garantir une représentation équitable des principaux groupes religieux du Liban dans l'administration et la politique, et il a jeté les bases du système politique confessionnel qui caractérise le Liban moderne. Cependant, le mandat français n'était pas sans controverse. Les politiques françaises ont parfois été perçues comme favorisant certaines communautés au détriment d'autres, et il y avait une résistance à la domination étrangère. Néanmoins, le mandat a joué un rôle significatif dans la formation de l'État libanais et dans la définition de son identité nationale.
Durant la Conférence de paix de Paris en 1919, qui a suivi la fin de la Première Guerre mondiale, la France a joué un rôle stratégique en influençant le processus de décision concernant l'avenir des territoires du Moyen-Orient, notamment le Liban. La présence de deux délégations libanaises à cette conférence était une manœuvre de la France pour contrer les revendications de Fayçal, le leader du Royaume arabe de Syrie, qui cherchait à établir un État arabe indépendant incluant le Liban.
Fayçal, soutenu par les nationalistes arabes, revendiquait un grand État arabe indépendant qui s'étendrait sur une grande partie du Levant, y compris le Liban. Ces revendications étaient en contradiction directe avec les intérêts français dans la région, qui incluaient l'établissement d'un mandat sur le Liban et la Syrie. Pour contrer l'influence de Fayçal et justifier leur propre mandat sur la région, les Français ont encouragé la formation de délégations libanaises composées de représentants chrétiens maronites et d'autres groupes qui étaient favorables à l'idée d'un Liban sous mandat français. Ces délégations ont été envoyées à Paris pour plaider en faveur de la protection française et pour souligner l'identité distincte du Liban par rapport à la Syrie et aux aspirations panarabes de Fayçal. En présentant ces délégations comme représentatives des aspirations du peuple libanais, la France a cherché à légitimer ses revendications de mandat sur le Liban et à démontrer qu'une partie significative de la population libanaise préférait la protection française à l'intégration dans un État arabe unifié sous la direction de Fayçal. Cette manœuvre a contribué à façonner l'issue de la conférence et a joué un rôle important dans l'établissement des mandats français et britannique au Moyen-Orient, conformément aux accords Sykes-Picot.
Lutte pour l'Indépendance et le Confessionnalisme (1919 - 1943)
La création de l'État libanais moderne en 1921, sous le mandat français, a été marquée par l'adoption d'un système politique communautaire unique, connu sous le nom de "confessionnalisme politique". Ce système visait à gérer la diversité religieuse et ethnique du Liban en allouant le pouvoir politique et les postes gouvernementaux en fonction de la répartition démographique des différentes communautés confessionnelles. Le confessionnalisme libanais a été conçu pour assurer une représentation équitable de toutes les principales communautés religieuses du pays. Selon ce système, les principaux postes de l'État, y compris le Président, le Premier ministre et le Président de l'Assemblée nationale, étaient réservés à des membres de communautés spécifiques : le Président devait être un Maronite chrétien, le Premier ministre un musulman sunnite, et le Président de l'Assemblée un musulman chiite. Cette répartition des postes était basée sur un recensement de la population effectué en 1932.
Bien que conçu pour promouvoir la coexistence pacifique et l'équilibre entre les différentes communautés, ce système a été critiqué pour avoir institutionnalisé les divisions confessionnelles et pour avoir encouragé la politique basée sur l'identité communautaire plutôt que sur les programmes ou les idéologies politiques. De plus, le système était fragile, car il dépendait des données démographiques qui pouvaient changer au fil du temps. Les élites politiques et les dirigeants communautaires, bien qu'initialement favorables à ce système qui leur garantissait une représentation et une influence, ont été de plus en plus frustrés par ses limitations et ses faiblesses. Le système a également été mis sous pression par des facteurs externes, notamment l'afflux de réfugiés palestiniens après la création de l'État d'Israël en 1948 et les idéaux du panarabisme, qui remettaient en question l'ordre politique confessionnel du Liban. Ces facteurs ont contribué à des déséquilibres démographiques et ont accentué les tensions politiques et confessionnelles au sein du pays. Le système confessionnel, bien qu'il ait été une tentative de gérer la diversité du Liban, a finalement été un facteur clé dans l'instabilité politique qui a conduit à la guerre civile libanaise de 1975-1990. Cette guerre a profondément marqué le Liban et a révélé les limites et les défis du système confessionnel dans la gestion de la diversité et de la cohésion nationale.
Guerre Civile Libanaise : Causes et Impact International (1975 - 1990)
La guerre civile libanaise, qui a débuté en 1975, a été influencée par de nombreux facteurs internes et externes, notamment les tensions croissantes liées à la présence palestinienne au Liban. L'arrivée massive de réfugiés et de combattants palestiniens au Liban, particulièrement après les événements de "Septembre Noir" en 1970 en Jordanie, a été un élément déclencheur majeur de la guerre civile. En septembre 1970, le roi Hussein de Jordanie a lancé une campagne militaire pour expulser l'Organisation de libération de la Palestine (OLP) et d'autres groupes armés palestiniens de Jordanie, à la suite de tentatives croissantes de ces groupes de s'immiscer dans les affaires intérieures jordaniennes. Cette campagne, connue sous le nom de "Septembre Noir", a conduit à un afflux important de Palestiniens au Liban, exacerbant les tensions existantes dans le pays. La présence croissante de Palestiniens armés et l'activisme de l'OLP contre Israël à partir du sol libanais ont ajouté une nouvelle dimension au conflit libanais, compliquant davantage la situation politique déjà fragile. Les groupes palestiniens, en particulier dans le sud du Liban, ont souvent été en conflit avec les communautés libanaises locales et ont été impliqués dans des attaques transfrontalières contre Israël.
En réponse à ces attaques et à la présence de l'OLP, Israël a lancé plusieurs opérations militaires au Liban, culminant avec l'invasion du Liban en 1982. L'occupation israélienne du sud du Liban a été motivée par le désir d'Israël de sécuriser ses frontières nord et de démanteler la base d'opérations de l'OLP. La guerre civile libanaise a donc été alimentée par un mélange de tensions internes, de conflits confessionnels, de déséquilibres démographiques et de facteurs externes, y compris les interventions israéliennes et les dynamiques régionales liées au conflit israélo-arabe. Cette guerre, qui a duré jusqu'en 1990, a été dévastatrice pour le Liban, entraînant d'énormes pertes humaines, des déplacements massifs de populations et des destructions généralisées. Elle a profondément transformé la société et la politique libanaises et a laissé des cicatrices qui continuent d'affecter le pays.
Influence Syrienne et Accords de Taëf (1976 - 2005)
La guerre civile libanaise et l'intervention syrienne dans le conflit sont des éléments clés pour comprendre l'histoire récente du Liban. La Syrie, sous la direction de Hafez al-Assad, a joué un rôle complexe et parfois contradictoire dans la guerre civile libanaise. La Syrie, ayant ses propres intérêts géopolitiques au Liban, est intervenue dans le conflit dès 1976. Officiellement, cette intervention était justifiée comme un effort pour stabiliser le Liban et prévenir une escalade du conflit. Cependant, de nombreux observateurs ont noté que la Syrie avait également des ambitions d'expansion et de contrôle sur le Liban, qui était historiquement et culturellement lié à la Syrie. Durant la guerre, la Syrie a soutenu diverses factions et communautés libanaises, souvent en fonction de ses intérêts stratégiques du moment. Cette implication a parfois été perçue comme une tentative de la part de la Syrie d'exercer son influence et de renforcer sa position au Liban. La guerre civile a finalement pris fin avec les Accords de Taëf en 1989, un accord de paix négocié avec le soutien de la Ligue arabe et sous la supervision de la Syrie. Les Accords de Taëf ont redéfini l'équilibre politique confessionnel au Liban, en modifiant le système de partage du pouvoir pour mieux refléter la démographie actuelle du pays. Ils ont également prévu la fin de la guerre civile et l'établissement d'un gouvernement de réconciliation nationale.
Cependant, les accords ont également consolidé l'influence syrienne au Liban. La Syrie a maintenu une présence militaire et une influence politique considérable dans le pays après la guerre, ce qui a été source de tension et de controverse au Liban et dans la région. La présence syrienne au Liban n'a pris fin qu'en 2005, suite à l'assassinat de l'ancien Premier ministre libanais Rafic Hariri, un événement qui a déclenché des protestations massives au Liban et une pression internationale accrue sur la Syrie. La décision de ne pas réaliser de recensement de la population au Liban après la guerre civile reflète les sensibilités autour de la question démographique dans le contexte politique confessionnel libanais. Un recensement pourrait potentiellement perturber l'équilibre délicat sur lequel le système politique libanais est construit, en révélant des changements démographiques susceptibles de remettre en question la répartition actuelle du pouvoir entre les différentes communautés.
Assassinat de Rafiq Hariri et la Révolution du Cèdre (2005)
L'assassinat de Rafiq Hariri, Premier ministre libanais, le 14 février 2005, a été un moment décisif dans l'histoire récente du Liban. Hariri était une figure populaire, connue pour sa politique de reconstruction post-guerre civile et ses efforts pour rétablir Beyrouth en tant que centre financier et culturel. Son assassinat a provoqué une onde de choc à travers le pays et a déclenché des accusations contre la Syrie, soupçonnée d'être impliquée dans cet acte. L'assassinat a déclenché la "Révolution du Cèdre", une série de vastes manifestations pacifiques exigeant la fin de l'influence syrienne au Liban et la vérité sur l'assassinat de Hariri. Ces manifestations, auxquelles ont participé des centaines de milliers de Libanais de toutes confessions, ont mis une pression considérable sur la Syrie. Sous le poids de cette pression populaire et de la condamnation internationale, la Syrie a finalement retiré ses troupes du Liban en avril 2005, mettant fin à près de 30 ans de présence militaire et politique dans le pays.
Le Liban Contemporain : Défis Politiques et Sociaux (2005 - Présent)
Parallèlement, le Hezbollah, un groupe islamiste chiite et une organisation militaire fondée en 1982, est devenu un acteur clé dans la politique libanaise. Le Hezbollah a été fondé avec le soutien de l'Iran dans le contexte de l'invasion israélienne du Liban en 1982 et a grandi pour devenir à la fois un mouvement politique et une milice puissante. Le parti a refusé de se désarmer après la guerre civile, invoquant la nécessité de défendre le Liban contre Israël. Le conflit de 2006 entre Israël et le Hezbollah a davantage renforcé la position du Hezbollah en tant que force majeure dans la résistance arabe contre Israël. Le conflit a commencé lorsque le Hezbollah a capturé deux soldats israéliens, déclenchant une réponse militaire intense d'Israël au Liban. Malgré les destructions massives et les pertes humaines au Liban, le Hezbollah est sorti du conflit avec une image renforcée de résistance contre Israël, gagnant un soutien considérable parmi certaines parties de la population libanaise et dans le monde arabe en général. Ces événements ont considérablement influencé la dynamique politique libanaise, révélant les divisions profondes au sein du pays et les défis persistants pour la stabilité et la souveraineté du Liban. La période post-2005 a été marquée par des tensions politiques continues, des crises économiques et des défis sécuritaires, reflétant la complexité du paysage politique et confessionnel du Liban.
Jordanie
Mandat Britannique et Division Territoriale (Début 20ème siècle - 1922)
Pour comprendre la formation de la Jordanie, il est essentiel de remonter à la période du mandat britannique sur la Palestine après la Première Guerre mondiale. La Grande-Bretagne, en obtenant le mandat sur la Palestine à la suite de la Conférence de San Remo en 1920, s'est retrouvée à la tête d'un territoire complexe et conflictuel. Une des premières actions des Britanniques fut de diviser ce mandat en deux zones distinctes lors de la conférence du Caire en 1922 : d'une part, la Palestine, et d'autre part, les émirats de Transjordanie. Cette division reflétait à la fois des considérations géopolitiques et le désir de répondre aux aspirations des populations locales. Abdallah, l'un des fils du Chérif Hussein de La Mecque, jouait un rôle important dans la région, notamment en menant des révoltes contre les Ottomans. Pour apaiser et contenir son influence, les Britanniques ont décidé de le nommer émir de Transjordanie. Cette décision a été en partie motivée par le désir de stabiliser la région et de créer un allié fiable pour les Britanniques.
La question de l'immigration juive en Palestine était une source majeure de tension durant cette période. Les sionistes, qui aspiraient à la création d'un foyer national juif en Palestine, ont protesté contre la politique britannique interdisant l'immigration juive en Transjordanie, considérant que cela restreignait les possibilités de colonisation juive dans une partie du territoire du mandat.
Indépendance et Formation de l'État Jordanien (1946 - 1948)
Le fleuve Jourdain a joué un rôle déterminant dans la distinction entre la Transjordanie (à l'est du Jourdain) et la Cisjordanie (à l'ouest). Ces termes géographiques ont été utilisés pour décrire les régions situées de part et d'autre du fleuve Jourdain. La formation de la Jordanie en tant qu'État indépendant a été un processus graduel. En 1946, la Transjordanie a obtenu son indépendance de la Grande-Bretagne, et Abdallah est devenu le premier roi du royaume hachémite de Jordanie. La Jordanie, comme la Palestine, a été profondément affectée par les développements régionaux, notamment la création de l'État d'Israël en 1948 et les conflits arabes-israéliens qui ont suivi. Ces événements ont eu un impact considérable sur la politique et la société jordaniennes dans les décennies suivantes.
La Légion arabe a joué un rôle significatif dans l'histoire de la Jordanie et dans le conflit israélo-arabe. Fondée dans les années 1920 sous le mandat britannique, la Légion arabe était une force militaire jordanienne qui a opéré sous la supervision de conseillers militaires britanniques. Cette force a été cruciale pour maintenir l'ordre dans le territoire de la Transjordanie et a servi de base à l'armée jordanienne moderne. À la fin du mandat britannique en 1946, la Transjordanie, sous le règne du roi Abdallah, a obtenu son indépendance, devenant le Royaume hachémite de Jordanie. L'indépendance de la Jordanie a marqué un tournant dans l'histoire du Moyen-Orient, en faisant du pays un acteur clé de la région.
Conflits Israélo-Arabes et Impact sur la Jordanie (1948 - 1950)
En 1948, la déclaration d'indépendance d'Israël a déclenché la première guerre israélo-arabe. Les États arabes voisins, dont la Jordanie, ont refusé de reconnaître la légitimité d'Israël et ont engagé des forces militaires pour s'opposer à l'État nouvellement formé. La Légion arabe jordanienne, considérée comme l'une des forces armées les plus efficaces parmi les pays arabes à cette époque, a joué un rôle majeur dans ce conflit. Durant la guerre de 1948, la Jordanie, sous le commandement du roi Abdallah, a occupé la Cisjordanie, une région à l'ouest du Jourdain qui faisait partie du mandat britannique sur la Palestine. À la fin de la guerre, la Jordanie a annexé officiellement la Cisjordanie, une décision qui a été largement reconnue dans le monde arabe mais pas par la communauté internationale. Cette annexion a inclus Jérusalem-Est, qui a été proclamée capitale de la Jordanie aux côtés d'Amman. L'annexion de la Cisjordanie par la Jordanie a eu d'importantes implications pour les relations israélo-arabes et le conflit palestinien. Elle a également façonné la politique intérieure jordanienne, car la population palestinienne de la Cisjordanie est devenue une partie importante de la société jordanienne. Cette période de l'histoire jordanienne a continué à influencer la politique et les relations internationales du pays dans les décennies suivantes.
La période suivant l'annexion de la Cisjordanie par la Jordanie en 1948 a été marquée par des évolutions politiques et sociales importantes. En 1950, la Jordanie a officiellement annexé la Cisjordanie, une décision qui a eu des conséquences durables sur la composition démographique et politique du pays. Suite à cette annexion, la moitié des sièges du parlement jordanien a été allouée à des députés palestiniens, reflétant la nouvelle réalité démographique de la Jordanie unifiée, qui comprenait désormais une importante population palestinienne. Cette intégration politique des Palestiniens en Jordanie a souligné l'ampleur de l'annexion de la Cisjordanie et a été vue par certains comme un effort pour légitimer le contrôle jordanien sur le territoire. Cependant, ce mouvement a également suscité des tensions, tant au sein de la population palestinienne que parmi les nationalistes palestiniens, qui aspiraient à l'indépendance et à la création d'un État palestinien distinct.
Des rumeurs d'accords secrets entre la Jordanie et Israël concernant des questions de souveraineté et de territoire ont alimenté le mécontentement parmi les nationalistes palestiniens. En 1951, le roi Abdallah, qui avait été un acteur clé de l'annexion de la Cisjordanie et avait cherché à maintenir de bonnes relations avec les Israéliens, a été assassiné à Jérusalem par un nationaliste palestinien. Cet assassinat a souligné les divisions profondes et les tensions politiques relatives à la question palestinienne. La guerre des Six Jours en 1967 a été un autre tournant majeur pour la Jordanie et la région. Israël a capturé la Cisjordanie, Jérusalem-Est, et d'autres territoires lors de ce conflit, mettant fin au contrôle jordanien sur ces régions. Cette perte a eu un impact profond sur la Jordanie, tant sur le plan politique que démographique, et a exacerbé la question palestinienne, qui est restée un enjeu central dans les affaires intérieures et la politique étrangère de la Jordanie. La guerre de 1967 a également contribué à l'émergence de l'Organisation de libération de la Palestine (OLP) comme le principal représentant des Palestiniens et a influencé la trajectoire du conflit israélo-arabe dans les années suivantes.
Règne du Roi Hussein et Défis Internes (1952 - 1999)
Le roi Hussein de Jordanie, petit-fils du roi Abdallah, a régné sur le pays de 1952 jusqu'à sa mort en 1999. Son règne a été marqué par des défis majeurs, dont la question de la population palestinienne en Jordanie et les ambitions panarabes du roi.
Le roi Hussein a hérité d'une situation complexe avec une population palestinienne importante en Jordanie, résultant de l'annexion de la Cisjordanie en 1948 et de l'afflux de réfugiés palestiniens après la création d'Israël et la guerre des Six Jours en 1967. La gestion de cette question palestinienne est restée un défi majeur tout au long de son règne, avec des tensions politiques et sociales internes croissantes. L'un des moments les plus critiques de son règne a été la crise de "Septembre Noir" en 1970. Face à une montée en puissance des combattants palestiniens de l'OLP en Jordanie, qui menaçait la souveraineté et la stabilité du royaume, le roi Hussein a ordonné une intervention militaire brutale pour reprendre le contrôle des camps de réfugiés et des villes où l'OLP était fortement présente. Cette intervention a abouti à l'expulsion de l'OLP et de ses combattants du territoire jordanien, qui ont ensuite établi leur quartier général au Liban.
Malgré sa participation aux guerres israélo-arabes, notamment la guerre du Kippour en 1973, le roi Hussein a maintenu des relations discrètes mais significatives avec Israël. Ces relations, souvent en désaccord avec les positions d'autres États arabes, étaient motivées par des considérations stratégiques et sécuritaires. La Jordanie et Israël partageaient des préoccupations communes, notamment en ce qui concerne la stabilité régionale et la question palestinienne. Le roi Hussein a finalement joué un rôle clé dans les efforts de paix au Moyen-Orient. En 1994, la Jordanie a signé un traité de paix avec Israël, devenant le deuxième pays arabe, après l'Égypte, à normaliser officiellement les relations avec Israël. Ce traité a marqué une étape importante dans les relations israélo-arabes et a reflété la volonté du roi Hussein de rechercher une résolution pacifique au conflit israélo-arabe, malgré les défis et les controverses que cela impliquait.
Le Roi Abdallah II et la Jordanie Moderne (1999 - Présent)
À la mort du roi Hussein de Jordanie en 1999, son fils, Abdallah II, lui a succédé sur le trône. L'accession d'Abdallah II au pouvoir a marqué le début d'une nouvelle ère pour la Jordanie, bien que le nouveau roi ait hérité de nombreux défis politiques, économiques et sociaux de son père. Abdallah II, éduqué à l'étranger et ayant une expérience militaire, a pris la tête d'un pays confronté à des défis internes complexes, notamment la gestion des relations avec la population palestinienne, l'équilibre entre les pressions démocratiques et la stabilité du royaume, et les problèmes économiques persistants. Sur le plan international, la Jordanie, sous son règne, a continué à jouer un rôle important dans les questions régionales, notamment le conflit israélo-arabe et les crises dans les pays voisins. Le roi Abdallah II a poursuivi les efforts de son père pour moderniser le pays et améliorer l'économie. Il a également cherché à promouvoir la Jordanie en tant qu'intermédiaire et médiateur dans les conflits régionaux, tout en maintenant des relations étroites avec les pays occidentaux, en particulier les États-Unis.
La politique extérieure d'Abdallah II a été marquée par un équilibre entre le maintien de relations solides avec les pays occidentaux et la navigation dans les dynamiques complexes du Moyen-Orient. La Jordanie, sous son règne, a continué de jouer un rôle actif dans les efforts de paix au Moyen-Orient et a été confrontée à l'impact des crises dans les pays voisins, notamment l'Irak et la Syrie. Sur le plan interne, Abdallah II a fait face à des appels à des réformes politiques et économiques plus importantes. Les soulèvements du Printemps arabe en 2011 ont également eu un impact sur la Jordanie, bien que le pays ait réussi à éviter l'instabilité à grande échelle observée dans d'autres parties de la région. Le roi a répondu à certains de ces défis par des réformes politiques progressives et des efforts pour améliorer l'économie du pays.
La trajectoire historique des Hachémites, qui ont joué un rôle crucial dans les événements du Moyen-Orient au début du 20ème siècle, est marquée par des promesses non tenues et des ajustements politiques majeurs. La famille hachémite, originaire de la région du Hedjaz en Arabie, a été au cœur des ambitions arabes pour l'indépendance et l'unité durant et après la Première Guerre mondiale. Leurs aspirations à un grand État arabe unifié ont été encouragées, puis déçues par les puissances européennes, en particulier la Grande-Bretagne.
Le roi Hussein bin Ali, le patriarche des Hachémites, avait aspiré à la création d'un grand royaume arabe s'étendant sur une grande partie du Moyen-Orient. Cependant, les accords Sykes-Picot de 1916 et la Déclaration Balfour de 1917, ainsi que d'autres développements politiques, ont progressivement réduit ces aspirations. Finalement, les Hachémites n'ont régné que sur la Transjordanie (la Jordanie moderne) et l'Irak, où un autre fils de Hussein, Fayçal, est devenu roi. En ce qui concerne la Palestine, la Jordanie, sous le règne du roi Hussein, a eu une implication importante jusqu'aux Accords d'Oslo dans les années 1990. Après la guerre des Six Jours en 1967 et la perte de la Cisjordanie par la Jordanie au profit d'Israël, le roi Hussein a continué à revendiquer la souveraineté sur le territoire palestinien, malgré l'absence de contrôle effectif.
Cependant, avec les Accords d'Oslo en 1993, qui ont établi une reconnaissance mutuelle entre Israël et l'Organisation de libération de la Palestine (OLP) et ont jeté les bases de l'autonomie palestinienne, la Jordanie a dû réévaluer sa position. En 1988, le roi Hussein avait déjà renoncé officiellement à toutes les revendications jordaniennes sur la Cisjordanie en faveur de l'OLP, reconnaissant le droit du peuple palestinien à l'autodétermination. Les Accords d'Oslo ont consolidé cette réalité, confirmant l'OLP comme représentant légitime du peuple palestinien et marginalisant davantage le rôle de la Jordanie dans les affaires palestiniennes. Les Accords d'Oslo ont donc marqué la fin des ambitions jordaniennes sur la Palestine, orientant le processus de paix vers une négociation directe entre Israéliens et Palestiniens, avec la Jordanie et d'autres acteurs régionaux jouant un rôle de soutien plutôt que de protagonistes principaux.
Jordanie et Relations Internationales : Alliance Stratégique avec les États-Unis
La Jordanie, depuis sa création en tant qu'État indépendant en 1946, a joué un rôle stratégique dans la politique du Moyen-Orient, équilibrant habilement les relations internationales, notamment avec les États-Unis. Cette relation privilégiée avec Washington a été essentielle pour la Jordanie, non seulement en termes d'aide économique et militaire, mais aussi en tant que soutien diplomatique dans une région souvent marquée par l'instabilité et les conflits. L'aide économique et militaire américaine a été un pilier du développement et de la sécurité de la Jordanie. Les États-Unis ont fourni une assistance substantielle pour renforcer les capacités défensives de la Jordanie, soutenir son développement économique et l'aider à gérer les crises humanitaires, comme l'afflux massif de réfugiés syriens et irakiens. Cette aide a permis à la Jordanie de maintenir sa stabilité intérieure et de jouer un rôle actif dans la promotion de la paix et de la sécurité régionales. Sur le plan militaire, la coopération entre la Jordanie et les États-Unis a été étroite et fructueuse. Les exercices militaires conjoints et les programmes de formation ont renforcé les liens entre les deux pays et ont amélioré la capacité de la Jordanie à contribuer à la sécurité régionale. Cette coopération militaire est également un élément crucial pour la Jordanie dans le contexte de la lutte contre le terrorisme et l'extrémisme. Diplomatiquement, la Jordanie a souvent agi en tant qu'intermédiaire dans les conflits régionaux, un rôle qui correspond aux intérêts des États-Unis dans la région. La Jordanie a été impliquée dans les efforts de paix israélo-palestiniens et a joué un rôle de modérateur dans les crises en Syrie et en Irak. La position géographique de la Jordanie, sa stabilité relative et ses relations avec les États-Unis en font un acteur clé dans les efforts de médiation et de résolution des conflits dans la région.
La relation entre la Jordanie et les États-Unis n'est pas seulement une alliance stratégique; elle est aussi le reflet d'une compréhension partagée des enjeux de la région. Les deux pays partagent des objectifs communs en matière de lutte contre le terrorisme, de promotion de la stabilité régionale et de recherche de solutions diplomatiques aux conflits. Cette relation est donc essentielle pour la Jordanie, lui permettant de naviguer dans les défis complexes du Moyen-Orient tout en bénéficiant du soutien d'une puissance mondiale majeure.
Irak
Formation de l'État Irakien (Post-Première Guerre mondiale)
La formation de l'Irak en tant qu'État moderne est une conséquence directe de la dissolution de l'Empire ottoman à la suite de la Première Guerre mondiale. L'Irak, tel que nous le connaissons aujourd'hui, est né de la fusion de trois provinces ottomanes historiques : Mossoul, Bagdad et Bassora. Cette fusion, orchestrée par les puissances coloniales, en particulier la Grande-Bretagne, a façonné non seulement les frontières de l'Irak mais aussi sa dynamique interne complexe.
La province de Mossoul, située dans le nord de l'Irak actuel, était une région stratégique, notamment en raison de ses riches réserves pétrolières. La composition ethnique de Mossoul, avec une présence significative de Kurdes, a ajouté une dimension supplémentaire à la complexité politique de l'Irak. Après la guerre, le statut de Mossoul a fait l'objet d'un débat international, les Turcs et les Britanniques revendiquant chacun la région. Finalement, la Société des Nations a tranché en faveur de l'Irak, intégrant ainsi Mossoul dans le nouvel État. Le vilayet de Bagdad, au centre, était le cœur historique et culturel de la région. Bagdad, une ville avec une riche histoire remontant à l'ère des califats, a continué à jouer un rôle central dans la vie politique et culturelle de l'Irak. La diversité ethnique et religieuse de la province de Bagdad a été un facteur clé dans les dynamiques politiques de l'Irak moderne. Quant à la province de Bassora, dans le sud, cette région majoritairement peuplée d'Arabes chiites, a été un important centre commercial et portuaire. Les liens de Bassora avec le Golfe Persique et le monde arabe ont été cruciaux pour l'économie irakienne et ont influencé les relations extérieures de l'Irak.
La fusion de ces trois provinces distinctes en un seul État sous le mandat britannique n'a pas été sans difficultés. La gestion des tensions ethniques, religieuses et tribales a été un défi constant pour les dirigeants irakiens. L'importance stratégique de l'Irak a été renforcée par la découverte de pétrole, attirant l'attention des puissances occidentales et influençant profondément le développement politique et économique du pays. Les décisions prises pendant et après la période du mandat britannique ont posé les bases des complexités politiques et sociales de l'Irak, qui ont continué à se manifester tout au long de son histoire moderne, y compris pendant le règne de Saddam Hussein et au-delà. La formation de l'Irak, un mélange de diverses régions et groupes, a été un facteur clé dans les nombreux défis auxquels le pays a été confronté dans le siècle suivant.
Influence Britannique et Intérêts Pétroliers (Début 20ème siècle)
La fascination de la Grande-Bretagne pour l'Irak dans la première moitié du 20ème siècle s'inscrit dans le cadre plus large de la politique impériale britannique, où la géostratégie et les ressources naturelles jouaient un rôle prépondérant. L'Irak, avec son accès direct au Golfe Persique et sa proximité avec la Perse riche en pétrole, est rapidement devenu un territoire d'intérêt majeur pour la Grande-Bretagne, qui cherchait à étendre son influence au Moyen-Orient. L'importance stratégique de l'Irak était liée à sa position géographique, offrant un accès au Golfe Persique, une voie d'eau cruciale pour le commerce et les communications maritimes. Ce contrôle offrait à la Grande-Bretagne un avantage dans la sécurisation des routes commerciales et maritimes vitales, en particulier en lien avec son empire colonial en Inde et au-delà. Le pétrole, devenu une ressource stratégiquement vitale au début du 20ème siècle, a accentué l'intérêt britannique pour l'Irak et la région environnante. La découverte de pétrole en Perse (Iran actuel) par la Anglo-Persian Oil Company (qui deviendra plus tard British Petroleum, ou BP) a mis en lumière le potentiel pétrolier de la région. La Grande-Bretagne, soucieuse de sécuriser ses approvisionnements en pétrole pour sa marine et son industrie, a vu dans l'Irak un territoire clé pour ses intérêts énergétiques.
Le mandat britannique en Irak, établi par la Société des Nations après la Première Guerre mondiale, a donné à la Grande-Bretagne un contrôle considérable sur la formation de l'État irakien. Cependant, cette période a été marquée par des tensions et des résistances, comme en témoigne la révolte irakienne de 1920, une réaction significative à la domination britannique et aux tentatives d'implanter des structures administratives et politiques étrangères. Les actions britanniques en Irak étaient guidées par une combinaison d'objectifs impériaux et de nécessités pratiques. Alors que le 20ème siècle progressait, l'Irak est devenu un enjeu de plus en plus complexe dans la politique britannique, surtout avec l'émergence du nationalisme arabe et la montée des revendications pour l'indépendance. Le rôle de la Grande-Bretagne en Irak, et plus largement au Moyen-Orient, a donc été un mélange de stratégie impériale, de gestion des ressources naturelles et de réponse aux dynamiques politiques en constante évolution de la région.
Rôle de Mossoul et Diversité Ethnique (Début 20ème siècle)
La région de Mossoul, dans le nord de l'Irak, a toujours été d'une importance cruciale dans le contexte historique et politique du Moyen-Orient. Sa signification est due à plusieurs facteurs clés qui en ont fait un territoire convoité au fil des siècles, notamment par la Grande-Bretagne durant l'ère coloniale. La découverte de pétrole dans la région de Mossoul a été un tournant majeur. Au début du 20ème siècle, alors que l'importance du pétrole comme ressource stratégique mondiale devenait de plus en plus évidente, Mossoul est apparue comme un territoire d'une immense valeur économique. Les réserves pétrolières substantielles de la région ont attiré l'attention des puissances impériales, particulièrement de la Grande-Bretagne, qui cherchait à sécuriser les sources de pétrole pour ses besoins industriels et militaires. Cette richesse en hydrocarbures a non seulement stimulé l'intérêt international pour Mossoul, mais a également joué un rôle déterminant dans la formation de la politique et de l'économie irakiennes au cours du siècle suivant. En outre, la position géographique de Mossoul, à proximité des sources des fleuves Tigre et Euphrate, lui confère une importance stratégique particulière. Le contrôle des sources d'eau dans cette région aride est vital pour l'agriculture, l'économie et la vie quotidienne. Cette importance géographique a fait de Mossoul un enjeu dans les relations internationales et les dynamiques régionales, en particulier dans le contexte des tensions liées à la répartition de l'eau dans la région. Le contrôle de Mossoul était également perçu comme essentiel pour la stabilité de l'ensemble de l'Irak. En raison de sa diversité ethnique et culturelle, avec une population composée de Kurdes, d'Arabes, de Turkmènes, d'Assyriens et d'autres groupes, la région a été un carrefour culturel et politique important. La gestion de cette diversité et l'intégration de Mossoul dans l'État irakien ont été des défis constants pour les gouvernements irakiens successifs. Le maintien de la stabilité dans la région du nord était crucial pour la cohésion et l'unité nationales de l'Irak.
Contribution de Gertrude Bell et Fondations de l'Irak Moderne (Début 20ème siècle)
La contribution de Gertrude Bell à la formation de l'Irak moderne est un exemple éloquent de l'influence occidentale dans la redéfinition des frontières et des identités nationales au Moyen-Orient au début du 20ème siècle. Bell, une archéologue et administratrice coloniale britannique, a joué un rôle crucial dans la création de l'État irakien, notamment en préconisant l'utilisation du terme « Irak », un nom d'origine arabe, au lieu de « Mésopotamie », d'origine grecque. Ce choix symbolisait une reconnaissance de l'identité arabe de la région, par opposition à une désignation imposée par des puissances étrangères. Cependant, comme l'a souligné Pierre-Jean Luisard dans son analyse de la question irakienne, les fondations de l'Irak moderne ont également été le berceau de problèmes futurs. La structure de l'Irak, conçue et mise en œuvre par des puissances coloniales, a réuni sous un même état des groupes ethniques et religieux divers, créant ainsi un terrain propice à des tensions et des conflits persistants. La domination des sunnites, souvent minoritaires, sur les chiites, majoritaires, a engendré des tensions sectaires et des conflits, exacerbés par des politiques discriminatoires et des différences idéologiques. De plus, la marginalisation des Kurdes, un groupe ethnique important dans le nord de l'Irak, a alimenté des revendications d'autonomie et de reconnaissance, souvent réprimées par le gouvernement central.
Ces tensions internes ont été exacerbées sous le régime de Saddam Hussein, qui a régi l'Irak d'une main de fer, exacerbant les divisions sectaires et ethniques. La guerre Iran-Irak (1980-1988), la campagne d'Anfal contre les Kurdes, et l'invasion du Koweït en 1990 sont des exemples de la façon dont les politiques internes et externes de l'Irak ont été influencées par ces dynamiques de pouvoir. L'invasion de l'Irak en 2003 par une coalition menée par les États-Unis et la chute de Saddam Hussein ont ouvert une nouvelle période de conflit et d'instabilité, révélant la fragilité des fondations sur lesquelles l'État irakien avait été construit. Les années qui ont suivi ont été marquées par une violence sectaire accrue, des luttes de pouvoir internes et l'émergence de groupes extrémistes comme l'État islamique, qui ont profité du vide politique et de la désintégration de l'ordre étatique. L'histoire de l'Irak est celle d'un État façonné par des influences étrangères et confronté à des défis internes complexes. La contribution de Gertrude Bell, bien que significative dans la formation de l'Irak, s'inscrit dans un contexte plus vaste de construction nationale et de conflits qui ont continué à façonner le pays bien au-delà de sa fondation.
Stratégie de 'Diviser pour Régner' et Domination Sunnite (Début 20ème siècle)
La méthode coloniale adoptée par la Grande-Bretagne dans la création et la gestion de l'Irak est un exemple classique de la stratégie de "diviser pour régner", qui a eu des répercussions profondes sur la structure politique et sociale de l'Irak. Selon cette approche, les puissances coloniales favorisaient souvent une minorité au sein de la société pour la maintenir au pouvoir, assurant ainsi sa dépendance et sa loyauté envers la métropole, tout en affaiblissant l'unité nationale. Dans le cas de l'Irak, les Britanniques ont installé la minorité sunnite au pouvoir, malgré le fait que les chiites constituaient la majorité de la population. En 1920, Fayçal Ier, un membre de la famille royale hachémite, a été installé comme le souverain de l'Irak nouvellement formé. Fayçal, bien qu'ayant des racines dans la Péninsule Arabique, a été choisi par les Britanniques pour sa légitimité panarabe et sa capacité présumée à unifier les divers groupes ethniques et religieux sous son règne. Cependant, cette décision a exacerbé les tensions sectaires et ethniques dans le pays. Les chiites et les Kurdes, se sentant marginalisés et exclus du pouvoir politique, ont rapidement manifesté leur mécontentement. Dès 1925, des soulèvements chiites et kurdes ont éclaté en réponse à cette marginalisation et aux politiques mises en œuvre par le gouvernement dominé par les sunnites. Ces contestations ont été violemment réprimées, parfois avec l'aide de la Royal Air Force britannique, dans le but de stabiliser l'État et de maintenir le contrôle colonial. L'utilisation de la force pour mater les révoltes chiites et kurdes a posé les bases d'une instabilité persistante en Irak. La domination sunnite, soutenue par les Britanniques, a engendré un ressentiment durable parmi les populations chiites et kurdes, contribuant à des cycles de rébellion et de répression qui ont marqué l'histoire irakienne tout au long du 20ème siècle. Cette dynamique a également alimenté un sentiment nationaliste parmi les chiites et les Kurdes, renforçant leur aspiration à une plus grande autonomie, voire à l'indépendance, en particulier dans la région kurde du nord de l'Irak.
Indépendance et Influence Britannique Continuée (1932)
L'accession de l'Irak à l'indépendance en 1932 représente un moment charnière dans l'histoire du Moyen-Orient, soulignant la complexité de la décolonisation et l'influence continue des puissances coloniales. L'Irak est devenu le premier État, créé de toutes pièces par un mandat de la Société des Nations à la suite de la Première Guerre mondiale, à obtenir formellement son indépendance. Cet événement a marqué une étape importante dans l'évolution de l'Irak de protectorat britannique à État souverain. L'adhésion de l'Irak à la Société des Nations en 1932 a été saluée comme un signe de son statut de nation indépendante et souveraine. Cependant, cette indépendance était en pratique entravée par le maintien d'une influence britannique considérable sur les affaires intérieures irakiennes. Bien que l'Irak ait officiellement obtenu sa souveraineté, les Britanniques ont continué à exercer un contrôle indirect sur le pays.
Ce contrôle s'exprimait notamment dans l'administration gouvernementale irakienne, où chaque ministre irakien avait un assistant britannique. Ces assistants, souvent des administrateurs expérimentés, avaient un rôle de conseil, mais leur présence symbolisait aussi la mainmise britannique sur la politique irakienne. Cette situation a créé un environnement où la souveraineté irakienne était en partie entravée par l'influence et les intérêts britanniques. Cette période de l'histoire irakienne a également été marquée par des tensions internes et des défis politiques. Le gouvernement irakien, bien que souverain, devait naviguer dans un paysage complexe de divisions ethniques et religieuses, tout en gérant les attentes et les pressions des anciennes puissances coloniales. Cette dynamique a contribué à des périodes d'instabilité et à des conflits internes, reflétant les difficultés inhérentes à la transition de l'Irak de mandat à nation indépendante. L'indépendance de l'Irak en 1932, bien qu'étant un jalon important, n'a donc pas mis fin à l'influence étrangère dans le pays. Au contraire, elle a marqué le début d'une nouvelle phase de relations internationales et de défis intérieurs pour l'Irak, façonnant son développement politique et social dans les décennies suivantes.
Coup d'État de 1941 et Intervention Britannique (1941)
En 1941, l'Irak a été le théâtre d'un événement critique qui a illustré la fragilité de son indépendance et la persistance de l'influence britannique dans le pays. Ce fut l'année du coup d'État mené par Rashid Ali al-Gaylani, qui a déclenché une série d'événements aboutissant à une intervention militaire britannique. Rashid Ali, qui avait déjà occupé le poste de Premier ministre, a mené un coup d'État contre le gouvernement pro-britannique en place. Ce coup d'État a été motivé par divers facteurs, notamment le nationalisme arabe, l'opposition à la présence et à l'influence britanniques en Irak, et les sentiments anti-coloniaux croissants parmi certaines factions de l'élite politique et militaire irakienne.
La prise de pouvoir par Rashid Ali a été perçue comme une menace directe par la Grande-Bretagne, notamment en raison de la position stratégique de l'Irak pendant la Seconde Guerre mondiale. L'Irak, avec son accès au pétrole et sa position géographique, était crucial pour les intérêts britanniques dans la région, en particulier dans le contexte de la guerre contre les puissances de l'Axe. En réponse au coup d'État, la Grande-Bretagne est rapidement intervenue militairement. Les forces britanniques, craignant que l'Irak ne tombe sous l'influence de l'Axe ou ne perturbe les voies de ravitaillement et d'accès au pétrole, ont lancé une campagne pour renverser Rashid Ali et restaurer un gouvernement favorable aux Britanniques. L'opération a été rapide et décisive, mettant fin au bref règne de Rashid Ali. À la suite de cette intervention, la Grande-Bretagne a placé un nouveau roi au pouvoir, réaffirmant ainsi son influence sur la politique irakienne. Cette période a souligné la vulnérabilité de l'Irak aux interventions étrangères et a mis en évidence les limites de son indépendance souveraine. L'intervention britannique de 1941 a également eu des répercussions durables sur la politique irakienne, alimentant un sentiment anti-britannique et anti-colonial qui a continué à influencer les événements politiques futurs dans le pays.
Irak pendant la Guerre Froide et Pacte de Bagdad (1955)
L'histoire de l'Irak pendant la Guerre froide est un exemple de la manière dont les intérêts géopolitiques des superpuissances ont continué à influencer et façonner la politique interne et externe des pays de la région. Durant cette période, l'Irak est devenu un acteur clé dans le cadre des stratégies de "containment" menées par les États-Unis contre l'Union Soviétique.
En 1955, l'Irak a joué un rôle majeur dans la formation du Pacte de Bagdad, une alliance militaire et politique initiée par les États-Unis. Ce pacte, aussi connu sous le nom de Pacte du Moyen-Orient, visait à établir un cordon de sécurité dans la région pour contrer l'influence et l'expansion de l'Union Soviétique. Outre l'Irak, le pacte incluait la Turquie, l'Iran, le Pakistan et le Royaume-Uni, formant ainsi un front uni contre le communisme dans une région stratégiquement importante. Le Pacte de Bagdad était en accord avec la politique de "containment" des États-Unis, qui cherchait à limiter l'expansion soviétique à travers le monde. Cette politique était motivée par la perception d'une menace soviétique croissante et la volonté d'empêcher la propagation du communisme, en particulier dans des zones stratégiques comme le Moyen-Orient, riche en ressources pétrolières.
L'implication de l'Irak dans le Pacte de Bagdad a cependant eu des implications internes. Cette alliance avec les puissances occidentales a été controversée au sein de la population irakienne et a exacerbé les tensions politiques internes. Le pacte était perçu par beaucoup comme une continuation de l'ingérence étrangère dans les affaires irakiennes et a alimenté le sentiment nationaliste et anti-occidental parmi certaines factions. En 1958, l'Irak a connu un coup d'État qui a renversé la monarchie et a établi la République d'Irak. Ce coup d'État a été largement motivé par des sentiments anti-occidentaux et par l'opposition à la politique étrangère pro-occidentale de la monarchie. Après le coup d'État, l'Irak s'est retiré du Pacte de Bagdad, marquant un changement significatif dans sa politique étrangère et soulignant la complexité de sa position géopolitique pendant la Guerre froide.
Révolution de 1958 et Montée du Baasisme (1958)
La révolution de 1958 en Irak a été un tournant décisif dans l'histoire moderne du pays, marquant la fin de la monarchie et l'établissement de la République. Cette période de changement politique et social profond en Irak coïncidait avec des développements politiques majeurs dans d'autres parties du monde arabe, en particulier la formation de la République arabe unie (RAU) par l'Égypte et la Syrie. Abdel Karim Kassem, un officier de l'armée irakienne, a joué un rôle clé dans le coup d'État de 1958 qui a renversé la monarchie hachémite en Irak. Après la révolution, Kassem est devenu le premier Premier ministre de la République d'Irak. Sa prise de pouvoir a été accueillie par un large soutien populaire, car beaucoup voyaient en lui un leader capable de mener l'Irak vers une ère de réformes et d'indépendance accrue vis-à-vis des influences étrangères. En parallèle, en 1958, l'Égypte et la Syrie ont fusionné pour former la République arabe unie, un effort d'unification panarabe sous la direction du président égyptien Gamal Abdel Nasser. La RAU représentait une tentative d'unité politique entre les nations arabes, fondée sur le nationalisme arabe et l'anti-impérialisme. Cependant, Abdel Karim Kassem a choisi de ne pas rejoindre la RAU. Il avait ses propres visions pour l'Irak, qui différaient du modèle de Nasser.
Kassem s'est concentré sur la consolidation du pouvoir en Irak et a cherché à renforcer son soutien interne en se rapprochant de groupes souvent marginalisés dans la société irakienne, notamment les Kurdes et les chiites. Sous son régime, l'Irak a connu une période de réformes sociales et économiques. Kassem a notamment promulgué des réformes agraires et a travaillé à la modernisation de l'économie irakienne. Cependant, son gouvernement a également été marqué par des tensions politiques et des conflits. La politique de Kassem envers les Kurdes et les chiites, bien que visant à l'inclusion, a également suscité des tensions avec d'autres groupes et puissances régionales. De plus, son régime a été confronté à des défis de stabilité et à des oppositions internes, y compris des tentatives de coup d'État et des conflits avec des factions politiques rivales.
La période post-révolutionnaire en Irak, au début des années 1960, a été marquée par des changements politiques rapides et souvent violents, avec l'émergence du baasisme comme force politique significative. Abdel Karim Kassem, après avoir dirigé l'Irak depuis la révolution de 1958, a été renversé et tué en 1963 lors d'un coup d'État. Ce coup d'État a été orchestré par un groupe de nationalistes arabes et de membres du parti Baas, une organisation politique panarabe socialiste. Le parti Baas, fondé en Syrie, avait gagné en influence dans plusieurs pays arabes, y compris en Irak, et prônait l'unité arabe, le socialisme et la laïcité. Abdel Salam Aref, qui a remplacé Kassem à la tête de l'Irak, était un membre du parti Baas et avait des opinions politiques différentes de celles de son prédécesseur. Contrairement à Kassem, Aref était favorable à l'idée de la République arabe unie et soutenait le concept d'unité panarabe. Son accession au pouvoir a marqué un changement significatif dans la politique irakienne, avec un mouvement vers des politiques plus alignées sur les idéaux baasistes.
La mort d'Abdel Salam Aref dans un accident d'hélicoptère en 1966 a conduit à une autre transition de pouvoir. Son frère, Abdul Rahman Aref, lui a succédé en tant que président. La période de gouvernance des frères Aref a été une époque où le baasisme a commencé à prendre pied en Irak, bien que leur régime ait également été marqué par des instabilités et des luttes de pouvoir internes. Le baasisme en Irak, bien qu'ayant des origines communes avec le baasisme syrien, a développé ses propres caractéristiques et dynamiques. Les gouvernements d'Abdel Salam Aref et d'Abdul Rahman Aref ont été confrontés à divers défis, y compris des tensions internes au sein du parti Baas et des oppositions de différents groupes sociaux et politiques. Ces tensions ont finalement conduit à un autre coup d'État en 1968, mené par le secteur irakien du parti Baas, qui a vu l'ascension de figures telles que Saddam Hussein dans les rangs du leadership irakien.
Règne de Saddam Hussein et Guerre Iran-Irak (1979 - 1988)
L'ascension de Saddam Hussein au pouvoir en 1979 a marqué une nouvelle ère dans l'histoire politique et sociale de l'Irak. En tant que figure dominante du parti Baas, Saddam Hussein a entrepris une série de réformes et de politiques visant à renforcer le contrôle de l'État et à moderniser la société irakienne, tout en consolidant son propre pouvoir. L'un des aspects clés de la gouvernance de Saddam Hussein a été le processus d'étatisation de la tribu, une stratégie qui visait à intégrer les structures tribales traditionnelles dans l'appareil étatique. Cette approche avait pour objectif de gagner le soutien des tribus, notamment des Tiplit, en les impliquant dans les structures gouvernementales et en leur accordant certains privilèges. En échange, ces tribus fournissaient un soutien crucial à Saddam Hussein, renforçant ainsi son régime.
Parallèlement à cette politique tribale, Saddam Hussein a lancé des programmes ambitieux de modernisation dans divers secteurs tels que l'éducation, l'économie et le logement. Ces programmes visaient à transformer l'Irak en une nation moderne et développée. Un élément majeur de cette modernisation a été la nationalisation de l'industrie pétrolière irakienne, ce qui a permis au gouvernement de contrôler une ressource vitale et de financer ses initiatives de développement. Cependant, malgré ces efforts de modernisation, l'économie irakienne sous Saddam Hussein a été largement basée sur un système clientéliste. Ce système clientéliste impliquait la distribution de faveurs, de ressources et de postes gouvernementaux à des individus et des groupes en échange de leur soutien politique. Cette approche a créé une dépendance envers le régime et a contribué à l'entretien d'un réseau de loyauté envers Saddam Hussein. Bien que les initiatives de Saddam Hussein aient entraîné certains développements économiques et sociaux, elles ont également été accompagnées de répression politique et de violations des droits humains. La consolidation du pouvoir de Saddam Hussein s'est souvent faite au détriment de la liberté politique et de l'opposition, ce qui a conduit à des tensions internes et à des conflits.
La guerre Iran-Irak, qui a débuté en 1980 et s'est poursuivie jusqu'en 1988, est l'un des conflits les plus sanglants et les plus destructeurs du 20ème siècle. Déclenchée par Saddam Hussein, cette guerre a eu des conséquences profondes tant pour l'Irak que pour l'Iran, ainsi que pour la région dans son ensemble. Saddam Hussein, cherchant à exploiter la vulnérabilité apparente de l'Iran dans le sillage de la Révolution islamique de 1979, a lancé une offensive contre l'Iran. Il craignait que la révolution dirigée par l'Ayatollah Khomeini ne se propage à l'Irak, en particulier parmi la majorité chiite du pays, et ne déstabilise son régime baasiste à dominante sunnite. De plus, Saddam Hussein visait à établir la dominance régionale de l'Irak et à contrôler des territoires riches en pétrole, en particulier dans la région frontalière de Shatt al-Arab. La guerre a rapidement escaladé en un conflit prolongé et coûteux, caractérisé par des combats de tranchées, des attaques chimiques et des souffrances humaines massives. Plus d’un demi-million de soldats ont été tués des deux côtés, et des millions de personnes ont été affectées par les destructions et les déplacements.
Sur le plan régional, la guerre a conduit à des alliances complexes. La Syrie, dirigée par Hafez al-Assad, a choisi de soutenir l'Iran, malgré les différences idéologiques, en partie à cause de la rivalité syro-irakienne. L'Iran a également reçu le soutien du Hezbollah, une organisation militante chiite basée au Liban. Ces alliances ont reflété les divisions politiques et sectaires croissantes dans la région. La guerre s'est finalement terminée en 1988, sans vainqueur clair. Le cessez-le-feu, négocié sous les auspices des Nations Unies, a laissé les frontières largement inchangées et aucune réparation significative n'a été accordée. Le conflit a laissé les deux pays gravement affaiblis et endettés, et a posé les bases de futurs conflits dans la région, notamment l'invasion du Koweït par l'Irak en 1990 et les interventions ultérieures des États-Unis et de leurs alliés dans la région.
La fin de la guerre Iran-Irak en 1988 a été un moment crucial, marquant la fin de huit années de conflit acharné et de souffrances humaines considérables. L'Iran, sous la direction de l'Ayatollah Khomeini, a finalement accepté la résolution 598 du Conseil de sécurité des Nations Unies, qui appelait à un cessez-le-feu immédiat et à une fin des hostilités entre les deux pays. La décision de l'Iran d'accepter le cessez-le-feu a été prise dans un contexte de difficultés croissantes sur le front intérieur et d'une situation militaire de plus en plus défavorable. Malgré les efforts initiaux pour résister à l'agression irakienne et faire des gains territoriaux, l'Iran a été soumis à des pressions économiques et militaires énormes, exacerbées par l'isolement international et les coûts humains et matériels du conflit prolongé.
Un élément particulièrement troublant de la guerre a été l'utilisation par l'Irak d'armes chimiques, une tactique qui a marqué une escalade dramatique dans la violence du conflit. Les forces irakiennes ont utilisé des armes chimiques à plusieurs reprises contre les forces iraniennes et même contre leur propre population kurde, comme lors du tristement célèbre massacre d'Halabja en 1988, où des milliers de civils kurdes ont été tués par des gaz toxiques. L'utilisation d'armes chimiques par l'Irak a été largement condamnée sur la scène internationale et a contribué à l'isolement diplomatique du régime de Saddam Hussein. Le cessez-le-feu de 1988 a mis fin à l'un des conflits les plus sanglants de la seconde moitié du 20ème siècle, mais il a laissé derrière lui des pays dévastés et une région profondément marquée par les séquelles de la guerre. Ni l'Iran ni l'Irak n'ont réussi à atteindre les objectifs ambitieux qu'ils s'étaient fixés au début du conflit, et la guerre a finalement été caractérisée par son inutilité tragique et ses coûts humains énormes.
Invasion du Koweït et Guerre du Golfe (1990 - 1991)
L'invasion du Koweït par l'Irak en 1990, sous le commandement de Saddam Hussein, a déclenché une série d'événements majeurs sur la scène internationale, conduisant à la Guerre du Golfe de 1991. Cette invasion a été motivée par plusieurs facteurs, dont des revendications territoriales, des disputes sur la production de pétrole et des tensions économiques. Saddam Hussein a justifié l'invasion en revendiquant le Koweït comme faisant historiquement partie de l'Irak. Il a également exprimé des griefs concernant la production de pétrole du Koweït, qu'il accusait de dépasser les quotas de l'OPEP, contribuant ainsi à la baisse des prix du pétrole et affectant l'économie irakienne, déjà affaiblie par la longue guerre avec l'Iran. La réponse internationale à l'invasion a été rapide et ferme. Le Conseil de sécurité des Nations Unies a condamné l'invasion et a imposé un embargo économique strict contre l'Irak. Par la suite, une coalition de forces internationales, dirigée par les États-Unis, s'est formée pour libérer le Koweït. Bien que l'opération ait été sanctionnée par l'ONU, elle a été largement perçue comme étant dominée par les États-Unis, en raison de leur rôle de leader et de leur contribution militaire significative.
La Guerre du Golfe, qui a débuté en janvier 1991, a été brève mais intense. La campagne aérienne massive et l'opération terrestre subséquente ont rapidement expulsé les forces irakiennes du Koweït. Cependant, l'embargo imposé à l'Irak a eu des conséquences dévastatrices pour la population civile irakienne. Les sanctions économiques, combinées à la destruction des infrastructures lors de la guerre, ont entraîné une grave crise humanitaire en Irak, avec des pénuries de nourriture, de médicaments et d'autres fournitures essentielles. L'invasion du Koweït par l'Irak et la Guerre du Golfe qui a suivi ont eu des répercussions importantes sur la région et sur les relations internationales. L'Irak s'est retrouvé isolé sur la scène internationale, et Saddam Hussein a été confronté à des défis internes et externes accrus. Cette période a également marqué un tournant dans la politique des États-Unis au Moyen-Orient, renforçant leur présence militaire et politique dans la région.
Impact de l'Attaque du 11 Septembre et Invasion Américaine (2003)
La période post-11 septembre 2001 a marqué un tournant significatif dans la politique étrangère des États-Unis, en particulier en ce qui concerne l'Irak. Sous la présidence de George W. Bush, l'Irak a été de plus en plus perçu comme faisant partie de ce que Bush a décrit comme "l'axe du Mal", une expression qui a alimenté l'imaginaire public et politique américain dans le contexte de la lutte contre le terrorisme international. Bien que l'Irak n'ait pas été directement impliqué dans les attentats du 11 septembre, l'administration Bush a mis en avant la théorie selon laquelle l'Irak de Saddam Hussein possédait des armes de destruction massive (ADM) et représentait une menace pour la sécurité mondiale. Cette perception a été utilisée pour justifier l'invasion de l'Irak en 2003, une décision qui a été largement controversée, en particulier après qu'il a été révélé que l'Irak ne possédait pas d'armes de destruction massive.
L'invasion et l'occupation subséquente de l'Irak par les forces dirigées par les États-Unis ont entraîné le renversement de Saddam Hussein, mais ont également conduit à des conséquences imprévues et à une instabilité à long terme. Une des politiques les plus critiquées de l'administration américaine en Irak a été la "débaasification", qui visait à éradiquer l'influence du parti Baas de Saddam Hussein. Cette politique a inclus la dissolution de l'armée irakienne et le démantèlement de nombreuses structures administratives et gouvernementales. Cependant, la débaasification a créé un vide de pouvoir et a exacerbé les tensions sectaires et ethniques en Irak. De nombreux anciens membres de l'armée et du parti Baas, soudainement privés de leur emploi et de leur statut, se sont retrouvés marginalisés et ont parfois rejoint des groupes insurgés. Cette situation a contribué à l'émergence et à la montée en puissance de groupes djihadistes comme Al-Qaïda en Irak, qui deviendra plus tard l'État islamique en Irak et au Levant (EIIL), connu sous le nom de Daesh. Le chaos et l'instabilité qui ont suivi l'invasion américaine ont été des facteurs clés dans la montée du nouveau djihadisme représenté par Daesh, qui a exploité le vide politique, les tensions sectaires et l'insécurité pour étendre son influence. L'intervention américaine en Irak, bien qu'initialement présentée comme un effort pour apporter la démocratie et la stabilité, a eu des conséquences profondes et durables, plongeant le pays dans une période de conflit, de violence et d'instabilité qui a persisté pendant de nombreuses années.
Le retrait des troupes américaines d'Irak en 2009 a marqué une nouvelle phase dans l'histoire politique du pays, caractérisée par une montée en puissance des groupes chiites et des changements dans la dynamique du pouvoir. Après des décennies de marginalisation sous le régime baasiste dominé par les sunnites, la majorité chiite d'Irak a gagné en influence politique suite à la chute de Saddam Hussein et au processus de reconstruction politique qui a suivi l'invasion américaine de 2003. Avec l'établissement d'un gouvernement plus représentatif et l'organisation d'élections démocratiques, les partis politiques chiites, qui avaient été réprimés sous le régime de Saddam Hussein, ont gagné un rôle prépondérant dans le nouveau paysage politique irakien. Des figures politiques chiites, souvent soutenues par l'Iran, ont commencé à occuper des postes clés au sein du gouvernement, reflétant ainsi le changement démographique et politique du pays.
Cependant, ce changement de pouvoir a également conduit à des tensions et des conflits. Les communautés sunnites et kurdes, qui avaient occupé des positions de pouvoir sous le régime de Saddam Hussein ou avaient cherché l'autonomie, comme dans le cas du Kurdistan irakien, se sont retrouvées marginalisées dans le nouvel ordre politique. Cette marginalisation, combinée à la dissolution de l'armée irakienne et à d'autres politiques mises en œuvre après l'invasion, a créé un sentiment d'aliénation et de frustration parmi ces groupes. La marginalisation des sunnites, en particulier, a contribué à un climat d'insécurité et de mécontentement, créant un terrain fertile pour l'insurrection et le terrorisme. Des groupes comme Al-Qaïda en Irak, et plus tard l'État islamique (Daesh), ont tiré parti de ces divisions pour recruter des membres et étendre leur influence, menant à une période de violence et de conflit sectaire intense.
Israël
Débuts du Sionisme et la Déclaration Balfour
La création de l'État d'Israël en 1948 est un événement historique majeur qui a été interprété de différentes manières, reflétant les complexités et les tensions inhérentes à cette période de l'histoire. D'un côté, cette création peut être vue comme une consécration des efforts diplomatiques et politiques, marquée par des décisions clés au niveau international. D'un autre côté, elle est perçue comme l'aboutissement d'une lutte nationale, portée par le mouvement sioniste et les aspirations à l'autodétermination du peuple juif.
La Déclaration Balfour de 1917, dans laquelle le gouvernement britannique soutenait l'établissement en Palestine d'un foyer national pour le peuple juif, a jeté les bases de la création d'Israël. Cette déclaration, bien qu'elle fût une promesse plutôt qu'un engagement juridiquement contraignant, a été un moment clé dans la reconnaissance internationale des aspirations sionistes. Le mandat britannique sur la Palestine, établi après la Première Guerre mondiale, a ensuite servi de cadre administratif pour la région, bien que les tensions entre les communautés juives et arabes aient augmenté pendant cette période. Le plan de partage de la Palestine proposé par l'ONU en 1947, qui envisageait la création de deux États indépendants, juif et arabe, avec Jérusalem sous contrôle international, a été un autre moment décisif. Bien que ce plan ait été accepté par les dirigeants juifs, il a été rejeté par les parties arabes, menant à un conflit ouvert après le retrait britannique de la région.
La guerre d'indépendance d'Israël, qui a suivi la proclamation de l'État d'Israël en mai 1948 par David Ben-Gourion, premier Premier ministre d'Israël, a été marquée par des combats acharnés contre les armées de plusieurs pays arabes voisins. Cette guerre a été une lutte pour l'existence et la souveraineté pour les Israéliens et un moment tragique de perte et de déplacement pour les Palestiniens, un événement connu sous le nom de Nakba (la catastrophe). La fondation d'Israël a ainsi été accueillie avec jubilation par de nombreux Juifs à travers le monde, en particulier dans le contexte de la persécution subie pendant la Seconde Guerre mondiale et l'Holocauste. Pour les Palestiniens et beaucoup dans le monde arabe, cependant, 1948 est synonyme de perte et de début d'un long conflit. La création d'Israël a donc été un événement pivot, non seulement pour les habitants de la région, mais aussi dans le contexte plus large des relations internationales, influençant profondément la politique du Moyen-Orient dans les décennies suivantes.
La Déclaration Balfour, rédigée le 2 novembre 1917, est un document crucial pour comprendre les origines de l'État d'Israël et du conflit israélo-palestinien. Rédigée par Arthur James Balfour, le ministre des Affaires étrangères britannique de l'époque, cette déclaration a été adressée à Lord Rothschild, un leader de la communauté juive britannique, pour transmission à la Fédération sioniste de Grande-Bretagne et d'Irlande. Le texte de la Déclaration Balfour promettait le soutien du gouvernement britannique à l'établissement en Palestine d'un "foyer national pour le peuple juif", tout en stipulant que cela ne devrait pas porter préjudice aux droits civils et religieux des communautés non juives existantes dans le pays, ni aux droits et au statut politique dont jouissent les Juifs dans tout autre pays. Cependant, les populations non-juives de Palestine n'étaient pas explicitement nommées dans le document, ce qui a été interprété comme une omission significative. Les raisons derrière la Déclaration Balfour étaient multiples et complexes, impliquant à la fois des considérations diplomatiques et stratégiques britanniques durant la Première Guerre mondiale. Parmi ces motivations figuraient le désir de gagner le soutien juif pour les efforts de guerre alliés, particulièrement en Russie où la Révolution bolchevique avait créé des incertitudes, et l'intérêt stratégique pour la Palestine en tant que région clé proche du Canal de Suez, vital pour l'Empire britannique. L'émission de la Déclaration Balfour a marqué un tournant dans l'histoire de la région, car elle a été interprétée par les sionistes comme un soutien international à leur aspiration à un foyer national en Palestine. Pour les Palestiniens arabes, en revanche, elle a été vue comme une trahison et une menace à leurs revendications territoriales et nationales. Cette dichotomie de perceptions a jeté les bases des tensions et du conflit qui ont suivi dans la région.
Le contexte historique du conflit israélo-palestinien est complexe et s'étend bien avant la Déclaration Balfour de 1917. La présence juive à Jérusalem et dans d'autres parties de la Palestine historique remonte à des millénaires, bien que la démographie et la composition de la population aient fluctué au fil du temps en raison de divers événements historiques, y compris des périodes d'exil et de diaspora. Au cours des années 1800 et plus particulièrement dans les années 1830, un mouvement migratoire significatif de Juifs vers la Palestine a commencé, en partie en réponse aux persécutions et aux pogroms dans l'Empire russe et d'autres parties de l'Europe. Cette migration, souvent considérée comme faisant partie des premières Aliyahs (montées) dans le cadre du mouvement sioniste naissant, était motivée par le désir de retourner à la terre ancestrale juive et de reconstruire une présence juive en Palestine.
Un aspect important de ce renouveau juif était l'Askala ou la Haskala (la Renaissance juive), un mouvement parmi les Juifs européens, en particulier les Ashkénazes, visant à moderniser la culture juive et à s'intégrer dans la société européenne. Ce mouvement a encouragé l'éducation, l'adoption de langues et de coutumes locales, tout en promouvant une identité juive renouvelée et dynamique. Eliezer Ben-Yehuda, souvent cité comme le père de l'hébreu moderne, a joué un rôle crucial dans la renaissance de l'hébreu comme langue vivante. Son travail a été essentiel pour le renouveau culturel et national juif, donnant à la communauté juive en Palestine un moyen unificateur de communication et renforçant leur identité culturelle distincte.
Ces développements culturels et migratoires ont contribué à poser les bases du sionisme politique, un mouvement nationaliste visant à établir un foyer national juif en Palestine. Le sionisme a gagné en popularité à la fin du 19ème siècle, en partie en réponse aux persécutions antisémites en Europe et à l'aspiration à l'autodétermination. La migration juive vers la Palestine au 19ème et au début du 20ème siècle a coïncidé avec la présence de longue date des communautés arabes palestiniennes, conduisant à des changements démographiques et à des tensions croissantes dans la région. Ces tensions, exacerbées par les politiques du mandat britannique et les événements internationaux, ont finalement conduit au conflit israélo-palestinien que nous connaissons aujourd'hui.
L'histoire du mouvement sioniste et de l'émergence de l'idée d'un foyer national juif est étroitement liée à la diaspora juive en Europe et aux États-Unis à la fin du 19ème et au début du 20ème siècle. Cette période a été marquée par un renouveau de la pensée juive et une prise de conscience croissante des défis auxquels faisait face la communauté juive en Europe, notamment l'antisémitisme. Léon Pinsker, un médecin et intellectuel juif russe, a été une figure clé dans les premiers stades du sionisme. Influencé par les pogroms et les persécutions antisémites en Russie, Pinsker a écrit "Auto-Émancipation" en 1882, un pamphlet qui plaidait pour la nécessité d'une patrie nationale pour les Juifs. Pinsker croyait que l'antisémitisme était un phénomène permanent et inévitable en Europe et que la seule solution pour le peuple juif était l'autonomie dans leur propre territoire. Théodore Herzl, un journaliste et écrivain austro-hongrois, est souvent considéré comme le père du sionisme politique moderne. Profondément affecté par l'affaire Dreyfus en France, où un officier juif, Alfred Dreyfus, a été faussement accusé d'espionnage dans un climat d'antisémitisme flagrant, Herzl en est venu à la conclusion que l'assimilation ne protégerait pas les Juifs de la discrimination et de la persécution. Cette affaire a été un catalyseur pour Herzl, le conduisant à écrire "L'État des Juifs" en 1896, dans lequel il argumentait en faveur de la création d'un État juif. Contrairement à l'idée reçue, Herzl n'a pas spécifiquement envisagé de fonder le foyer national juif en France, mais plutôt en Palestine ou, à défaut, dans un autre territoire offert par une puissance coloniale. L'idée de Herzl était de trouver un lieu où les Juifs pourraient s'établir en tant que nation souveraine et vivre librement, loin de l'antisémitisme européen. Herzl a été le moteur derrière le Premier Congrès sioniste à Bâle en 1897, qui a jeté les bases du mouvement sioniste en tant qu'organisation politique. Ce congrès a rassemblé des délégués juifs de diverses origines pour discuter de la création d'un foyer national juif en Palestine.
L'Antisémitisme et les Migrations Juives
L'histoire de l'antisémitisme est longue et complexe, et elle est profondément enracinée dans les croyances religieuses et socio-économiques européennes, en particulier durant le Moyen Âge. Un des aspects les plus marquants de l'antisémitisme historique est la notion de "peuple déicide", une accusation selon laquelle les Juifs seraient collectivement responsables de la mort de Jésus-Christ. Cette idée a été largement promulguée dans la chrétienté européenne et a servi de justification à diverses formes de persécution et de discrimination envers les Juifs au cours des siècles. Cette croyance a contribué à la marginalisation des Juifs et à leur représentation comme "autres" ou étrangers au sein de la société chrétienne.
Au Moyen Âge, les restrictions imposées aux Juifs dans le domaine professionnel et social ont eu un impact significatif sur leur place dans la société. En raison des lois et des restrictions de l'Église, les Juifs étaient souvent empêchés de posséder des terres ou d'exercer certaines professions. Par exemple, dans de nombreuses régions, ils ne pouvaient pas être membres de guildes, ce qui limitait leurs opportunités dans le commerce et l'artisanat. Ces restrictions ont conduit beaucoup de Juifs à se tourner vers des métiers comme le prêt d'argent, une activité souvent interdite aux chrétiens en raison de l'interdiction de l'usure par l'Église. Bien que cette activité ait fourni une niche économique nécessaire, elle a également renforcé certains stéréotypes négatifs et a contribué à l'antisémitisme économique. Les Juifs étaient parfois perçus comme des usuriers et associés à l'avarice, ce qui exacerbait la méfiance et l'hostilité à leur égard. En outre, les Juifs étaient souvent confinés dans des quartiers spécifiques, connus sous le nom de ghettos, ce qui limitait leur interaction avec la population chrétienne et renforçait leur isolement. Cette ségrégation, combinée à l'antisémitisme religieux et économique, a créé un environnement dans lequel les persécutions, telles que les pogroms, pouvaient se produire. L'antisémitisme médiéval, enraciné dans des croyances religieuses et renforcé par des structures socio-économiques, a donc jeté les bases de siècles de discrimination et de persécution envers les Juifs en Europe. Cette histoire douloureuse a été l'un des facteurs qui ont alimenté les aspirations sionistes pour un foyer national sûr et souverain.
L'évolution de l'antisémitisme au 19ème siècle représente un tournant significatif, où les préjugés et la discrimination à l'encontre des Juifs ont commencé à se fonder davantage sur des notions raciales que sur des différences religieuses ou culturelles. Ce changement a marqué la naissance de ce que l'on appelle l'antisémitisme "moderne", qui a posé les bases idéologiques de l'antisémitisme du 20ème siècle, y compris l'Holocauste. Dans la période pré-moderne, l'antisémitisme était principalement ancré dans des différences religieuses, avec des accusations de déicide et des stéréotypes négatifs associés aux Juifs en tant que groupe religieux. Cependant, avec les Lumières et l'émancipation des Juifs dans de nombreux pays européens au 19ème siècle, l'antisémitisme a commencé à prendre une nouvelle forme. Cette forme "moderne" d'antisémitisme était caractérisée par la croyance en l'existence de races distinctes avec des caractéristiques biologiques et morales inhérentes. Les Juifs étaient ainsi perçus non seulement comme une communauté religieuse distincte, mais aussi comme une "race" à part, avec des traits héréditaires et des comportements présumés qui les rendaient différents et, aux yeux des antisémites, inférieurs ou dangereux pour la société.
Cette idéologie raciale a été renforcée par divers écrits et théories pseudoscientifiques, y compris ceux de personnalités comme Houston Stewart Chamberlain, un théoricien racial influent dont les idées ont contribué à la théorie raciale nazie. L'antisémitisme racial a trouvé son expression la plus extrême dans l'idéologie nazie, qui a utilisé des théories racistes pour justifier la persécution et l'extermination systématique des Juifs pendant l'Holocauste. La transition de l'antisémitisme religieux vers un antisémitisme racial au 19ème siècle a donc été un développement crucial, alimentant des formes de discrimination et de persécution plus intenses et systématiques contre les Juifs. Cette évolution a également contribué à l'urgence ressentie par le mouvement sioniste pour la création d'un État-nation juif où les Juifs pourraient vivre en sécurité et être libres de telles persécutions.
Le Mouvement Sioniste et l'Établissement en Palestine
La fin du 19ème siècle a été une période cruciale pour le peuple juif et a marqué un tournant décisif dans l'histoire du sionisme, un mouvement qui allait finalement conduire à la création de l'État d'Israël. Cette époque a été caractérisée par une combinaison de réponse aux persécutions antisémites en Europe et d'un désir croissant d'autodétermination et de retour à la terre ancestrale. Le mouvement Hovevei Zion (Les Amants de Sion) a joué un rôle fondamental dans les premières étapes du sionisme. Formé par des Juifs principalement d'Europe de l'Est, ce mouvement visait à encourager l'immigration juive en Palestine et à établir une base pour la communauté juive dans la région. Inspirés par les pogroms et les discriminations en Russie et ailleurs, les membres de Hovevei Zion ont mis en œuvre des projets d'agriculture et d'établissement, jetant ainsi les bases d'un renouveau juif en Palestine. Cependant, c'est le premier Congrès sioniste, organisé par Theodor Herzl en 1897 à Bâle, en Suisse, qui a marqué un jalon historique. Herzl, un journaliste austro-hongrois profondément affecté par l'antisémitisme qu'il avait observé, notamment lors de l'affaire Dreyfus en France, a compris la nécessité d'un foyer national juif. Le Congrès de Bâle a rassemblé des délégués juifs de divers pays et a servi de plateforme pour articuler et propager l'idée sioniste. Le résultat le plus notable de ce congrès a été la formulation du Programme de Bâle, qui appelait à l'établissement d'un foyer national pour le peuple juif en Palestine. Ce congrès a également abouti à la création de l'Organisation sioniste mondiale, chargée de promouvoir l'objectif sioniste. Sous la direction de Herzl, le mouvement sioniste a gagné en légitimité et en soutien international, malgré les défis et les controverses. La vision de Herzl, bien que largement symbolique à l'époque, a fourni un cadre et une direction pour les aspirations juives, transformant une idée en un mouvement politique tangible. La période de la fin du 19ème siècle a été essentielle dans la formation du mouvement sioniste et a posé les jalons pour les événements futurs qui mèneraient à la création de l'État d'Israël. Elle reflète une période où les défis historiques rencontrés par les Juifs en Europe ont convergé avec un désir renouvelé d'autodétermination, façonnant ainsi le cours de l'histoire juive et du Moyen-Orient.
Le début du 20ème siècle a été une période significative de développement et de transformation pour la communauté juive en Palestine, marquée par une augmentation de l'immigration juive et la création de nouvelles structures sociales et urbaines. Entre 1903 et 1914, une période connue sous le nom de "Seconde Aliyah", environ 30 000 Juifs, principalement originaires de l'Empire russe, ont immigré en Palestine. Cette vague d'immigration a été motivée par une combinaison de facteurs, notamment les persécutions antisémites dans l'Empire russe et l'aspiration sioniste à établir un foyer national juif. Cette période a vu la création de la ville de Tel-Aviv en 1909, qui est devenue un symbole du renouveau juif et du sionisme. Tel-Aviv a été conçue comme une ville moderne, planifiée dès le départ pour être un centre urbain pour la communauté juive en croissance. L'un des développements les plus innovants de cette période a été la création des Kibboutzim. Les Kibboutzim étaient des collectivités agricoles basées sur des principes de propriété collective et de travail communautaire. Ils ont joué un rôle crucial dans l'établissement des Juifs en Palestine, en fournissant non seulement des moyens de subsistance, mais aussi en contribuant à la défense et à la sécurité des communautés juives. Leur importance allait au-delà de l'agriculture, car ils ont servi de centres pour la culture, l'éducation et le sionisme social.
La période entre 1921 et 1931 a vu une nouvelle vague d'immigration, connue sous le nom de "Troisième Aliyah", au cours de laquelle environ 150 000 Juifs sont arrivés en Palestine. Cette augmentation significative de la population juive a été en partie stimulée par la montée de l'antisémitisme en Europe, notamment en Pologne et en Russie, ainsi que par les politiques britanniques en Palestine. Ces immigrants ont apporté avec eux des compétences variées, contribuant ainsi au développement économique et social de la région. L'immigration juive pendant cette période a été un facteur clé dans la configuration démographique de la Palestine, menant à des changements sociaux et économiques substantiels. Elle a également exacerbé les tensions avec les communautés arabes palestiniennes, qui voyaient cette immigration croissante comme une menace pour leurs revendications territoriales et démographiques. Ces tensions se sont finalement intensifiées, conduisant à des conflits et des troubles dans les années et décennies suivantes.
La période suivant la Déclaration Balfour en 1917 a été marquée par une augmentation significative des tensions et des conflits entre les communautés juives et arabes en Palestine. La déclaration, qui exprimait le soutien du gouvernement britannique à l'établissement en Palestine d'un foyer national pour le peuple juif, a été accueillie avec enthousiasme par de nombreux Juifs mais a suscité de l'opposition et de l'animosité parmi la population arabe palestinienne. Ces tensions se sont manifestées dans une série de confrontations et de violences entre les deux communautés. Les années 1920 et 1930 ont été témoins de plusieurs épisodes de violence, y compris des émeutes et des massacres, où les deux côtés ont subi des pertes. Ces incidents reflétaient la montée des tensions nationalistes des deux côtés et la lutte pour le contrôle et l'avenir de la Palestine.
En réponse à ces tensions croissantes et à la nécessité perçue de se défendre contre les attaques, la communauté juive en Palestine a formé la Haganah en 1920. La Haganah, qui signifie "défense" en hébreu, était initialement une organisation de défense clandestine destinée à protéger les communautés juives des attaques arabes. Elle a été fondée par un groupe de représentants des colonies juives et des organisations sionistes en réponse aux émeutes de Jérusalem de 1920. La Haganah a évolué au fil du temps, passant d'une force de défense locale à une organisation militaire plus structurée. Bien qu'elle ait été principalement défensive dans ses premières années, la Haganah a développé une capacité militaire plus robuste, y compris la formation de forces d'élite et l'acquisition d'armes, en prévision d'un conflit plus large avec les communautés arabes et les pays voisins. La formation de la Haganah a été un développement crucial dans l'histoire du mouvement sioniste et a joué un rôle important dans les événements qui ont conduit à la création de l'État d'Israël en 1948. La Haganah a constitué le noyau de ce qui allait devenir plus tard les Forces de défense israéliennes (FDI), l'armée officielle de l'État d'Israël.
La collaboration des milieux sionistes avec les puissances mandataires, en particulier la Grande-Bretagne, qui avait reçu le mandat de la Société des Nations pour gouverner la Palestine après la Première Guerre mondiale, a joué un rôle important dans l'évolution du conflit israélo-palestinien. Cette coopération a été cruciale pour les progrès du mouvement sioniste, mais elle a également alimenté les tensions et la colère parmi la population arabe palestinienne. La relation entre les sionistes et les autorités mandataires britanniques était complexe et parfois conflictuelle, mais les sionistes ont cherché à utiliser cette relation pour promouvoir leurs objectifs en Palestine. Les efforts sionistes pour établir un foyer national juif étaient souvent vus par les Arabes palestiniens comme étant soutenus, ou du moins tolérés, par les Britanniques, ce qui a exacerbé les tensions et la méfiance.
Un aspect important de la stratégie sioniste pendant la période mandataire a été l'achat de terres en Palestine. L'Agence Juive, établie en 1929, a joué un rôle clé dans cette stratégie. L'Agence Juive était une organisation qui représentait la communauté juive auprès des autorités britanniques et coordonnait les divers aspects du projet sioniste en Palestine, notamment l'immigration, l'établissement de colonies, l'éducation et, de manière cruciale, l'achat de terres. L'acquisition de terres par des Juifs en Palestine a été une source majeure de conflit, car elle a souvent entraîné le déplacement de populations arabes locales. Les Arabes palestiniens voyaient l'achat de terres et l'immigration juive comme une menace pour leur présence et leur avenir dans la région. Ces transactions foncières ont non seulement changé la composition démographique et le paysage de la Palestine, mais ont également contribué à l'intensification du sentiment nationaliste parmi les Arabes palestiniens.
L'année 1937 a marqué un tournant dans la gestion britannique du mandat de la Palestine et a révélé les premiers signes d'un désengagement britannique face à l'escalade des tensions et des violences entre les communautés juive et arabe. La complexité et l'intensité du conflit israélo-palestinien ont défié les efforts britanniques pour maintenir la paix et l'ordre, conduisant à une reconnaissance croissante de l'impossibilité de satisfaire à la fois les aspirations sionistes et les revendications arabes palestiniennes.
En 1937, la Commission Peel, une commission d'enquête britannique, a publié son rapport recommandant pour la première fois la partition de la Palestine en deux États distincts, un juif et un arabe, avec Jérusalem sous contrôle international. Cette proposition était une réponse à l'escalade de la violence, en particulier pendant la Grande Révolte Arabe de 1936-1939, une insurrection massive des Arabes palestiniens contre la domination britannique et l'immigration juive. Le plan de partage proposé par la Commission Peel a été rejeté par les deux côtés pour différentes raisons. Les leaders arabes palestiniens ont refusé le plan car il impliquait la reconnaissance d'un État juif en Palestine. D'autre part, bien que certains dirigeants sionistes aient envisagé le plan comme une étape vers un État juif plus vaste, d'autres l'ont rejeté parce qu'il ne répondait pas à leurs attentes territoriales.
Cette période a également été marquée par l'émergence de groupes extrémistes des deux côtés. Du côté juif, des groupes tels que l'Irgoun et le Lehi (aussi connu sous le nom de Stern Gang) ont commencé à mener des opérations militaires contre les Arabes palestiniens et les Britanniques, y compris des attentats. Ces groupes ont adopté une approche plus militante que la Haganah, l'organisation de défense principale de la communauté juive, dans la poursuite de l'objectif sioniste. Du côté arabe, la violence s'est également intensifiée, avec des attaques contre des Juifs et des intérêts britanniques. La révolte arabe a été un signe de l'opposition croissante à la fois à la politique britannique et à l'immigration juive. L'incapacité de la Grande-Bretagne à résoudre le conflit et les réponses extrémistes des deux côtés ont créé un climat de plus en plus instable et violent, posant les bases pour les conflits futurs et compliquant davantage les efforts pour trouver une solution pacifique et durable à la question de la Palestine.
Plan de Partage de l'ONU et la Guerre d'Indépendance
En 1947, face à l'escalade continue des tensions et des violences en Palestine mandataire, les Nations Unies ont proposé un nouveau plan de partage, dans une tentative de résoudre le conflit israélo-palestinien. Ce plan, recommandé par la résolution 181 de l'Assemblée générale des Nations Unies, envisageait la division de la Palestine en deux États indépendants, l'un juif et l'autre arabe, avec Jérusalem placée sous un régime international spécial. Selon le plan de partage de l'ONU, la Palestine serait divisée de manière à donner à chaque État une majorité de sa population respective. La région de Jérusalem, comprenant également Bethléem, serait établie comme un corpus separatum sous administration internationale, en raison de son importance religieuse et historique pour les Juifs, les Chrétiens et les Musulmans. Cependant, le plan de partage de l'ONU a été rejeté par la majorité des dirigeants et des peuples arabes. Les Arabes palestiniens et les États arabes voisins ont estimé que le plan ne respectait pas leurs revendications nationales et territoriales, et qu'il était injuste en termes de répartition des terres, étant donné que la population juive était alors une minorité en Palestine. Ils ont vu le plan comme une continuation de la politique pro-sioniste des puissances occidentales et comme une violation de leur droit à l'autodétermination.
La communauté juive en Palestine, représentée par l'Agence juive, a accepté le plan, le considérant comme une opportunité historique pour la création d'un État juif. Pour les Juifs, le plan représentait une reconnaissance internationale de leurs aspirations nationales et un pas crucial vers l'indépendance. Le rejet du plan de partage par les Arabes a mené à une intensification des conflits et des affrontements dans la région. La période qui a suivi a été marquée par une escalade de la violence, aboutissant à la guerre de 1948, également connue sous le nom de guerre d'indépendance d'Israël ou de Nakba (catastrophe) pour les Palestiniens. Cette guerre a abouti à la création de l'État d'Israël en mai 1948 et au déplacement de centaines de milliers de Palestiniens, marquant le début d'un conflit prolongé qui persiste jusqu'à aujourd'hui.
La déclaration d'indépendance de l'État d'Israël en mai 1948 et les événements qui ont suivi représentent un chapitre crucial dans l'histoire du Moyen-Orient, ayant des répercussions majeures sur le plan politique, social et militaire. L'expiration du mandat britannique en Palestine a créé un vide politique que les dirigeants juifs, sous la houlette de David Ben-Gourion, ont cherché à combler en proclamant l'indépendance d'Israël. Cette déclaration, faite en réponse au plan de partage des Nations Unies de 1947, a marqué la concrétisation des aspirations sionistes mais a également été le catalyseur d'un conflit armé majeur dans la région. L'intervention militaire des pays arabes voisins, dont la Transjordanie, l'Égypte et la Syrie, visait à contrecarrer la création de l'État juif et à soutenir les revendications des Palestiniens arabes. Ces pays, unis par leur opposition à la création d'Israël, envisageaient d'éliminer l'État naissant et de redéfinir la géographie politique de la Palestine. Cependant, malgré leur supériorité numérique initiale, les forces arabes ont été progressivement repoussées par une armée israélienne de plus en plus organisée et efficace.
Le soutien indirect de l'Union soviétique à Israël, principalement sous la forme de livraisons d'armes via les pays satellites d'Europe de l'Est, a joué un rôle dans le renversement des rapports de force sur le terrain. Ce soutien soviétique était motivé moins par une affection pour Israël que par un désir de diminuer l'influence britannique dans la région, dans le contexte de la rivalité croissante de la Guerre froide. La série d'accords de cessez-le-feu qui ont mis fin à la guerre en 1949 a laissé Israël avec un territoire substantiellement plus grand que celui alloué par le plan de partage de l'ONU. La guerre a eu des conséquences profondément tragiques, notamment le déplacement massif de Palestiniens arabes, qui a engendré des questions de réfugiés et de droits qui continuent de hanter le processus de paix. La guerre d'indépendance a également solidifié la position d'Israël en tant qu'acteur central dans la région, marquant le début d'un conflit israélo-arabe qui persiste jusqu'à aujourd'hui.
La Guerre des Six Jours, qui a eu lieu en juin 1967, est un autre moment décisif dans l'histoire du conflit israélo-arabe. Ce conflit, qui a opposé Israël à l'Égypte, la Jordanie, la Syrie et, dans une moindre mesure, le Liban, a abouti à des changements géopolitiques majeurs dans la région. La guerre a débuté le 5 juin 1967 lorsque Israël, face à ce qu'il percevait comme une menace imminente de la part des armées arabes alignées à ses frontières, a lancé une série de frappes aériennes préventives contre l'Égypte. Ces frappes ont rapidement détruit la majorité de l'armée de l'air égyptienne au sol, donnant à Israël un avantage aérien crucial. Dans les jours suivants, Israël a étendu ses opérations militaires contre la Jordanie et la Syrie. Le conflit s'est déroulé rapidement, avec des victoires israéliennes sur plusieurs fronts. En six jours de combats intenses, Israël a réussi à capturer la bande de Gaza et la péninsule du Sinaï de l'Égypte, la Cisjordanie (y compris Jérusalem-Est) de la Jordanie, et le plateau du Golan de la Syrie. Ces gains territoriaux ont triplé la taille du territoire sous contrôle israélien. La Guerre des Six Jours a eu des conséquences profondes et durables pour la région. Elle a marqué un tournant dans le conflit israélo-arabe, renforçant la position militaire et stratégique d'Israël tout en exacerbant les tensions avec ses voisins arabes. La guerre a également eu des implications importantes pour la population palestinienne, car l'occupation israélienne de la Cisjordanie et de Gaza a posé de nouvelles dynamiques et défis pour la question palestinienne. En outre, la perte de la bande de Gaza, de la Cisjordanie et du plateau du Golan a été un coup dur pour les pays arabes concernés, en particulier l'Égypte et la Syrie, et a contribué à une atmosphère de désillusion et de désespoir parmi les Arabes. La guerre a également jeté les bases de futurs conflits et négociations, y compris les efforts pour un processus de paix durable entre Israël et ses voisins.
La Guerre du Kippour et les Accords de Camp David
La Guerre du Kippour, qui a éclaté en octobre 1973, constitue un jalon crucial dans l'histoire des conflits israélo-arabes. Cette guerre, déclenchée par une attaque surprise conjointe de l'Égypte et de la Syrie contre Israël, a eu lieu le jour du Yom Kippour, le jour le plus sacré du calendrier juif, ce qui a accentué son impact psychologique sur la population israélienne. L'attaque égyptienne et syrienne était une tentative de reprendre les territoires perdus lors de la Guerre des Six Jours en 1967, notamment la péninsule du Sinaï et le plateau du Golan. La guerre a débuté par des succès significatifs pour les forces égyptiennes et syriennes, remettant en cause la perception de la suprématie militaire israélienne. Cependant, Israël, sous la direction de la Première ministre Golda Meir et du ministre de la Défense Moshe Dayan, a rapidement mobilisé ses forces pour une contre-offensive efficace.
Cette guerre a eu des répercussions majeures. La Guerre du Kippour a obligé Israël à réévaluer ses stratégies militaires et de sécurité. La surprise initiale de l'attaque a mis en évidence des lacunes dans les renseignements militaires israéliens et a conduit à des changements significatifs dans la préparation et la doctrine de défense d'Israël. Sur le plan diplomatique, la guerre a agi comme un catalyseur pour les futures négociations de paix. Les pertes subies par les deux côtés ont ouvert la voie aux Accords de Camp David en 1978, sous l'égide du président américain Jimmy Carter, aboutissant au premier traité de paix israélo-égyptien en 1979. Ce traité a été un tournant, marquant la première reconnaissance d'Israël par un pays arabe voisin. La guerre a également eu un impact international, notamment en provoquant la crise pétrolière de 1973. Les pays arabes producteurs de pétrole ont utilisé le pétrole comme arme économique pour protester contre le soutien des États-Unis à Israël, ce qui a conduit à des augmentations significatives des prix du pétrole et à des répercussions économiques mondiales. La Guerre du Kippour a donc non seulement redéfini les relations israélo-arabes, mais a également eu des conséquences mondiales, influençant les politiques énergétiques, les relations internationales et le processus de paix au Moyen-Orient. Cette guerre a marqué une étape importante dans la reconnaissance de la complexité du conflit israélo-arabe et de la nécessité d'une approche équilibrée pour sa résolution.
En 1979, un événement historique a marqué une étape majeure dans le processus de paix au Moyen-Orient avec la signature des Accords de Camp David, qui ont débouché sur le premier traité de paix entre Israël et un de ses voisins arabes, l'Égypte. Ces accords, négociés sous l'égide du président américain Jimmy Carter, ont été le fruit de négociations difficiles et audacieuses entre le Premier ministre israélien Menachem Begin et le président égyptien Anwar Sadate. L'initiative de ces négociations a été prise dans le sillage de la Guerre du Kippour de 1973, qui avait mis en évidence la nécessité pressante d'une résolution pacifique au conflit israélo-arabe prolongé. La décision courageuse d'Anwar Sadate de se rendre à Jérusalem en 1977 a brisé de nombreuses barrières politiques et psychologiques, ouvrant ainsi la voie à un dialogue direct entre Israël et l'Égypte.
Les pourparlers de paix, qui se sont tenus à Camp David, la retraite présidentielle dans le Maryland, ont été marqués par des périodes de négociations intenses, reflétant les profondes divisions historiques entre Israël et l'Égypte. L'intervention personnelle de Jimmy Carter a été déterminante pour maintenir les deux parties engagées dans le processus et pour surmonter les impasses. Les accords qui en ont résulté comprenaient deux cadres distincts. Le premier accord posait les bases d'une autonomie palestinienne dans les territoires occupés de Cisjordanie et de la bande de Gaza, tandis que le second accord menait directement à un traité de paix entre l'Égypte et Israël. Signé en mars 1979, ce traité a conduit Israël à se retirer de la péninsule du Sinaï, qu'il occupait depuis 1967, en échange de la reconnaissance par l'Égypte de l'État d'Israël et l'établissement de relations diplomatiques normales.
Le traité de paix israélo-égyptien a été une percée révolutionnaire, modifiant le paysage politique du Moyen-Orient. Il a signifié la fin de l'état de guerre entre les deux nations et a établi un précédent pour les futurs efforts de paix dans la région. Cependant, le traité a également suscité une vive opposition dans le monde arabe, et Sadate a été assassiné en 1981, un acte largement perçu comme une réponse directe à sa politique de rapprochement avec Israël. En définitive, les Accords de Camp David et le traité de paix qui a suivi ont démontré la possibilité de négociations pacifiques dans une région marquée par des conflits prolongés, tout en soulignant les défis inhérents à la réalisation d'une paix durable au Moyen-Orient. Ces événements ont eu un impact profond non seulement sur les relations israélo-égyptiennes, mais aussi sur la dynamique régionale et internationale.
Le Droit de Retour des Réfugiés Palestiniens
Le droit de retour des réfugiés palestiniens demeure un sujet complexe et controversé dans le cadre du conflit israélo-palestinien. Ce droit fait référence à la possibilité pour les réfugiés palestiniens et leurs descendants de retourner dans les terres qu'ils ont quittées ou dont ils ont été déplacés en 1948 lors de la création de l'État d'Israël. La résolution 194 de l'Assemblée générale des Nations-Unies, adoptée le 11 décembre 1948, mentionne que les réfugiés souhaitant rentrer chez eux devraient être autorisés à le faire et vivre en paix avec leurs voisins. Cependant, cette résolution, comme d'autres résolutions de l'Assemblée générale, ne possède pas la capacité de déterminer des lois ou d’établir des droits. Elle est plutôt de nature recommandative. Par conséquent, bien qu'elle ait été confirmée à plusieurs reprises par les Nations-Unies, elle n'a pas été mise en œuvre jusqu'à aujourd'hui.
L'Office de secours et de travaux des Nations Unies pour les réfugiés palestiniens au Proche-Orient (UNRWA), créé en 1949, soutient plus de cinq millions de réfugiés palestiniens enregistrés. Contrairement à la Convention de 1951 sur les réfugiés en général, l'UNRWA inclut également les descendants des réfugiés de 1948, ce qui augmente significativement le nombre de personnes concernées. Les accords de paix tels que ceux négociés à Camp David en 1978 ou les Accords d'Oslo de 1993 reconnaissent la question des réfugiés palestiniens comme un sujet de négociation dans le cadre du processus de paix. Toutefois, ils ne mentionnent pas explicitement un "droit au retour" pour les réfugiés palestiniens. La résolution du problème des réfugiés est généralement considérée comme une question devant être réglée par des accords bilatéraux entre Israël et ses voisins.



